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A inacreditável ‘cartilha antirracista’ do TSE

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O Tribunal Superior Eleitoral (TSE), sem dúvida, uma das nossas modalidades de jabuticaba, por meio da Comissão de Promoção de Igualdade Racial – outra esquisitice, em se tratando de um órgão que deveria cuidar apenas de organizar e garantir a lisura de eleições e que custa muito caro para os pagadores de impostos -, criou uma cartilha com expressões que seus iluminados membros consideram “racistas”, que devem ser evitadas pelos brasileiros. A inacreditável lista contém 106 palavras e termos “de cunho preconceituoso e discriminatório”, que precisam, segundo as mesmas doutas criaturas, ser substituídas por sinônimos na nossa língua.

A cartilha tenta explicar a origem de cada uma das expressões e justificar o seu banimento. O Coordenador de Promoção de Igualdade Racial do TSE, ministro Benedito Gonçalves, o mesmo que é tratado por Lula – a quem parece dedicar admiração e devoção – com tapinhas no rosto, explicou que o objetivo da cartilha é “promover a mudança de hábitos e comportamentos nas pessoas e facilitar a exclusão de expressões idiomáticas que possam embutir preconceito racial”,

A lista inclui desde vocábulos comumente utilizados cotidianamente, como as palavras esclarecer e denegrir, até expressões como humor negro, nega maluca, lista negra da cor do pecado, que, segundo a esquerda se esforça para incutir em cabeças divorciadas do hábito salutar de pensar, se constituem em um perigo, por sua suposta associação negativa com a cor da pele.

Para os militantes autores da cartilha, a palavra esclarecer, por exemplo, embute a ideia de que para explicar alguma coisa é preciso clarear, pois as coisas negras implicam dúvidas e desconhecimento. Por isso, recomendam trocar esclarecer por sinônimos, como explicar ou elucidar. Já humor negro e da cor do pecado, expressões bastante comuns e consagradas pelos usos e que já foram empregadas até em obras literárias, musicais e dramatúrgicas, trariam uma conotação preconceituosa.

Por exemplo, segundo a cartilha, a expressão humor negro teria uma conotação de associar as pessoas de pele escura a “algo fora do padrão de normalidade”, devendo por isso mesmo ser substituída por humor ácido; por sua vez, a expressão da cor do pecado, que poderia representar um elogio à cor da pele negra, seria negativa, uma vez que pecado se associa a alguma ação mal vista e que deve ser evitada, por sua associação com o vício da luxúria. Os autores da cartilha querem que a expressão seja abandonada, por carregar consigo o histórico do “comportamento abusivo adotado pelos homens brancos que violentavam sexualmente mulheres escravizadas e encaravam com naturalidade tal comportamento, inclusive, atribuindo a responsabilidade pelos atos de violência às vítimas”. E assim acontece com cada um dos 106 termos apresentados na inacreditável lista, com uma alegada explicação de seus históricos e sugestão de como devem ser substituídos.

A que ponto os justiceiros da “dívida histórica” chegaram! Mais se parecem comediantes, tamanha a bizarrice de suas propostas!  Quanto custou, está custando e ainda vai custar para os pagadores de impostos esse tipo de desvio de suas atribuições por parte de autoridades? É para isso que existe essa exótica entidade chamada de justiça eleitoral?

Ora, a linguagem é uma ordem espontânea, um fenômeno que é fruto da evolução lenta, ao longo de séculos, dos usos, tradições e costumes e não resulta de nenhum tipo de planejamento, nem por parte de especialistas e muito menos pela ação política em sociedades livres.

Mas é fácil entender os porquês escondidos no método dos “progressistas” para interferirem na linguagem: é que faz parte da alma do movimento revolucionário estimular a divisão entre pessoas de acordo com cor da pele, sexo e comportamento sexual, tendência política, religião, condições econômicas, etc. É simplesmente a velha dialética comunista, de conhecimento geral, sem a qual a revolução, seja pela violência, como no passado, seja pelo domínio da cultura, como nos nossos dias, simplesmente não consegue manter-se de pé.

Quando vi essa notícia da cartilha do TSE, lembrei-me de um artigo que publiquei em setembro de 2007 no extinto Jornal do Brasil, onde mantinha uma coluna semanal. Vou reproduzi-lo abaixo, para demonstrar que esse estímulo ao ódio entre irmãos é recorrente. Eles não desistem.

