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O objetivo de uma economia não é nem “criar empregos” e nem “proteger empregos”

Criar empregos é fácil; criar riqueza é bem mais difícil

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Há aquela famosa estória apócrifa de um engenheiro que, em visita à China, deparou-se com uma enorme equipe de operários construindo uma barragem com pás e enxadas.

Quando o engenheiro disse ao supervisor da obra que todo o trabalho poderia ser completado em poucos dias, em vez de em vários meses, caso os trabalhadores utilizassem escavadeiras motorizadas, o supervisor disse que não podia fazer isso, pois tal equipamento iria destruir vários empregos.

“Ah”, respondeu o engenheiro, “pensei que você estava interessado em construir uma barragem. Se o seu objetivo é apenas criar empregos, então por que você não coloca seus homens para trabalhar com colheres em vez de enxadas?”.

O “empreguismo” parece ser a principal política dos governos

As políticas governamentais e até mesmo a popularidade de um governo costumam ser avaliadas em termos de quantos empregos foram criados.

Quantas vezes escutamos políticos dizerem que irão fazer de tudo para “criar empregos”? Ou, mais ainda, com que constância eles dizem que farão de tudo para “proteger os empregos do povo”?

Ato contínuo, várias medidas intervencionistas passam a ser defendidas com a justificativa de que irão “criar empregos”. Restringir importações é visto como uma maneira de proteger e criar empregos domésticos. Subsídios e créditos tributários são frequentemente justificados como uma maneira de aumentar empregos no setor favorecido. Empréstimos baratos feitos por bancos estatais são defendidos por estimularem “o consumo e a criação de empregos”. Até mesmo o inchaço do funcionalismo público é visto como uma maneira válida de criar empregos.

Presidentes apontam com orgulho o número de empregos criados na economia durante seus mandatos. Supostamente, quanto mais empregos criados, mais bem-sucedida foi a administração. Ao que parece, nunca houve um programa de gastos governamentais cujos defensores não tenham ressaltado que ele “criou empregos”.

Em princípio, não há nada de errado com a criação de empregos. Trabalhar em um emprego é uma maneira importante por meio da qual as pessoas criam riqueza. Assim, a ênfase na criação de empregos é compreensível.

O problema é que as pessoas se esquecem de que ter um emprego não é um fim, mas apenas um meio. O que realmente queremos é criar mais riqueza, e empregos são apenas um meio para este fim.

Quando este fato elementar é esquecido, torna-se mais fácil ludibriar as pessoas com argumentos que elevam a criação de empregos a um fim em si mesmo. E o que é pior: esses argumentos frequentemente são utilizados para defender políticas que destroem a riqueza.

Criar empregos não é o problema

Qual é objetivo de qualquer atividade produtiva? Produzir a maior quantidade de valor possível utilizando os recursos escassos (inclusive o esforço humano) disponíveis.

Não importa o quanto tentemos revogar a escassez, ela nunca será abolida. Vivemos em um mundo de escassez. Nada é infinito. Dado que nenhum bem ou serviço é encontrado pronto do nada — todos eles precisam ser criados e trabalhados —, a escassez para sempre irá nos impedir de conseguir as coisas que desejamos. Por isso, sempre haverá trabalho a ser feito. Sempre haverá uma demanda a ser saciada.

Logo, criar empregos não é o problema. Esse é o ponto da estória do engenheiro na China. O problema é criar empregos nos quais as pessoas produzam o máximo de valor.

Se o objetivo de uma economia fosse apenas empregar a maior quantidade possível de pessoas, então a receita seria muito simples: bastaria o governo decretar a destruição de todas as máquinas do país e fechar completamente as fronteiras para as importações.

Por exemplo, se o governo banir os tratores e todos os modernos equipamentos agrícolas amanhã, ele criaria milhões de novos empregos no campo. Se o governo banir as máquinas e outros avançados processos automatizados de produção industrial, ele criaria milhões de novos empregos na indústria. Se o governo proibir todas as importações, ele criaria milhões de empregos na indústria, no campo e no setor de transportes. Se o governo banir ferramentas mecânicas e equipamentos modernos para a construção civil, outros milhares de empregos seriam criados.

Podemos ir além e abolir o uso de caminhões, trens, aviões e automóveis. Toda a carga teria de ser transportada no lombo de cada indivíduo. O número de empregos criados iria superar com ampla margem o número de empregos perdidos na indústria de transportes.

Não há dúvidas de que tamanha regressão compulsória na tecnologia geraria um grande número de postos de trabalho. Não é nenhum exagero dizer que, neste cenário, a taxa de desemprego seria zero. Consequentemente, desocupação é algo que não mais ocorreria com a população deste país. Todo e qualquer indivíduo estaria completamente atarefado tendo de produzir e transportar absolutamente todos os bens de consumo necessários para continuar vivendo. O “fantasma do desemprego” nunca mais assombraria esta população.

Sensacional, não?

Mas fica a pergunta: essa criação de empregos por acaso deixou a população mais rica? Aumentou seu bem-estar? Melhorou seu padrão de vida?

Criar valor é o segredo

É por isso que se concentrar apenas no número de empregos criados e ignorar o valor que está sendo criado por esses empregos é uma prática deletéria para a economia. Pode perfeitamente ser o caso de estes empregos estarem destruindo riqueza (como é o caso de vários cargos no serviço público).

Eis a verdade politicamente incorreta: todo o progresso econômico resulta do aumento da produtividade. Isso significa que o progresso econômico ocorre quando nos tornamos capazes de ofertar os mesmos — ou melhores — bens e serviços com menos trabalhadores.

