É o governo de um inimigo meu
Lula diz que PEC do Lula não é do Lula e, com ajuda do Congresso cúmplice, repete a estratégia de não se responsabilizar por pautas negativas
(Cláudio Dantas, publicado no site O Antagonista em 09 de dezembro de 2022)
Na coletiva em que anunciou Fernando Haddad como ministro da Fazenda, Lula disse que a PEC do Lula não é do Lula.
“Essa PEC não é para o governo Lula, mas para fazer o reparo no orçamento do governo Bolsonaro, para garantir o mínimo necessário para as pessoas (…) É uma PEC do governo Bolsonaro.”
O petista não perde a mania de terceirizar responsabilidades quando a pauta é negativa.
Ontem, ao anunciar um suposto rombo de meio trilhão na conta de energia do atual governo, o GT da transição incluiu marotamente os R$ 368 bilhões do jabuti do Centrão na privatização da Eletrobras.
Também contabilizou injustamente os R$ 23 bilhões da Conta Covid, prejuízo assumido pelas distribuidoras após suspensão de cortes de energia por inadimplência durante a pandemia.
A iniciativa, que visava proteger famílias de baixa renda, foi determinada pela Aneel e acolhida pelo Executivo e pelo Legislativo. Uma lei com o mesmo conteúdo chegou a ser apresentada pelo petista Jaques Wagner.
A equipe de transição sabe disso tudo, mas preferiu ignorar. Assim como deu de ombros para as salas, equipes e dados oferecidos pelo Ministério de Minas e Energia.
Na verdade, o PT não quer transição, mas uma narrativa.
E a imprensa amiga prefere se deixar ludibriar pela promessa do presidente eleito de que será tratada com “mais respeito, mais decência, não lhe vai ser negada informação”.
“A Lei de Acesso à Informação vai funcionar 100%. O Portal da Transparência vai voltar a funcionar 100%. Não teremos a indústria da mentira, da desinformação, a indústria da fake news”, canta a sereia lulista, que mantém Janones em sua equipe.
Claro está agora que o adiamento do anúncio dos ministros, inclusive o de Haddad, não passava de uma estratégia para tentar retirar da PEC a digital do futuro governo — beneficiário prioritário.
Afinal, o texto original já foi modificado pelo Senado e o será pela Câmara, tornando deputados e senadores cúmplices do crime fiscal.
Lula concluiu a coletiva prometendo outra coletiva, daqui a duas semanas, para “apresentar à sociedade brasileira o que encontramos como resultado” da transição.
“Sem show de pirotecnia”, frisou. Um powerpoint não está descartado.
“O que queremos é que a sociedade saiba corretamente como está a saúde, a educação, ciência e tecnologia, como está a situação dos aposentados, dos trabalhadores, porque se nós não apresentarmos agora, seis meses depois estará nas nossas costas os desmandos feitos por este governo.”
Olha ele de novo avisando que a responsabilidade não será sua, mas de um inimigo.