LINGUAGEM PARA EMBALAGEM

(Publicado em 3/9/2007)                                                   

O método mais sutil e eficiente, fartamente utilizado por regimes totalitários de todos os matizes, para cooptar um povo e moldá-lo a objetivos políticos predefinidos, é o controle do vocabulário. Exemplo atual é a inoculação subliminar, pelos sectários de Gramsci – Il Gobbo, de uma linguagem-embalagem para adornar, com fitas “politicamente corretas”, caixas de conteúdo literalmente vazio. Esse vocabulário – que o ex-ministro petista Nilmário Miranda tentou tornar obrigatório com uma absurda cartilha paga com o nosso dinheiro -, taramelado ininterruptamente em bares, reuniões de artistas e “intelectuais”, passeatas, “atos”, “abraços”, universidades e assembleias de todos os tipos, lido, ouvido e visto incessantemente, acaba criando em suas vítimas o hábito de não pensar, substituindo a lógica pelos chavões e palavras de ordem. Multidões passam a se comportar como autômatos, marionetes, fantoches e bonifrates, escravas de um algoritmo, mas sem raciocínio, lógica e vontade própria. Isto serve bem à “Causa”.

A massificação calculada de palavras doninhas (mamíferos que sugam o interior dos ovos com um minúsculo furo, deixando-os aparentemente intactos), como as batizou o economista e cartunista Scott Adams, demarca uma conveniente área cinzenta entre o bom comportamento moral (o socialismo, naturalmente) e a delinquência (a liberal-democracia). A senha maga tem seis letras – é a palavra “social”, que, quando pronunciada e confirmada, assegura conduto sem patrulhamento a conselhos e assembleias, reuniões e debates, com a cumplicidade da mídia da insídia.  O dialeto injetado em milhões de marionetes, bombardeado diariamente e papagueado por apresentadores de TV e repórteres, ao ser progressivamente absorvido pela maioria das pessoas, transforma-se em prática consuetudinária, que exigirá muitos anos para ser desmascarada em sua farsa.

Quem não usa as expressões mágicas é carimbado como politicamente incorreto e acossado, a ponto de desejar enfiar-se em um buraco e chorar lágrimas de chafariz. Eis alguns exemplos desses verbetes, em ordem alfabética: afro-descendente, aquecimento global, articulação, cadeirante, cidadania, comunidade, consciência (ecológica, política), conservador, cotas, deficiente (visual, auditivo), desigualdades, desmonte do Estado, direitos (civis, humanos, de minorias, sociais), discriminação, dominação, elites, entidades, exclusão, função social da terra, grande capital, grande mídia, história (de vida), Império, inclusão, inconsciente coletivo, justiça social, libertação, mãe-terra, mesa de negociações, minorias étnicas, mobilização, modelo (perverso, concentrador), movimentos sociais, mudanças, opção (sexual, pelos pobres), parceria, patrimônio público, políticas (afirmativas, públicas), potência hegemônica, preconceito, privataria, progressista, projeto de país, reforma agrária, relação, responsabilidade social, soberania, sociedade (civil organizada), sucateamento (da universidade pública). E há muitos outros, Madonna mia!

Assim, ser contra cotas em universidades garante o carimbo de conservador; opor-se ao matrimônio entre pessoas do mesmo sexo, de preconceituoso; ser a favor da exigência de diploma superior para o presidente do país (já que se requer o de curso médio para um gari), de elitista ou dondoca; sustentar que a função social da terra é uma completa tolice, de servo dos latifundiários… As doninhas jamais o perdoarão e o precipitarão nos abismos tenebrosos e lôbregos do Tártaro, para padecer em eterno choro e ranger de dentes.

Por isso, não há oposição efetivamente liberal-conservadora no Brasil e oscilamos entre PT e PSDB, ou seja, entre o apetite e a apetência… Automatizada, a maioria das pessoas passou a não ter opinião própria, e muitas das que a têm, sendo implacavelmente policiadas pelas doninhas, receiam cair em desgraça e entram no jogo. Pobre país.

Pois é, amigos! Mas encerro com o que acredito serem duas boas notícias.

A primeira é que a chamada direita parece que começa a acordar para a existência da guerra cultural, que durante muitos anos ela esteve aí, na cara de todos, disfarçada de boas intenções, propagada há décadas pela Rede Globo e pelos cadernos ditos “culturais” de todos os jornais. Antes tarde do que nunca.

E a segunda é que é fácil perceber, mesmo nas camadas menos instruídas e informadas da população, uma enorme aversão a essa e outras iniciativas da esquerda no campo da guerra cultural. Isso nos anima a acreditar que não vingarão e tenderão a ser desmontadas e desmoralizadas com o tempo.

 

Ubiratan Jorge Iorio é economista, professor e escritor.

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