Jovem Pan
Se no plano nacional os caciques de PSDB, MDB, Cidadania e União Brasil enfrentam dificuldades para definir um candidato competitivo para enfrentar o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Lula (PT), a configuração que vem sendo desenhada nos Estados é mais um exemplo da barreira que terá de ser superada pela chamada terceira via.
A poucos meses das eleições, candidatos tucanos e do União, que surgiu da fusão entre DEM e PSL, abandonaram o barco do autodenominado “centro-democrático” e declararam apoio a Bolsonaro. É o caso do Mato Grosso, onde o mandatário iniciou um movimento de aproximação com o governador e pré-candidato à reeleição Mauro Mendes (União Brasil). “A harmonia entre mim e o Mauro Mendes interessa não só para Mato Grosso, mas para todo mundo. Estamos fechados e vamos tocar o barco aí”, declarou Bolsonaro em entrevista à rádio Metrópole de Cuiabá.
Apesar de se autointitular de centro-direita e tentar se desvencilhar do bolsonarismo, o União Brasil ainda abriga boa parte dos apoiadores do presidente. No início de maio, a sigla desistiu da aliança com PSDB, Cidadania e MDB e resolveu lançar um candidato próprio à presidência, Luciano Bivar – no anúncio, o cacique disse que se recusa “a aceitar os extremos que estão estabelecidos”, omitindo que em 2018, à frente do PSL, entregou o comando do partido ao grupo do então deputado federal Jair Bolsonaro.
Apesar da postulação do correligionário, Mendes diz que não vai apoiá-lo por acreditar que Bolsonaro é “o melhor caminho” para o país. “O nosso partido tem um candidato lançado a presidente, então coloca aí uma certa dificuldade. Mas a minha opinião pessoal é que eu e nosso partido deveríamos apoiar o presidente Bolsonaro”, disse o governador mato-grossense à Jovem Pan. “É muito difícil em um país tão grande e tão heterogêneo se construir uma alternativa que tenha visibilidade nacional, ainda mais quando se tem duas candidaturas fortes polarizando a cena e o debate político”, acrescentou Mendes.
O governador do Amazonas, Wilson Lima (União Brasil), também já reafirmou publicamente seu apoio a Bolsonaro. Em Rondônia, o governador Marcos Rocha disputa a reeleição pelo União Brasil. Entre seus adversários está o senador Marcos Rogério (PL), um dos membros governistas da CPI da Covid-19. Ambos mantém o apoio ao presidente. Bolsonaro, no entanto, ainda não se manifestou sobre qual candidatura vai endossar.
O ex-secretário de Habitação e Infraestrutura de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel, deve disputar o governo do Estado pelo PSDB e declarou à imprensa local que está “fechado com Bolsonaro”. Há, aí, outro enrosco: os tucanos têm o ex-governador de São Paulo João Doria como pré-candidato à Presidência da República.
O movimento nos Estados isola ainda mais os postulantes da terceira via, que patina nas articulações pela escolha da candidatura única. Nesta semana, as siglas definiram que o nome será escolhido com base em pesquisas quantitativa e qualitativa, que, além de apontar as intenções de voto, mede, entre outras coisas, a rejeição aos candidatos. Entre emedebistas, tucanos e quadros do Cidadania, há quem diga que a definição deu sobrevida ao grupo. Aliados de Doria, porém, acompanham os desdobramentos com preocupação e afirmam que os critérios estabelecidos tendem a beneficiar única e exclusivamente a senadora Simone Tebet (MDB-MS).
Enquanto o ex-governador e a parlamentar dão sinais de que não abrirão mão de suas candidaturas, as pesquisas indicam que mesmo após a saída do ex-juiz Sergio Moro da corrida presidencial, a terceira via não teve crescimento significativo. Lula lidera a corrida ao Planalto com 44% das intenções de voto, de acordo com o levantamento XP/Ipespe divulgado nesta semana. Bolsonaro aparece em segundo lugar, com 32%, seguido por Ciro Gomes (PDT), com 8%. Como se vê, o centro-democrático tem um longo caminho a percorrer.