Ao usar menos trabalhadores para produzir a mesma quantidade de bens e serviços, estes trabalhadores dispensados são liberados para aumentar a produção em outros setores econômicos, tendo agora novos empregos mais produtivos.

A incapacidade de compreender este fato como sendo a fonte de crescente prosperidade explica a enorme simpatia de políticos e pessoas comuns por políticas públicas destrutivas.

Na prática, ao recorrerem à justificativa da “criação de empregos”, políticos frequentemente implantam legislações que aumentam o esforço e o custo necessários para se produzir a mesma quantidade de bens e serviços.

Por exemplo, um dos argumentos para se restringir as importações é que isso irá criar (ou proteger) empregos domésticos. Pode até ser verdade — embora os estudos indiquem que não —, mas a realidade incontornável é que uma restrição nas importações irá encarecer a obtenção de produtos de maior valor (afinal, este é exatamente seu objetivo). O único motivo de um país importar produtos é que esta é a maneira mais barata de adquiri-los. São necessários menos trabalhadores para obter os produtos importados do que para produzi-los diretamente. Desta maneira, o livre comércio funciona como um avanço tecnológico, libertando os trabalhadores de empregos improdutivos e permitindo que eles aumentem a produção de bens e serviços naquelas áreas cuja demanda dos consumidores ainda não está saciada.

Por isso, restrições às importações criam empregos da mesma maneira que dinamitar ferrovias, explodir fábricas e exigir que trabalhadores usem enxadas em vez de escavadeiras motorizadas também criam empregos: com grande destruição de valor, riqueza e bem-estar.

De novo: o segredo do progresso não está na criação de empregos, mas sim na criação de valor. O segredo é criar riqueza, isto é, produzir bens e serviços de valor para os consumidores.

A destruição natural de empregos é algo positivo

Um dos grandes erros das políticas públicas que visam à criação de empregos é que elas não reconhecem que a competitividade e o progresso requerem uma maciça destruição de empregos

A perda de empregos, quando ocorre naturalmente, deveria ser tratada como uma medida de grande sucesso, e não de fracasso de uma economia. Quando a indústria, a agricultura e os serviços aumentam acentuadamente sua produtividade e passam a ser capazes de produzir cada vez mais com menos trabalhadores, tamanha eficiência deve ser comemorada, e não lamentada.

Nenhuma economia rica se desenvolveu “protegendo empregos”, pois a destruição de empregos representa o próprio sinal do progresso.

Se a ideia de “proteger empregos” houvesse prosperado lá atrás, não haveria nem carros (que acabaram com empregos na indústria de carroças), nem tratores (que acabaram com empregos manuais na agricultura), nem computadores (que não só acabaram com empregos na indústria de máquinas de escrever, como provavelmente destruíram mais empregos do que qualquer outra inovação tecnológica na história da humanidade), nem luz elétrica (que acabou com empregos na indústria de velas), nem smartphones (que a acabou com a indústria de telefones fixos e de celulares obsoletos) nem praticamente nada de moderno que existe hoje.

Por isso, automações e mecanizações maciças que tendem a tornar obsoletos determinados postos de trabalho não devem ser condenadas, mas sim abraçadas. Elas representam aumento da eficiência e redução dos custos de produção.

Ter um canteiro de obras repleto de peões que fazem o mesmo serviço que apenas um homem com uma máquina seria capaz de fazer não é um exemplo de economia pujante ou rica, mas sim de desperdício de recursos. A taxa de desemprego seria baixa, mas essa economia não estará criando riqueza de forma eficiente.

Conclusão

Economias ricas são aquelas cujos empregos produzem, utilizando o menor esforço possível, os bens e serviços que os consumidores desejam. Logo, de certa maneira, o objetivo nacional adequado seria ter o menor número possível de empregos — isto é, utilizar a menor quantidade de trabalho e esforço possíveis para produzir a maior quantidade de produtos.

É um erro tratar empregos como um benefício quando, não verdade, empregos são um custo de produção. Por isso, uma economia rica não é aquela que cria empregos como uma finalidade em si mesmos, mas sim aquela que cria empregos que geram valor. Criar empregos como um fim em si mesmo não agrega valor à economia. O objetivo não deve ser meramente criar empregos, mas sim criar empregos produtivos.

E os únicos indivíduos capazes de criar empregos produtivos são os empreendedores atuando em um arranjo de livre mercado, guiados pelo sistema de preços, buscando lucros e evitando prejuízos, e sempre tentando antecipar as demandas dos consumidores.

Quando empresas são bem-sucedidas em criar valor — isto é, satisfazem as demandas dos consumidores, que voluntariamente decidem adquirir os bens e serviços produzidos por essas empresas —, elas auferem lucros. Com lucros, elas podem investir mais para produzir mais. Haver cada vez mais empresas auferindo mais lucros e fazendo mais investimentos para expandir sua produção gera uma maior quantidade de bens e serviços a preços mais acessíveis. O benefício para o consumidor é direto. E, como efeito colateral, haverá um aumento genuíno da demanda por mão-de-obra. Quanto mais as empresas auferem lucros, investem, crescem e se expandem, mais mão-de-obra elas demandam e maiores salários elas podem pagar.

Essa é a dinâmica de uma criação de empregos natural e saudável.

Sendo assim, para estimular essa criação de empregos, a única coisa que o governo deve fazer é não atrapalhar: não tributar, não regular, não burocratizar, e não encarecer artificialmente a contratação da mão-de-obra. Acima de tudo, não implantar políticas públicas que visem à “criação de empregos”.

 

Mark Perry é pesquisador do American Enterprise Institute e professor de economia e finanças na Universidade de Michigan.

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