“Eu sabia que isso significaria uma passagem só de ida para o inferno”, disse o ex-mafioso Anthony Raimondi durante entrevista ao New York Post em 2019.
Raimondi, um gângster aposentado da máfia Colombo, ajudou a matar o Papa João Paulo I com cianeto para esconder uma fraude financeira em 1978. Segundo o ex-mafioso, sobrinho do lendário ‘padrinho’ Lucky Luciano, o pontífice havia ameaçado desmascarar essa grande trama financeira dirigida por funcionários do Vaticano.
O golpe de um bilhão de dólares envolveu um agente do Vaticano que falsificou as participações da Igreja em empresas americanas de primeira linha, como IBM, Sunoco e Coca-Cola. Os mafiosos então supostamente venderam os certificados de ações falsos para compradores desavisados.
Por esta razão, João Paulo I havia prometido expulsar Paul Marcinkus, que chefiava o Banco do Vaticano, e cerca de “metade dos cardeais e bispos do Vaticano”, sustenta o mafioso aposentado.
O pontífice foi envenenado apenas 33 dias depois de ser nomeado papa em 1978. Aos 28 anos, Raimondi foi à Itália para ajudar a cometer o crime de seu primo, cardeal Marcinkus.
Raimondi tinha uma missão: aprender os hábitos do pontífice e vê-lo ser sedado com uma xícara de chá envenenada.
Enquanto Raimondi esperava do lado de fora da sala, seu primo preparava a dose de cianeto. “Ele colocou o conta-gotas na boca de João Paulo I e apertou“, antes de fechar a porta e se afastar da cena do crime. A droga fez efeito imediatamente e João Paulo I caiu completamente inconsciente, diz o ex-mafioso. Depois que um assessor do pontífice percebeu que “o papa estava morrendo”, Marcinkus e outros dois cardeais envolvidos na trama correram “surpresos” como se não soubessem de nada. Logo depois, um médico do Vaticano certificou a morte de João Paulo I.
Eles usaram Valium e a toxina mortal para matar o papa sem dor – e para obter favores na vida após a morte, afirma Raimondi. Para provar que João Paulo I não sofreu, Marcinkus e seus companheiros Pietro Palazzini e Antonio Ribeiro, também seus primos, precisavam que Raimondi testemunhasse em seu favor diante de Deus. “Eles disseram que quando morrermos eu seria a testemunha deles”, disse Raimondi.
O corpo mal estava frio quando um novo plano foi concebido para matar seu sucessor, João Paulo II, que parecia pronto para agir contra os golpistas também. Assim Raimondi foi convocado de volta ao Vaticano e instruído a se preparar para um segundo assassinato.
“’Esse cara tem que ir também’, eles disseram. “De jeito nenhum”, eu disse. ‘O que você vai fazer? Continuar matando papas?”
Em última análise, João Paulo II decidiu não agir porque sabia que também morreria, disse Raimondi. Depois ele se tornou o segundo pontífice mais antigo da história moderna, até sua morte aos 84 anos em 2005.
Por fim, Raimondi explicou na entrevista que deixou a vida do crime organizado, e que lutava contra o câncer, enquanto todos os seus ex-colaboradores foram presos ou morreram ao longo do tempo.