Sob Lula, importações de diesel russo disparam, ajudam a baixar preços e financiam guerra na Ucrânia
Gazeta do Povo
Desde o início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), as importações brasileiras de diesel russo dispararam. De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, de janeiro a maio, as compras desse produto da Rússia somaram US$ 910,6 milhões, quase dez vezes mais do que na comparação com 2022 inteiro.
As compras de diesel russo este ano já representam mais do que os valores das importações somadas entre 2010 e o ano passado (veja infográfico abaixo).
Em reportagem para o site da revista americana The National Interest, Leonardo Coutinho, colunista da Gazeta do Povo, destacou que os russos estão oferecendo descontos de US$ 25 a US$ 35 por barril para alcançar novos mercados e contornar os danos das sanções impostas pelos Estados Unidos e pela União Europeia devido à invasão que o Kremlin promoveu à Ucrânia em fevereiro de 2022. Entre os importadores brasileiros que se beneficiaram desses descontos, está a Petrobras, destacou Coutinho.
A importação desse diesel russo barato ajudou nas reduções do preço do combustível no Brasil, gerando dividendos políticos para Lula. Segundo números da Leggio Consultoria fornecidos ao site da BNamericas, em 2022, a Rússia foi apenas o oitavo país que mais vendeu diesel para o Brasil, respondendo por 1% das importações brasileiras desse produto. Ficou atrás de Estados Unidos, Índia, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Holanda, Kuwait e Togo.
No primeiro quadrimestre de 2023, a Rússia pulou para o segundo lugar, com 18% das vendas. Os Estados Unidos foram os grandes prejudicados por essa mudança: embora continuem sendo o país que mais exporta diesel para o Brasil, sua participação caiu de 58% para 33% desde o ano passado.
“É difícil competir, o diesel russo chega abaixo do preço de venda das refinarias nacionais e abaixo do valor do produto importado de outras origens”, afirmou Gabrielle Moreira, especialista do mercado de diesel da agência de acompanhamento de commodities Argus, em entrevista à Reuters em abril.
Esse aumento das compras pelos importadores brasileiros, que ocorre com a anuência do governo (que não impôs sanções à Rússia), traz consigo um conflito ético, porque o Brasil acaba financiando indiretamente, por meio da importação de diesel barato, a invasão russa à Ucrânia.
Índia e China também aumentaram as importações de energia da Rússia desde o início do conflito, o que tem ajudado o país de Vladimir Putin a contornar as sanções impostas pelo Ocidente. O aumento das importações de diesel russo pelo Brasil coincidiu com o início das sanções da União Europeia aos produtos refinados da Rússia.
A imagem de Lula já estava arranhada internacionalmente por se recusar a ajudar os ucranianos. Em janeiro, ele recebeu a visita do chanceler alemão, Olaf Scholz, que buscava apoio brasileiro para fornecer munição à Ucrânia e levou para Berlim uma resposta negativa.
Depois, Lula foi muito criticado em abril ao comentar o conflito na Ucrânia, quando disse que “a decisão da guerra foi tomada por dois países”.
Diante da repercussão negativa, condenou “a violação da integridade territorial da Ucrânia” e disse que o Brasil busca se manter “neutro” para negociar a paz entre os dois países. Essa neutralidade, entretanto, fica em xeque pela ajuda financeira indireta do Brasil a Moscou no conflito.