A influenciadora digital Jade Picon revelou esta semana que levou calcinhas descartáveis para o confinamento no BBB 22, e reacendeu o debate sobre moda, consumo sustentável e saúde da mulher.
Ainda não se sabe ao certo quantas peças Jade levou para a casa do BBB, quais os materiais das roupas íntimas, sua frequência de uso, ou até mesmo se ela tem alguma necessidade médica.
Essas peças, geralmente feitas de algodão ou tecido sintético, são usadas normalmente em hospitais, clínicas, spas e outros ambientes do tipo, como medida de higiene e de prevenção de contaminações. Após o uso, o produto é jogado lixo.
Qual a função dessas calcinhas descartáveis?
Especialistas explicam que o uso diário dessas peças íntimas não é algo comum. Normalmente, quem recorre a elas está passando por algum problema de saúde ou tem outro motivo específico. Por exemplo, quando a mulher vai fazer uma cirurgia, ficar em clínicas e centros estéticos, ou até mesmo durante o período menstrual, em substituição ao absorvente.
Além disso, há modelos, geralmente maiores, que funcionam como uma espécie de fralda, absorvendo o fluxo urinário e neutralizando odores, o que é útil para pessoas que têm problemas no sistema urinário.
“As calcinhas descartáveis são produzidas com materiais sintéticos, mais irritativos para a pele e com maior resíduo para o meio ambiente. Elas foram projetadas para pessoas com incontinência urinária, pós-parto, pós-cirúrgico”, explica a médica ginecologista e obstetra Larissa Cassiano.
“Quem opta por ela vê na praticidade um motivo para o uso, mas não se recomenda utilizar esse produto diariamente pela possibilidade de infecções ginecológicas, assaduras e irritações na pele”, diz a médica.
De que são feitas as peças?
Na internet, modelos dos mais diversos tipos e marcas são encontrados, com preços que variam de 20 a 140 reais por pacote. As calcinhas descartáveis mais caras são feitas de algodão e as mais baratas, de tecidos sintéticos (TNT, poliéster, polipropileno).
“Esses materiais [os tecidos sintéticos] são derivados do petróleo e do plástico, uma indústria super questionável. Por isso, esse tipo de material é de menor durabilidade e de qualidade inferior, o que faz com que essas peças durem por muito menos lavagens que peças de fibras naturais”, explica Giovanna Nader, comunicadora socioambiental e autora do livro “Com que Roupa? Guia Prático de Moda Sustentável”.
Tecidos de fibras sintética levam em média de 400 a 450 anos para se decompor na natureza, explica Nader. Já as peças mais caras, de algodão, são biodegradáveis, ou seja, podem ser decompostas por bactérias ou outros organismos vivos. Mesmo assim, a especialista afirma que o uso de tais modelos não é isenta de impactos ambientais.
O uso diário traz algum benefício? Existe algum risco?
Para a médica Larissa Cassiano, casos de uso diário da peça sem indicação médica não são comuns. Ela afirma que nunca soube de algo do tipo. Além de ser um material caro, Cassiano explica que o uso de calcinhas de fibras sintéticas e de material plástico reduz a troca de oxigênio da região íntima.
“A região íntima é uma área naturalmente cheia de dobras que naturalmente já tem um atrito, suor, e pouca ventilação. O risco de infeção e assaduras é muito grande”, alerta a ginecologista.
Até mesmo pessoas que possuem algum problema de saúde não utilizam a peça por muito tempo. Cassiano ressalta que pessoas que têm incontinência urinária utilizam peças do tipo com material absorvente apenas num período de transição do tratamento, e não diariamente.
“Para a incontinência, a calcinha descartável não é a única opção. Além dessa peça, nós temos a fralda, muito utilizada por idosos acamados. A calcinha não é nenhuma exigência”, explica.
Já para a especialista em moda sustentável, o uso constante das peças não é necessário nem financeiramente nem ambientalmente.
“Isso é um item totalmente antiecológico. A gente não precisa dele. É a mesma coisa de uma sacola plástica. Nós nunca sentimos falta da calcinha descartável. O capitalismo e o consumismo está colocando um outro item na nossa vida que a gente não precisa”, diz Nader.
O que a alta pela procura da peça diz sobre consumo, moda e influência?
Essa não foi a primeira vez que uma peça de roupa associada à Jade Picon e o BBB explodiu nas redes. Depois que apareceu com um biquíni de crochê no reality, uma peça semelhante foi exposta à venda em uma feira de Belém. A imagem viralizou na internet.
Para Giovanna Nader, a influência da participante ressalta a necessidade do debate sobre moda sustentável e consumo consciente.
“Estamos num momento de consumo excessivo. O mercado da moda é o quinto mercado mais poluente do mundo. A cada segundo um caminhão cheio de roupa é queimado ou descartado em aterros ou lixões. Em menos de 24 horas as buscas no Google sobre calcinhas descartáveis estão lá em cima. Imagina se isso vira uma moda?”, alerta Nader.
G1