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Brasileiro herda obra de arte e descobre que ela vale R$ 500 milhões

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Revista Galileu

 

Na década de 1970, um homem comprava um quadro de natureza morta em um antiquário no bairro paulistano do Bixiga por cerca de R$ 20 mil. A obra não estava assinada, mas era atribuída a algum pintor europeu famoso. Meio século mais tarde, o quadro seria avaliado em R$ 500 milhões após uma revelação: ele continha uma pintura secreta.

Uma restauração da pintura levou à realização de um raio-x em 2021, que apresentou, por baixo da natureza morta, uma figura masculina segurando uma criança. Especialistas atribuíram a primeira tela ao pintor Luis Meléndez (1716-1780), porém, a autoria da pintura secreta ainda não foi comprovada.

Apesar disso, existem planos para que o quadro circule em exibições por alguns países antes de ser vendido. A história de como essa obra foi descoberta remonta aos anos 1940 e é, no mínimo, curiosa. Confira mais detalhes a seguir:

Da Europa ao Bixiga

De acordo com o laudo da obra, a tela teria sido originalmente comprada de uma família de imigrantes europeus durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Na década de 1940, a pintura era associada a Meléndez ou a Francisco de Zurbaran, outro pintor do país ibérico. O quadro teria passado cerca de 30 anos pendurado na parede do fundo de um antiquário até ser comprado.

No início dos anos 1970, ele seria adquirido no Bixiga por um homem pertencente a uma família paulistana que viu seus negócios crescerem e comprou propriedades na cidade. Uma das posses dessa afortunada família era um apartamento na Avenida Paulista para o qual a tela foi comprada como um item de decoração.

No fim dos anos 1980, o comprador passou a posse da obra valiosa para seu filho Marcos*. Após ter descoberto o valor que a pintura possui, ele afirma: “Eu estou vivendo um sonho que eu jamais pensei; às vezes até me assusta um pouco”.

*O herdeiro concedeu entrevista à GALILEU, mas solicitou que sua identidade fosse mantida em sigilo.

Fortuna de família

O pai do herdeiro da obra-prima faleceu em 1992. “Na data do meu aniversário, quando eu tinha 20 e poucos anos, ele me presenteou, em documento em vida, e falou ‘olha, isso você guarda, é a obra de um grande mestre espanhol’”, conta.

Desde outubro de 2020, o quadro está no nome da empresa de Marcos*, que já recebeu ofertas de compra de dezenas de milhões de dólares, mas não chegou a fechar negócio.

Ele deixa claro que o quadro não está à venda, mas ainda assim analisa as propostas de compra. “Não vendemos porque a gente acha que ela não é [só] mais uma obra”, afirma. “Isso é uma obra que tem vida própria, ela tem um gancho de angariar a curiosidade das pessoas”.

Embora demonstre gostar muito da pintura, o herdeiro não costumava ser um clássico colecionador de obras-primas. “Até quatro anos atrás eu era muito leigo no mundo das artes. Aí depois eu fui pesquisar, ler e estudar”, recorda.

Exame de tela

Em posse do quadro, a empresa de Marcos* encomendou um processo de restauração. “Fizemos o restauro com Raul Carvalho justamente para fazer uma limpeza, tirar a sujeira de 300 anos e uma coisa levou a outra”, detalha.

Em primeiro lugar, a perícia atestou a legalidade da pintura. Em seguida, foram iniciados os processos de restauro e estudo. Durante a remoção do verniz, a obra secreta apareceu.

Por trás da ilustração do vaso presente na natureza morta, é possível ver a imagem de um braço, no quadrante inferior esquerdo da tela. O laudo do perito Douglas Quintale aponta que a figura da pintura escondida seria Santo Antônio ou São José.

Especialistas apontaram a figura de um braço pintado por baixo da tela ao remover seu verniz — Foto: Reprodução

Tela oculta contém a representação de uma figura masculina segurando uma criança — Foto: Reprodução

Distintas telas compõem o mesmo quadro; à direita, é possível ver a radiografia da obra — Foto: Reprodução

Inscrições no quadro indicam autoria de Meléndez — Foto: Reprodução

A obra secreta foi observada através da radiografia, uma vez que não foi possível remover a pintura superior sem a danificar. “As pessoas, quando veem [a pintura oculta], se emocionam”, relata Marcos*. “Ela tem um magnetismo próprio, uma áurea própria. Aquele olhar do sião que pode ser São José, um rei, um comerciante, um nobre. É um mistério.”

Conforme o herdeiro da obra de arte, a criança retratada na pintura pode ser o menino Jesus ou uma princesa, uma filha de nobre ou de um grande comerciante. “A gente sabe que é alguém de muita posse por causa dos adornos de joias”, ele explica.

Segundo a Fundação Global Family Support, organização por trás da exposição da tela, que será exibida nos Estados Unidos, registros da vida do artista indicam que ele havia pintado por cima de três obras, mas as outras duas estão desaparecidas.

Nascido em uma família de espanhóis na cidade de Nápoles, na Itália, Meléndez ficou conhecido pela pintura de quadros de natureza morta, ou bodegones, como são conhecidos na Espanha. Ele teria pintado mais de cem telas do gênero enquanto expoente da arte barroca.

Na madeira da moldura, é possível ler algumas inscrições que fazem referência ao nome Luis Egídio de Meléndez Ribera. Os motivos que o levariam a pintar por cima de outro quadro, no entanto, continuam um mistério.

 

 

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