Uma solução potencial é o hidrogênio, uma fonte de energia que não emite dióxido de carbono durante o uso. Mas os altos custos de produção têm sido um obstáculo para sua adoção generalizada. Agora, um novo empreendimento em andamento na Austrália espera cortar os custos, usando um recurso abundante até então considerado sem valor: o lignito, também conhecido como carvão marrom. Um empreendimento em andamento na Austrália espera cortar os custos, usando um recurso abundante que até agora era considerado sem valor: carvão marrom.
Tim Howard é um minerador de carvão de 33 anos que mora a uma hora e meia ao sul de Sidney. A indústria de mineração é uma tradição regional e há muito tempo oferece oportunidades de emprego estável para as pessoas da área, incluindo Howard e seu pai. Mas agora, a onda global em prol da redução do carbono tem gerado preocupações sobre o futuro.
“É uma preocupação de que, com a forma como as questões ambientais estão progredindo, a indústria de mineração de carvão possa deixar de existir, talvez até mesmo antes do fim da minha carreira”, disse Howard. Ele acrescenta que, se tivesse um filho, não gostaria que ele trabalhasse na indústria.
Mas um futuro de baixo carbono pode não ser exatamente o fim da linha para os mineradores de carvão australianos. O país possui vastas jazidas de lignito, ou “carvão marrom”. Facilmente inflamável, o carvão marrom é considerado impróprio para exportação e tem sido usado apenas em usinas termelétricas locais. Empresas japonesas descobriram uma maneira de extrair hidrogênio do lignito, produzindo o que esperam que venha a ser um combustível de baixo custo do futuro.
Um consórcio de empresas lançou um projeto no estado australiano de Victoria, com o apoio dos governos de ambos os países.
O processo começa com o aquecimento do lignito. Isso desencadeia a liberação de vários gases, incluindo hidrogênio, dióxido de carbono e nitrogênio. O hidrogênio é então separado dos outros gases e purificado para uso. Levaram-se vários meses para que os engenheiros japoneses encontrassem uma maneira de purificar efetivamente o hidrogênio.
No entanto, a produção do hidrogênio foi apenas o primeiro desafio, já que também é necessário transportá-lo. Para isso, o hidrogênio precisa ser liquefeito e mantido a -253°C. Devido à temperatura de liquefação extremamente baixa, o elemento nunca foi enviado para o exterior até agora.
A solução: o primeiro cargueiro de hidrogênio liquefeito do mundo — construído pela fabricante japonesa Kawasaki Heavy Industries — é equipado com um tanque que possui uma estrutura térmica de revestimento duplo para evitar oscilações de temperatura durante o transporte. A primeira entrega ao Japão está programada no mais tardar até o início do próximo ano.
Kawazoe Hirofumi, gerente geral da firma Engenharia de Hidrogênio da Austrália, uma subsidiária da Kawasaki Heavy Industries, acredita que existe um grande potencial para o hidrogênio no país.
“Faremos tudo o que pudermos para garantir que, no futuro, as pessoas possam usar o hidrogênio como principal fonte de energia para geração de eletricidade”, diz ele. “Após a conclusão da fase piloto, revisaremos os resultados e começaremos a nos planejar para uma fase comercial maciça.”
Mas resta ainda uma dúvida: o que fazer com o dióxido de carbono liberado durante a produção do hidrogênio. O governo do estado de Victoria está na liderança dos esforços no desenvolvimento de tecnologia para capturar as emissões de CO2 e armazená-las no fundo do oceano. Pesquisadores acreditam que o fundo do mar na costa australiana de Victoria — que tem uma camada interna de rocha semelhante a uma esponja — seria adequado para capturar CO2, já que há também uma camada de escudo rochoso sólido logo acima, que vedaria o CO2 armazenado.
O governo de Victoria espera que o projeto piloto crie 400 empregos. E assim que avançar para a fase comercial, poderá gerar milhares de novas oportunidades.
“Ser capaz de encontrar um uso útil e ambientalmente sensível desse recurso poderá trazer riquezas e oportunidades para a comunidade”, disse o tesoureiro estadual Tim Pallas.
Caso o projeto seja um sucesso e leve a uma produção mais ampla de hidrogênio na Austrália, o elemento pode se tornar um dos principais produtos de exportação do país. Isso também pode vir a ajudar o Japão a dar um grande passo em direção à sua meta de redução de 46% nas emissões de gases de efeito estufa até 2030 em comparação com níveis de 2013.
NHK