Da Redação
Mauro Cid, o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, já prestou seis depoimentos à Polícia Federal depois de assinar um acordo de colaboração premiada. Em troca de benefícios, comprometeu-se a dizer a verdade. Cid chegou a relatar que o ex-presidente discutiu planos golpistas com os comandantes militares no Palácio da Alvorada e que um deles chegou a colocar as tropas à disposição para executar a missão.
Contudo, áudios publicados pela revista Veja nesta quinta-feira (21), revelam que o tenente-coronel tem comentado nos bastidores que algumas informações são tiradas de contexto e outras omitidas pela Polícia Federal. Na gravação realizada semana passada, o ex-ajudante relata condutas erradas de agentes e sobre a própria investigação. O trecho ocorre após depoimento prestado por Cid à PF, na segunda-feira (11).
Conforme Cid, policiais o induziram a colaborar com afirmações de testemunhas. Além disso, ele indicou que um delegado teria o intimidado a reproduzir determinadas informações, sob pena de perder benefícios do acordo.
O ex-ajudante ainda faz duras críticas ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. “O Alexandre de Moraes é a lei. Ele prende, ele solta quando quiser, como ele quiser, com Ministério Público, sem Ministério Público, com acusação, sem acusação”.
Segue a transcrição dos áudios de Mauro Cid:
“Eles já estão com a narrativa pronta, eles não queriam que eu dissesse a verdade, eles queriam só que eu confirmasse a narrativa deles. Entendeu? É isso que eles queriam. E toda vez eles falavam: olha, a sua colaboração está muito boa… tipo assim, ele até falou: vacina, por exemplo, você vai ser indiciado por 9 negócios de vacina, 9 tentativas de falsificação de vacina, vai ser indiciado por associação criminosa e mais um termo lá. Só essa brincadeira são 30 anos pra você”
“Eu vou dizer pelo que eu senti: eles já estão com a narrativa pronta deles, é só fechar. E eles querem o máximo possível de gente para confirmar a narrativa deles. É isso que eles querem”
“Eles são a lei agora. A lei já acabou há muito tempo, a lei é eles. Eles são a lei. O Alexandre de Moraes é a lei. Ele prende, ele solta quando quiser, como ele quiser, com Ministério Público, sem Ministério Público, com acusação, sem acusação”
“Quando eu falei naquele encontro do Alexandre de Moraes com o presidente, eles ficaram desconcertados. Eu falei: ‘ó, quer que eu fale? Não vou botar no papel senão eu vou me foder’. Mas o presidente encontrou secretamente o Alexandre de Moraes na casa do Ciro Nogueira. E aí? O Alexandre de Moraes já tem a sentença pronta. Só está esperando passar o tempo, o momento que ele achar conveniente denunciar todo mundo, o PGR acata, aceita e ele prende todo mundo”
“Se eu não colaborar, vou pegar 30, 40 anos [de prisão]. Porque eu estou em vacina, eu estou em joia”
Olha aí o vacilão do Mauro Cid se lamentando para algum brother bolsonarista. Se revolta pq era o maior bucha de canhão dos rolos do Bolsonaro e diz que Xandão já está com a sentença pronta. Se mostra pressionado pela justiça e agora
pode perder os benefícios da delação. Ou… pic.twitter.com/lHSOarAJj3— GugaNoblat (@GugaNoblat) March 22, 2024
Depois da publicação da reportagem da Veja, a defesa de Mauro Cid emitiu uma nota em que classifica os áudios de “clandestinos”, diz também que o militar “em nenhum momento coloca em xeque a independência, funcionalidade e honestidade” da PF e da PGR (Procuradoria Geral da República).
Leia a nota da defesa de Mauro Cid:
“A defesa de Mauro César Barbosa Cid, em razão da matéria veiculada pela revista Veja, nesta data, vem a público afirmar que:
“Mauro César Babosa Cid em nenhum momento coloca em xeque a independência, funcionalidade e honestidade da Polícia Federal, da Procuradoria-Geral da República ou do Supremo Tribunal Federal na condução dos inquéritos em que é investigado e colaborador, aliás, seus defensores não subscrevem o conteúdo de seus áudios.
“Referidos áudios divulgados pela revista Veja, ao que parecem clandestinos, não passam de um desabafo em que relata o difícil momento e a angústia pessoal, familiar e profissional pelos quais está passando, advindos da investigação e dos efeitos que ela produz perante a sociedade, familiares e colegas de farda, mas que, de forma alguma, comprometem a lisura, seriedade e correção dos termos de sua colaboração premiada firmada perante a autoridade policial, na presença de seus defensores constituídos e devidamente homologada pelo Supremo Tribunal Federal nos estritos termos da legalidade.”