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Vinho Mariani, a história do Bordeaux com cocaína que encantou o Papa Leão XIII

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Antes que seus riscos e efeitos fossem conhecidos, cientistas e psicólogos ficaram fascinados com os efeitos no organismo humano da folha de coca e sua síntese química. Muitos dos intelectuais do final do século XIX e membros da alta sociedade exaltavam suas propriedades revigorantes e até analgésicas, que consideravam quase milagrosas antes de conhecer seus efeitos devastadores.

Psicólogos e médicos escreveram artigos exaltando as propriedades da substância. Logo, alguns químicos e fabricantes de bebidas, como JS Pemberton, passaram a utilizá-lo em bebidas e tônicos de consumo popular, como a Coca-Cola, que, na época, continha a síntese química da folha de coca. Pastas de dente, infusões de suas folhas, xaropes e elixires proliferaram na segunda metade do século XIX. No entanto, o produto pioneiro e de maior sucesso no mundo chamava-se Vinho Mariani, em homenagem ao seu inventor, Angelo Mariani, e era um caldo Bordeaux contendo extratos de folha de coca (e depois cloridrato de cocaína) e que causou furor entre os escritores, generais, monarcas e até o Papa Leão XIII.

Angelo Mariani foi um químico nascido na Córsega que conheceu o trabalho do antropólogo e cientista Paolo Mantegazza, que, em 1854, se estabeleceu na Argentina e descobriu como os camponeses locais realizavam tarefas árduas por longas horas sem parar de mastigar algumas folhas ásperas e duras. Mantegazza resolveu investigar quais eram as propriedades daquelas folhas e conseguiu isolar quimicamente a cocaína. A partir desse momento, experimentou seu consumo em humanos (incluindo ele mesmo), até escrever um extenso tratado sobre as virtudes medicinais da coca.

Uma propaganda dos benefícios do Vinho Mariani

Em 1859, aquele estudo foi seguido por muitos outros pesquisadores fascinados pelo poder da planta e da substância, da qual até Sigmund Freud era um defensor. Angelo Mariani, que até então ganhava a vida fazendo tônicos com vários ingredientes ativos de plantas, decidiu que deveria valer a pena vender tantos elogios a essa nova substância.

Assim, em 1863, Mariani apresentou ao mercado a primeira versão do famoso vinho que levaria seu nome, que combinava tinto Bordeaux com folhas de coca. Ao misturar os dois componentes, foi produzida uma reação química que gerou um composto chamado etilenococa, que potencializou os efeitos da planta. O vinho era anunciado como bom para combater a gripe ou a malária e também para eliminar o cansaço ou a melancolia. Logo, seu sucesso foi internacional.

Escritores como Arthur Conan Doyle, Júlio Verne, Emile Zola, Paul Verlaine ou Mark Twain foram defensores apaixonados. Personalidades políticas como o czar Alexandre II, a rainha Vitória da Inglaterra ou o general americano Ulysses S. Grant. Os irmãos Luimère, Sigmund Freud, Thomas Edison e muitas outras figuras da época ocuparam o complexo Mariani. Entre todos eles, destacou-se o Papa Leão XIII, que concedeu uma medalha ao seu inventor e até emprestou a sua imagem a uma campanha publicitária.

Com o aumento da demanda, Mariani ficou milionário com seu produto, e graças aos avanços científicos que permitem sua síntese química, o Vinho Mariani substitui gradativamente a folha pelo composto. De Freud a Sherlock Holmes, a droga começou a ser consumida e elogiada, e em 1886 nasceu a Coca Cola, contendo 9 miligramas de cocaína por frasco. No entanto, alguns cientistas já começam a falar sobre os riscos do vício e os efeitos do abuso. Freud, que havia sido seu defensor, parou de tomá-la em 1896, aos 40 anos, quando sentiu taquicardia e alteração do ritmo cardíaco. Em 1903, a Coca-Cola eliminou a substância de sua fórmula e a substituiu por cafeína.

O Vinho Mariani ainda estava na moda até que, em 1914, foi retirado do mercado, às vésperas da Primeira Guerra Mundial. Antes disso, o Papa Leão XIII concedeu a Mariani uma medalha de honra e reconhecimento público em reconhecimento à capacidade de sua bebida de “apoiar o retiro ascético de Sua Santidade”. Leão XIII viveu até os 93 anos.

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