Alexandre de Moraes e um tapa na nuca do Brasil
(Rodrigo Constantino, publicado no jornal Gazeta do Povo em 27 de agosto de 2024)
Reviravolta no caso Mantovani. Um laudo revisado pelo perito Ricardo Molina se baseia em imagens de câmaras de segurança do aeroporto de Roma. Após analisar os vídeos na presença de servidores do STF, o perito diz ter identificado uma agressão de Barci a Mantovani anterior àquelas cometidas pelo empresário e apresentadas no relatório produzido pela PF (Polícia Federal).
“É possível afirmar que não fora Roberto quem ‘desferiu tapa no rosto do filho do Ministro Alexandre de Moraes, o Sr. Alexandre Barci de Moraes’, e, sim, Alexandre Barci de Moraes quem desfere um tapa na nuca de Roberto, o pegando de surpresa, momento em que ele (Roberto) levanta sua mão em ação de defesa, resvalando sua mão os óculos do agressor”, diz trecho do laudo.
O advogado André Marsiglia comentou: “Se o gesto de Mantovani foi reação instintiva e defensiva a tapa recebido anteriormente, como diz perito da defesa, não há crime. E se foi seu único gesto, o agressor, inclusive, é vítima. Como o vídeo não tem áudio, gestos são a única coisa, a sério, passível de análise”.
Vale notar que isso nem deveria ser surpresa. Os italianos já haviam chegado à mesma conclusão do perito da defesa, ao analisar o vídeo. A associação dos peritos já havia alertado para a perícia fajuta da PF. O primeiro delegado, espertamente, tentou remediar a situação deixando o dito pelo não dito. Mas a arrogância e a prepotência dos poderosos falou mais alto.
Há um aspecto um tanto óbvio também: se as imagens do aeroporto comprovassem mesmo a agressão sofrida pelo ministro ou seu filho, alguém acha que Toffoli decretaria sigilo delas? O simples fato do STF ter impedido o povo de ver o que de fato aconteceu já dá todos os sinais de que estão tentando esconder a verdade, como sempre.
Não custa lembrar que O Globo chegou a fazer um desenho em quadrinhos atestando a versão de Alexandre de Moraes, e ainda retratando seu filho com uns dez anos a menos, para parecer um menino indefeso que teria levado um soco na cara e seus óculos voaram longe. Na chamada, o jornal diz que as ilustrações mostram como foi o ataque sofrido. Não como teria sido, ou supostamente foi. O zelo jornalístico desapareceu por completo em troca da militância bajuladora.
Esse caso de Roma é apenas mais um dos claros abusos de poder do ministro Alexandre, mas revelador da sua mentalidade caudilhesca, que confunde público com privado e considera sua própria pessoa a encarnação da democracia. Uma crítica a ele passa a ser “ataque às instituições”; um entrevero no aeroporto se transforma em “atentado contra a democracia”. A Polícia Federal é mobilizada para intimidar uma família. É puro arbítrio, coisa de Venezuela mesmo.
Até quando o Brasil vai aceitar esse abuso de poder? Por quanto tempo mais Rodrigo Pacheco vai agir como cúmplice de Moraes? O senador Arthur Virgilio gravou um vídeo prevendo a iminente queda do ministro, alertando que o poder o corrompeu absolutamente e que ele não compreende o papel de um interino no cargo. A soberba costuma preceder a queda. No dia 7 de setembro, todo o povo decente, seja de direita ou de esquerda, deveria comparecer às manifestações pedindo o impeachment de Moraes. Isso sim, pode salvar nossa democracia.