Por que sempre se fala em capitalismo e não em economia de mercado? A simples menção da palavra capitalismo afasta muita gente.
É uma pergunta crítica que muitas vezes me fizeram. Em primeiro lugar: sim, é verdade.
Para muitas pessoas, “capitalismo” soa mal, provavelmente em todo o mundo. Este é certamente o caso dos 14 países em que encomendei à Ipsos MORI uma pesquisa de atitudes em relação ao capitalismo. A pesquisa mostrou que o apoio ao capitalismo aumenta significativamente em todos os lugares se você evitar mencionar a palavra irritante em si e formular perguntas para descrever o que o capitalismo significa usando outras palavras. Isso não foi uma surpresa, era exatamente o que eu esperava, mas o que é muito mais interessante é que em nove dos 14 países pesquisados não havia maioria a favor do capitalismo, mesmo quando a palavra não era usada nas perguntas. Na maioria dos países, as visões anticapitalistas obtiveram mais apoio do que as visões pró-capitalistas, mas não seria mais sensato dispensar a palavra se ela irrita tantas pessoas? A economista Deirdre McCloskey, por quem tenho grande estima, sugeriu anos atrás que o termo “inovação” fosse usado como alternativa porque descreve melhor o que realmente significa “capitalismo”. Não virou moda. É difícil, quase impossível, introduzir um termo completamente novo no debate público. Afinal, 99,99% das pessoas nem sabem o que significa uma palavra tão nova.
Em alguns países, as pessoas preferem falar de “economia de mercado”. Na Alemanha, ouve-se frequentemente falar de “economia social de mercado”. No entanto, o significado do termo evoluiu desde que foi originalmente popularizado por Ludwig Erhard, o ministro da Economia alemão na época (1949-1963). Para Erhard, “economia social de mercado” não significava – como é interpretada hoje – uma terceira via entre o socialismo e o capitalismo. Quanto mais livre a economia, Erhard estava convencido, mais social ela seria. No final da década de 1940, a fórmula da “economia social de mercado” serviu sobretudo para tornar o retorno ao sistema econômico capitalista aceitável para os alemães, o que não era de modo algum uma conclusão inevitável na época.
Em contraste com seu significado moderno, Erhard via a economia de mercado como “social”, independentemente dos esforços posteriores de redistribuição, dos quais ele era cético. Quanto mais bem-sucedida fosse a política econômica, mais supérflua seria a política social no sentido tradicional.
No entanto, o termo “economia social de mercado” há muito foi usurpado por seus oponentes. Hoje, todos na Alemanha são (aparentemente) a favor da “economia social de mercado”. Até representantes do partido anticapitalista de extrema esquerda, Die Linke, são a favor. É por isso que prefiro falar sobre capitalismo, embora talvez um termo como “economia empresarial” capte melhor a essência do que quero dizer com “capitalismo”.
Se um termo tem conotações negativas, não adianta se concentrar apenas em mudar a palavra. Ao contrário. Aqueles que evitam uma palavra porque têm medo de críticas apenas mostram sua insegurança e fraqueza interior. E não há a menor razão para se sentir inseguro ou fraco. Antes do surgimento do capitalismo, a maioria das pessoas no mundo vivia em extrema pobreza: em 1820, a taxa era de 90%. Hoje, caiu abaixo de 10%. O que é notável é que, nas últimas décadas, o ritmo de redução da pobreza acelerou mais do que em qualquer período anterior da história humana. Em 1981, a taxa ainda era de 42,7%; em 2000, caiu para 27,8% e em 2021 ficou abaixo de 10%. Com esse histórico, nenhum defensor do capitalismo deve sentir a necessidade de se envergonhar ou se esconder.
Muitas vezes ouvi pessoas “defenderem” o capitalismo argumentando: “Sim, o capitalismo não é de forma alguma ideal e tem muitas desvantagens, mas o resultado final é que ainda é melhor do que outros sistemas”.
Por que tão defensivo?
Tive boas experiências sendo ofensivo em defesa do capitalismo. Falo em eventos ao redor do mundo sobre este tema e muitas vezes uso minha camiseta “Eu amo o capitalismo”. Embora haja muitos jovens na platéia que tendem a ser anticapitalistas, eles tendem a respeitar o fato de que há alguém ali que professa suas opiniões com clareza e não mede palavras. E se o termo provoca alguns, melhor ainda: porque podemos iniciar imediatamente o debate sobre as vantagens do capitalismo!
Rainer Zitelmann é historiador e sociólogo. Ele é empresário e autor de mais de 20 livros. Seus livros mais recentes são The Rich in Public Opinion e The Power of Capitalism.