Gazeta do Povo
No mesmo dia da homologação oficial de sua candidatura a reitor da Universidade Estadual de Londrina (UEL), cidade do interior do Paraná, o professor de História Gabriel Giannattasio se tornou alvo de ameaças de morte. Cartazes com uma imagem do professor e os dizeres “Expulse o fascismo da universidade, morte ao candidato à reitoria fascista” foram espalhados pelo campus. Não se sabe ainda quem é o responsável pela ação, mas imagens de segurança da própria universidade poderão ajudar a identificar os autores.
A motivação, segundo Giannattasio, estaria ligada ao fato de que ele é conhecido por defender que a universidade seja um espaço de debate plural de ideias, inclusive conservadoras. Há alguns anos, ele tentou implantar dentro da UEL um projeto chamado Casa da Tolerância, que acabou sendo alvo de ataque de militantes de esquerda dentro da própria universidade. “Por mais que seja um ato de uma pessoa ou de um pequeno grupo certamente ele tem a condescendência de um setor significativo da universidade. É um ato que mostra que a intolerância vem crescendo. Antes eram só as críticas e os cancelamentos, mas agora estão pedindo a morte de pessoas”, diz o professor.
Ele conta que na terça-feira (22) recebeu um telefonema de um colega relatando que um cartaz com a foto dele teria sido fixada numa parede do Centro de Ciências Exatas da UEL. Após o material ter sido fotografado, acabou sendo retirado. Na quarta-feira (23) pela manhã, o incidente foi mencionado em uma reunião com a Comissão Eleitoral e os demais candidatos à Reitoria da UEL.
Giannattasio pediu para que, caso outros materiais similares aparecessem, não fossem retirados para que se pudesse realizar perícia no local. No mesmo dia, durante a tarde, mais cartazes foram encontrados em outras áreas da universidade. O professor, então, registrou um boletim de ocorrência sobre a ameaça sofrida. O professor disse ainda que um processo administrativo deverá ser aberto pela UEL para investigar o caso.
Casos de intolerância ideológica podem aumentar
Autor do livro “O Livro Proibido: Totalitarismo, Intolerância e Pensamento Único na Universidade”, Giannattasio diz que a ameaça não o assustou. Segundo ele, a universidade é extremamente permeável a tensões políticas, especialmente em anos eleitorais. Assim, era previsível a ocorrência de mais casos de intolerância. “Por mais que isso possa ser uma iniciativa de um só aluno, funcionário ou professor, essas ações foram estimuladas pela inoperância em combater a intolerância dentro do campus, situação que nós já vínhamos alertando há tempo”, explica o professor.
Ele recorda que tentou promover, juntamente com outros professores e alunos, o debate de ideias conservadores ou perspectivas que fugissem da tradicional análise crítica em voga nas universidades, mas sofreu com a perseguição ideológica. “Em 2019 tentamos passar um documentário da Brasil Paralelo sobre 1964, mas dezenas de pessoas, que nem tinham visto o filme, ficaram batendo na porta da sala, cuspiam. Tivemos de sair por um barranco, sob vaias”, recorda.
Para ele, embora as universidades devessem ser um ambiente de debate plural de ideias, a realidade é outra. “Há um clima de cancelamento e intolerância. Infelizmente, a universidade não é um exemplo de tolerância. Essa ameaça é a prova empírica que isso chegou a um grau extremo. Agora não é só ‘cancelar’, mas matar”, diz.
Além da chapa encabeçada por Giannattasio, outras três chapas disputam os cargos de reitor e vice-reitor da universidade. A campanha só começou oficialmente esta semana, com a homologação oficial dos candidatos, na terça-feira (22). De acordo com as regras da eleição, é proibida a distribuição de santinhos, uso de camisetas ou carros de som nas campanhas. A comissão eleitoral também padronizou o tamanho de faixas e regras para materiais impressos. Não é permitida a fixação de cartazes nas paredes da universidade. O primeiro turno da eleição está previsto para o dia 12 de abril.