Da Redação
Mensagens no celular de Adauto Soares Jorge, ex-diretor da empresa de ônibus Transunião, que tem como um de seus fundadores o vereador Senival Moura (PT), da Câmara Municipal da capital paulista, mostram a existência de pagamentos semanais de R$ 70 mil, feitos por meio do caixa da companhia, ao Primeiro Comando da Capital (PCC). Os diálogos constam de inquérito conduzido pelo Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) e que corre sob sigilo de Justiça. A informação foi divulgada pelo jornal O Estado de São Paulo.
Segundo o jornal, a Transunião é uma das três empresas de ônibus da cidade de São Paulo cujos diretores ou acionistas são investigados atualmente por crimes que a polícia liga ao PCC. A apuração do caso, que envolve extorsões, lavagem de dinheiro e organização criminosa, começou com um inquérito sobre a morte de Adauto Soares Jorge, ex-diretor da empresa que foi assassinado a tiros em março de 2020. Na apuração sobre o crime, Senival Moura foi um dos investigados. O parlamentar, porém, diz ser inocente.
“Operamos com a Transunião até o dia 4 de fevereiro de 2020. No dia 5 teria uma assembleia da empresa, e eu e o Adauto Soares Jorge fomos recomendados a não participar. Quando recebi isso, achei melhor ir embora”, disse o vereador em um discurso na Câmara em junho de 2022.
Ligação com o PCC
A influência da facção nas operações da empresa de ônibus teria começado, segundo a polícia, no início dos anos 2000, quando Senival Moura teria recebido recursos dos “notórios criminosos” Ricardo Pereira dos Santos, o Cunta, e Alexandre Ferreira Viana, o Alexandre Gordo, para sua campanha eleitoral em 2004, ano em que o político concorreu pela primeira vez a vereador.
Foi a partir disso, segundo a polícia, que o PCC passou a ocupar grande parte das cotas e ações da Transunião, o que fez Senival e Adauto terem “que prestar contas à criminalidade organizada”. De acordo com um relatório policial sobre a morte de Adauto, a facção possuía até um responsável pela interlocução e defesa de seus interesses dentro da empresa de ônibus.
“Tal preposto [representante do PCC] foi identificado como Leonel Moreira Martins, notório ladrão de bancos, o qual, como se depreende da análise das mensagens encontradas no aparelho celular da vítima [Adauto], interagia quase que semanalmente com esta, para resolver problemas envolvendo a empresa e os interesses de membros do PCC”, destaca o documento.
Com base em conversas que constavam do aparelho celular de Adauto, a polícia descobriu que o ex-diretor da companhia teria falado com Leonel sobre os repasses da empresa ao PCC, que segundo Adauto estariam limitados a R$ 70 mil por semana. O representante da facção, porém, teria argumentado que a companhia tinha uma dívida diretamente com ele.
Com a alegação de supostos desvios de verbas da empresa, a facção então obteve, em fevereiro de 2020, o afastamento do aliado do vereador Senival Moura da presidência da Transunião, por meio da destituição de Adauto do cargo.
“A mando da referida facção criminosa e por intermédio de Leonel, a presidência da empresa Transunião é passada para um de seus integrantes, Lourival de França Monário, o qual fica incumbido de dar prioridade aos interesses espúrios daquela, em detrimento dos demais cooperados”, destacou a polícia.
Na sequência, o PCC teria determinado a nomeação de Jair Ramos de Freitas, o Cachorrão, como diretor da empresa. Seria Jair, de acordo com a polícia, o responsável pela morte de Adauto, que teria sido assassinado pela facção em uma vingança. Senival, por sua vez, também teria sido jurado de morte, mas só não morreu porque teria concordado em entregar 13 ônibus ao PCC e deixar a direção da empresa.
O outro lado
Segundo o Estadão, a empresa de ônibus não se pronunciou sobre o caso. Já o advogado do vereador, Márcio Sayeg, disse que as acusações contra seu cliente não teriam fundamento.
“Pediram perícia contábil, quebraram o sigilo e não encontraram nada. Tanto é que ele nem sequer foi indicado no inquérito. Ali é uma cooperativa, não dá para investigar um a um, controlar o que cada um faz”, afirmou o advogado.
O advogado Anderson Minichilo, que defende Cachorrão, disse que seu cliente é inocente e não foi reconhecido pelas testemunhas.
“Pedimos a liberdade dele, alegando que o laudo das imagens da perícia era inconclusivo. A acusação da polícia não tinha base sólida para mantê-lo preso”, declarou.
Sobre a atuação da empresa, a Prefeitura de São Paulo afirmou, por meio de nota, que “acompanha e colabora” com a polícia “em tudo que é solicitado” e disse ser de seu “total interesse que todos os esclarecimentos legais sejam feitos perante as autoridades policiais e à Justiça”.