David Junior, 35 anos de idade, faz um balanço positivo de sua atual fase profissional. No ar com a edição especial de Pega Pega, em que vive o bem-sucedido empresário Dom, o ator não esconde a realização com o papel do neurocirurgião Mauro na série Sob Pressão.
Participando do elenco desde a temporada Sob Pressão – Plantão Covid, encenada em 2020, David Junior seguirá na próxima fase da história, confirmada para 2022, e diz que o papel de médico é simbólico. “Como paciente, durante toda a minha vida, só tive um médico negro. Em um momento da vida, sofri um acidente de bicicleta, precisei de uma sutura e quando o médico chegou, eu – na minha ignorância – achei que fosse enfermeiro. Quando ele disse que era médico, meu choque foi imediato. Um absurdo, se você for pensar. Eu, como pessoa negra, não consegui codificar que um outro negro poderia ser médico. É uma profissão menos tangível para quem vem de periferia.”
O ator conta que encara sua imagem como um ato político e afirma que é significativo Sob Pressão contar com outros atores negros no elenco – Marcelo Batista vive o médico Gustavo e Bárbara Reis interpreta a enfermeira Lívia. “Quantas vezes não fui concorrente do Marcelo para um personagem? Quantas vezes não pudemos estar juntos em um elenco porque teria vaga apenas para um? Dividir a cena com atores negros é algo que transcende anos, anos e anos de tentar furar a bolha.”
Pai de Amora, que completará 1 ano em 12 de dezembro, David afirma ter esperança de que a filha cresça em uma sociedade com mais representatividade. “Quando era menino, eu me imaginava dando vida aos personagens dos desenhos que via na TV. Fico feliz em propagar a esperança e mostrar que com perseverança e amor, a gente muda a realidade dos nossos”, afirma o ator, que dublou a animação A Liga dos Monstros, prevista para chegar aos cinemas em fevereiro de 2022, além de ter apoiado a mulher, a atriz Yasmin Garcez, no desenvolvimento da atração infantil A Hora do Blec.
Nesta pandemia, você teve a chance de ser visto em dose dupla na TV – na edição especial de Pega Pega e nos capítulos inéditos de Sob Pressão. Na novela, você interpreta um empresário, ricaço, bem-sucedido. Considera isso significativo?
Todos os personagens são importantes e carregam um ato político à minha carreira. Em Pega Pega, tive a oportunidade de sair do estereótipo da subserviência imposta para o negro e ganhar um papel de empresário bem-sucedido, que fala francês, se veste bem e, apesar de ter sido criado longe de sua família biológica, consegue se reconectar com suas raízes e encontrar sua identidade Ele cresceu na Suíça. Imagina um homem negro crescendo num país majoritariamente branco? Dom foi meu primeiro personagem em uma trama com maior relevância dramática, além de estar de mãos dadas com uma equipe e elenco tão generosos, em que trabalhar era um deleite. Coleciono boas lembranças e bons amigos até hoje.
Você também ingressou para o elenco de Sob Pressão. Como foi gravar em tempos de quarentena?
Entrei para a equipe nos especiais de Plantão Covid. Para mim, foi um momento de tensão diário e permanente. Houve as testagens e distanciamento social dentro de um núcleo dramatúrgico. Ver como o SUS funciona, como o sistema público de saúde funciona traz uma empatia muito grande para o personagem e para mim como pessoa. Fiquei à flor da pele ao pensar como a população de baixa renda é vulnerável e dependente. Outra parte da nossa população não faz ideia do que é ser paciente do sistema público. A saúde pública não é do conhecimento de muita gente.
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