Ao redor de todo o mundo, hoje, celebra-se o dia do trabalhador. Levando-se em conta a contínua e irrefreável expansão dos governos, cujo fardo tributário recai majoritariamente sobre os assalariados, achatando seus rendimentos, a data vem se tornando a cada dia mais emblemática e importante.
No entanto, o objetivo principal da data — ao menos o seu original — é celebrar o trabalhador como sendo o responsável pelo grande padrão de vida desfrutado pelas civilizações ao redor do mundo. Mas este argumento possui várias falhas.
Por 10.000 anos, desde a antiga Suméria até a Revolução Industrial, o trabalho era o segredo da organização econômica. A agricultura era a principal atividade econômica, e se baseava totalmente na mão-de-obra física e no trabalho exaustivo. Um ser humano sem absolutamente nenhuma ferramenta ou maquinário (capital) tinha de furar um buraco no chão com seu próprio dedo e jogar ali dentro uma semente.
A mudança para o uso de gravetos e outros pedaços de pau foi um exemplo da evolução do capital. E a mudança deste arranjo para o uso de arados de metal representou uma imensa alteração na estrutura de produção, uma alteração totalmente baseada no uso intensivo de capital.
O desenvolvimento de uma coleira de cavalo — um pedaço de capital — permitiu um enorme aumento na produtividade da agricultura. Literalmente, toda a mão-de-obra do mundo era incapaz de fazer aumentar a oferta de alimentos; porém, simples aprimoramentos no capital levaram a um substancial crescimento na produção agrícola.
Em um mundo baseado no trabalho, caçar animais era uma atividade precária, dado que animais frequentemente eram mais bem munidos de armas do que os seres humanos. Um ser humano utilizando apenas suas próprias mãos não é páreo para um búfalo; com efeito, um ser humano utilizando apenas a sua inteligência e suas próprias mãos dificilmente conseguirá capturar sequer um pequeno coelho.
O desenvolvimento das armadilhas para animais, por exemplo, foi um progresso que permitiu que presas pequenas fossem capturadas com riscos mínimos para o capturador.
O uso de lanças representou outro aprimoramento do capital, permitindo que um pequeno grupo de homens exitosamente caçasse grandes animais. E a invenção das armas de fogo permitiu que um homem pudesse matar até mesmo o maior dos animais a uma grande distância.
Em um mundo baseado inteiramente no trabalho, o comércio entre as regiões exigia que os homens levassem semanas, meses ou até mesmo anos para percorrer montanhas e áreas nevadas. No entanto, este trabalho excruciante gerava apenas pequenas quantidades de comércio, dado que os comerciantes — limitados pela própria força física e pela necessidade de carregar comida e conduzir um enorme grupo de animais — eram capazes de transportar segura e eficazmente apenas uma pequena quantidade de bens, frequentemente não mais do que uns 100 kg.
Já em nosso mundo baseado no uso de capital, o comércio é feito por meio de caminhões, aviões e enormes navios com capacidade para várias toneladas. De fato, é muito provável que, neste nosso mundo baseado no capital, ocorra em um só dia um volume de comércio muito maior do que aquele que ocorria em um ano, em uma década ou, possivelmente, até mesmo em um século inteiro antes da Renascença.
Hoje, usufruímos prazeres e magnificências que eram inimagináveis há até mesmo 200 anos. Dirigimos automóveis, temos luz e inúmeros aparelhos elétricos em nossas casas, produzimos em massa todo e qualquer tipo de antibiótico, temos ar condicionado, viagens aéreas, geladeiras, congeladores, filmes, televisão, videocassetes, aparelhos de DVD, Blu-ray, rádios, toca-discos, CD players, computadores, notebooks, celulares, moradias confortáveis, comidas e roupas abundantes e de qualidade, medicina e odontologia modernas, máquina de lavar e secar, forno de microondas e por aí vai.
Livros que antes tinham de ser meticulosamente reproduzidos um de cada vez — com trabalho — hoje são reproduzidos aos milhares tanto por meio de fotocópias e impressoras quanto por meios puramente digitais. Hoje, você pode ler este texto na internet por meio do seu computador, notebook, iPad, iPhone ou simplesmente por meio de papel e impressora. Você escolhe.
Um voo intercontinental de algumas horas substitui semanas de viagem dentro de um navio primitivo — viagem esta que apresentava enormes chances de resultar em tragédia. E mesmo um navio primitivo havia ao menos tornado possível as viagens intercontinentais, algo que era uma impossibilidade em um mundo baseado exclusivamente no trabalho humano. (Imagine ter de nadar todo o Oceano Atlântico!) Uma mensagem que demorava dias para ser transportada por meio de cavalos é hoje instantaneamente entregue via celulares e emails.
O que permitiu esta magnífica criação de riqueza foram investimentos em capital feitos por capitalistas, os quais geraram as mudanças tecnológicas que hoje nos permitem produzir mais com cada vez menos recursos. O trabalho é importante, sem dúvida, mas o que realmente nos faz ricos é o capital e a tecnologia que tornam o trabalho mais produtivo.
E um ótimo exemplo de como esta acumulação de capital favorece principalmente os trabalhadores pode ser observado na própria Revolução Industrial, contrariamente a todos os clichês que você certamente já ouviu sobre aquela época. Durante a Revolução Industrial, os aluguéis cobrados sobre a terra permaneceram praticamente inalterados, o que significa que os ganhos da industrialização não foram absorvidos pelos proprietários de terra. As taxas de juros permaneceram praticamente inalteradas, o que significa que os ganhos da industrialização não foram absorvidos pelos capitalistas. Já os salários — principalmente da mão-de-obra de baixa qualidade — explodiram. Tudo em decorrência da acumulação de capital.
Somos realmente abençoados de viver nesta era. A expansão do capital nos permitiu chegar a um nível de conforto jamais sonhado até mesmo por monarcas e imperadores de alguns séculos atrás. É hora de repensar este incorretamente rotulado dia do trabalhador e prestar o devido reconhecimento e homenagem àquilo que realmente torna a nossa vida mais fácil e prazerosa: o capital.
Logo, feliz dia do capital!
Scott A. Kjar obteve seu Ph.D. em economia na Auburn University. Antes disso, ele obteve um mestrado em Análise de Políticas Públicas na Universidade de Rochester e estudou na UNLV com Murray Rothbard. Ele ensinou economia, finanças e ciência política na Loyola University New Orleans, University of Dallas, University of Minnesota – Duluth e outras escolas.