(J.R. Guzzo, publicado no jornal O Estado de S. Paulo, em 19 de abril de 2023)
De infâmia em infâmia, o governo Lula-PT e os seus sócios no alto Judiciário de Brasília vêm impondo aos brasileiros um sistema de agressão permanente à democracia. Seu ataque mais hostil, no momento, é a sabotagem da CPMI que o Congresso, no pleno exercício de seus direitos legais, quer abrir para apurar as depredações contra as sedes dos Três Poderes, no último dia 8 de janeiro. É um escândalo a céu aberto. Lula e o seu governo, num espetáculo indecente de recusa em aceitar qualquer posição contrária, não admitem que deputados e senadores façam investigações sobre o episódio. Não tem nexo. O governo gritou, desde o primeiro minuto, que era a maior vítima dos ataques. Se é ele realmente o prejudicado, por que a guerra para impedir que se apure a verdade sobre a agressão que sofreu? Quem não quer investigar os fatos, sempre, é quem tem algo a esconder; quem foi agredido, e é inocente, quer que tudo seja esclarecido. O que está acontecendo, então, nessa história?
O governo Lula, com sua recusa intransigente em permitir a apuração da verdade sobre o 8 de janeiro, está fazendo o possível para mostrar ao público que é ele, o próprio governo, que tem crimes a esconder. Se não fez nada de errado nos atos de invasão e vandalismo na Praça dos Três Poderes, por que esse desespero todo para impedir a CPMI? Trata-se, desde o começo, de uma história pessimamente contada – e que só fica pior a cada decisão abjeta que o governo e o seu sistema de apoio tomam para impedir a investigação do Congresso. Porque, por exemplo, imagens gravadas – e que acabam de vir a público – mostram agentes do governo colaborando com os invasores? Estão rasgando as leis, impedindo que uma instituição democrática funcione e se comportando de forma imoral: trapaça depois de trapaça, vem passando por cima de prazos legais e exigências da Constituição para ganharem mais tempo na compra de deputados e senadores, e bloquearem com isso a abertura dos trabalhos de apuração dos fatos.
Sua desculpa para isso é demente: alegam que a CPMI vai “turvar” as investigações que já estão sendo feitas pelo Supremo, ou sob o seu controle. Não há nada mais turvo na história judiciária do Brasil do que a apuração do STF sobre os fatos do 8 de janeiro – na verdade, um espetáculo deprimente de vingança, violação da lei, negação de direitos e a lógica das justiças de ditadura. Não há investigação nenhuma. Há apenas a violência de um procedimento ilegal, que age em segredo, recusa-se a revelar provas, dificulta a defesa dos réus por seus advogados – e, mais do que tudo, esconde do público tudo aquilo que o governo Lula quer manter escondido. Como num processo da justiça soviética, serão condenados aqueles que o STF e o governo querem condenar – mesmo que a legislação não permita isso, ou que estivessem fisicamente ausentes do local onde foram praticados os crimes de que são acusados.
O presidente do Senado, abandonando a honra pessoal, e qualquer respeito pelos eleitores que o puseram onde está, tem tido um comportamento particularmente vil do começo ao fim desse episódio escuro. Disse, na hora dos ataques, que seria “o primeiro” a assinar a CPMI. Mentiu. Hoje age como um despachante direto de Lula e do STF para impedir a apuração do que realmente aconteceu em 8 de janeiro. Em seu último espasmo a serviço da ocultação da verdade, provou que é capaz de ir ao extremo mais elevado que um ser humano pode alcançar em matéria de falta de caráter: rompeu a própria palavra, e não cumpriu o que tinha prometido. Lula sabe que não corre nenhum tipo de risco com o STF e o resto do alto judiciário — a Justiça brasileira jamais vai julgar nada do faça ou venha fazer, seja lá o crime que for. Mas exige, também, a cumplicidade do Congresso – e o presidente do Senado vai fazer qualquer coisa para se manter a serviço do projeto de ditadura que o governo quer implantar no Brasil.