As últimas estimativas para as principais economias latino-americanas mostram um continente que enfrenta uma década perdida. O crescimento do PIB da região foi rebaixado mais uma vez para modestos 1,1% em 2023, com aumento da inflação e enfraquecimento do investimento fixo bruto. Considerando que a região já estava se recuperando em um ritmo mais lento do que outros mercados emergentes, as perspectivas são extremamente preocupantes.
As expectativas de baixo crescimento e alta inflação são ainda piores quando consideramos que as estimativas ainda consideram um vento favorável vindo do aumento dos preços das commodities e mais exportações devido à reabertura da China.
Como uma região com tanto potencial como a América Latina pode estar condenada à estagflação? A resposta é simples. A ascensão de governos populistas na Colômbia, Chile e Brasil aumentou as preocupações com a segurança dos investidores, direitos de propriedade e disciplina monetária.
Espera-se que a Argentina apresente um modesto crescimento do PIB de 0,2% em 2023, com inflação de 95% e uma dívida em relação ao PIB de 72%. Anos de excessos monetários e fiscais destruíram o poder de compra da moeda local e dilapidaram as perspectivas de crescimento real. Na Argentina, a pobreza aumentou para 36,5% da população e as políticas do governo apostam no intervencionismo, controle de preços e aumento de impostos com o esperado resultado negativo. Apesar do vento favorável da alta demanda por soja e cereais globalmente, a Argentina mergulha mais fundo no território venezuelano, onde o consenso espera outro ano de recuperação fraca de 3%, depois de destruir 80% da produção em uma década, com uma enorme inflação, 132%.
O problema? Os novos governos do Chile e da Colômbia estão anunciando políticas que se assemelham às da “esquerda peronista” na Argentina e o governo Fernández na Argentina está cada dia mais parecido com a Venezuela de Maduro.
Espera-se que o Chile não apresente crescimento em 2023, apesar de um preço estimado do cobre mais alto e uma inflação de 15%. A Colômbia, que apresentou a recuperação mais forte da crise da covid-19 até 2022, na qual o consenso espera um crescimento de 7%, teme parar nos trilhos e entregar um crescimento do PIB de 1,6%, com inflação elevada, perto de 7%.
No Brasil, o consenso espera um crescimento fraco de 0,9% com inflação de 5%. Não parece tão ruim quanto a Argentina, mas o primeiro grande anúncio do recém-eleito presidente Lula já disparou todos os alarmes. Lula afirmou que quer mudar a constituição para aumentar o limite de gastos e aumentar ainda mais os gastos do governo. A moeda brasileira e os títulos de 10 anos reagiram agressivamente a esse risco porque todos devem se lembrar que o “milagre econômico” de Lula, uma década atrás, veio dos preços do petróleo massivamente altos e, quando a bonança das commodities acabou, sua sucessora, Dilma Rousseff, levou o país a uma crise profunda. onde os gastos dispararam e o crescimento estagnou.
Você pode dizer que a ascensão do populismo na América Latina é consequência das fracassadas políticas liberais clássicas implementadas antes, mas isso seria um grave erro. A maioria desses países não viu economias abertas e liberais, mas sim estados corporativistas. O estatismo fracassou e mais estatismo fracassa ainda mais rápido.
Os investidores globais veem o enorme potencial da América Latina. No entanto, quando os governos começam a impor políticas intervencionistas, colocam em risco direitos de propriedade com ameaças de expropriação e ao mesmo tempo aumentam massivamente os desequilíbrios monetários imprimindo moedas sem demanda global real e com demanda local diminuindo, a combinação é destrutiva.
Por que os cidadãos votam em políticos que implementam políticas confiscatórias e extrativistas? Em muitos debates econômicos na mídia latino-americana pode-se ouvir a palavra “redistribuição” repetida incessantemente. Muitos acreditam que a riqueza é como um bolo que pode ser cortado e distribuído à vontade, mas ignoram que a riqueza se cria ou se destrói, ela não fica uniforme.
As políticas intervencionistas destroem a riqueza de três maneiras: primeiro, atacando instituições independentes e introduzindo decisões políticas aleatórias na segurança legal e do investidor que corrói o potencial de crescimento, investimento e emprego. Em segundo lugar, aumentando os impostos sobre o setor produtivo para pagar subsídios maciços pagos em uma moeda constantemente depreciada, o que cria um duplo prejuízo de menor crescimento, empresas locais mais fracas e uma subclasse dependente que raramente deixa esta condição. O setor produtivo acaba forçado a operar na economia clandestina para evitar impostos confiscatórios. Em terceiro lugar, o intervencionismo destrói o poder de compra da moeda local ao quebrar todas as regras de uma política monetária prudente e ao financiar um governo cada vez maior imprimindo uma moeda constantemente desvalorizada. A combinação desses três fatores significa pobreza e estagnação.
Por que os governos intervencionistas fazem isso quando sabem – e eles sabem – que não funciona?
A destruição monetária é a maneira mais fácil e eficaz de nacionalizar uma economia. A impressão de moeda é uma forma de expropriação da riqueza, pois a criação de dinheiro nunca é neutra, ela beneficia o governo e prejudica os salários reais e os poupadores.
Por que governos “populistas” imporiam políticas que perpetuam a pobreza e prejudicam o povo? O intervencionismo não visa aumentar a prosperidade, mas assumir o controle total de uma nação. As três políticas mencionadas visam obter o controle total de um país e tornar a população dependente, não gerar crescimento e nem melhorar as condições sociais.
As políticas extrativistas e confiscatórias não são medidas sociais, elas são profundamente antissociais. O pior é que, uma vez implementadas, torna-se difícil desfazê-las. Devemos aprender estas lições para livrar nosso país desta sina.
Daniel Lacalle (PhD) é gestor de fundos e professor de economia global na IE Business School em Madrid. Ele é autor dos livros best-sellers Freedom or Equality; Escape from the Central Bank Trap; The Energy World Is Flat e Life in the Financial Markets.