Os cientistas criaram um novo tipo de vacina que, em vez de ativar o sistema imunológico, o suprime seletivamente. A chamada vacina inversa, que só foi testada em camundongos até agora, poderia um dia ser usada para tratar doenças autoimunes, nas quais o sistema imunológico ataca o corpo.
A vacina foi administrada a camundongos com uma condição semelhante à esclerose múltipla, uma doença autoimune em que as bainhas de mielina, ou os casacos isolantes ao redor dos nervos no cérebro e na medula espinhal, são sistematicamente destruídos. O tratamento reverteu os sintomas da doença e restaurou a função das células nervosas. As descobertas foram descritas em um estudo publicado em 7 de setembro na revista Nature Biomedical Engineering.
A vacina funciona essencialmente fazendo com que o sistema imunológico reconheça os nervos como “seguros”, em vez de como invasores estrangeiros que devem ser atacados. O método ainda não foi testado em humanos.
Normalmente, as células imunológicas chamadas células T protegem o corpo de invasores como vírus e células doentes, como as de tumores cancerígenos. Eles identificam quais células atacar ligando-se a antígenos específicos, ou moléculas, que normalmente aparecem na parte externa de um vírus ou célula. No entanto, na doença autoimune, as células T têm como alvo erroneamente as células saudáveis do corpo, indo atrás de “autoantígenos”, moléculas encontradas apenas nessas células normais.
Como fazer com que o corpo pare de se atacar? Você ensina a deixar esses autoantígenos em paz – e o corpo tem uma maneira de ensinar essa tolerância.
Esse ensino é feito por um grupo especial de células no fígado que apresentam antígenos para as células T e dizem a elas que são seguras; O fígado tem essas células especiais porque, ao filtrar o sangue, ele deve diferenciar entre antígenos estranhos perigosos (de bactérias) e seguros (de células de si mesmo e alimentos). No novo estudo, os pesquisadores sequestraram esse processo para marcar as células do corpo como “seguras” do ataque de células T.
Eles induziram uma forma de esclerose múltipla em camundongos, o que fez com que as células T atacassem um antígeno específico encontrado na mielina. Para parar o ataque, eles então marcaram esse antígeno com um açúcar especial, e esses antígenos marcados com açúcar foram transportados para o fígado, onde as células de ensino de tolerância os pegaram. As células hepáticas então reprogramaram as células T para deixar a mielina sozinha, bem como protegê-la, essencialmente removendo a mielina da “lista de ataques” do sistema imunológico.
No entanto, embora os resultados do novo estudo sejam promissores, mais trabalho precisa ser feito para desenvolver essa tecnologia em um tratamento que possa ser usado em humanos. Por exemplo, os efeitos protetores mostrados no estudo duraram apenas algumas semanas, então não está claro quanto tempo eles poderiam durar, especialmente em pessoas.
Outra questão potencial é que o sistema imunológico poderia recuperar sua memória do antígeno alvo, o que pode significar que uma dose de reforço seria necessária, como é o caso de muitas vacinas regulares. Isso é algo que os estudos clínicos terão que investigar, pois o sucesso em modelos animais também nem sempre se traduz em humanos.