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Incêndios: feitiço virou contra o feiticeiro

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(Xico Graziano, publicado no portal Poder360 em 27 de agosto de 2024)

 

Viajando no final de semana para Rondônia para lecionar o MBA/FGV em gestão do agronegócio tomei um baita susto: o avião arremeteu ao tentar o pouso em Cacoal, alternando imediatamente para o aeroporto de Ji-Paraná. Motivo: a fumaça das queimadas.

Voltei meu pensamento para a Marina Silva, atual ministra do Meio Ambiente. Eu bem sei que ela nada tem a ver com esse horror do fogaréu que arde os campos no país inteiro. Minha memória seguia outro rumo: por que ela foi tão injusta no passado recente, quando culpou o governo anterior, de Bolsonaro, pelo mesmo motivo, qual seja, de ser responsável pelas queimadas no país, que então transformavam em cinzas a selva amazônica e o Pantanal?

Nada como um dia após o outro, diria um astuto caipira de Araras. Marina Silva está sendo achincalhada nas redes sociais pela maledicência de sua língua, mansa porém ferina, que rotineiramente atribui à direita a culpa pelas mazelas ambientais que atrasam nosso desenvolvimento. Como se ela, da esquerda, fosse uma santa ecológica salvadora da pátria.

Esse é o ponto. Neste ano de 2024, com Marina sentada na cadeira de ministra, o Pantanal bateu recorde de focos de incêndio: entre janeiro e maio, ultrapassou em 39% o registrado em 2020, o pior ano da série histórica do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). A cada mês seguinte –junho, julho e agosto– a situação só piorou. Imagens de onças queimadas e jacarés incinerados mostram um quadro apavorante.

Lembro-me bem do ocorrido há 4 anos, o Pantanal ardendo em chamas quando Ricardo Salles comandava a pasta do Meio Ambiente. O esquerdismo verde, tendência política da qual Marina Silva é a representante mor, bateu sem dó nem piedade nele, acusando-o de ser um disfarçado incendiário. Pior. Um fascista conluiado com o agronegócio para destruir nossas riquezas naturais e nossa biodiversidade.

Agora, o feitiço virou contra o feiticeiro. A ministra morde a língua como se estivesse experimentando do próprio veneno, um fel amargo que tem oferecido constantemente aos seus imaginários adversários.

Para Marina Silva, o governo não tem nada a ver com as incontroláveis queimadas. A culpa delas cabe às mudanças climáticas, que provocaram as desgraçadas secas, torrando as plantas e os pastos, tornando-os propícios aos incêndios. Ela está, em parte, correta.

Por que, então, não aceitou o mesmo argumento em 2020, quando o Pantanal passava pela maior seca de sua história, só suplantada pela atual? Por que atacava o governo acusando-o de ser responsável pela tragédia?

A esquerda tem o privilégio sobre a agenda do clima? Marina pode, mas Ricardo não pode? É ridículo.

O suprassumo do besteirol sobre os incêndios reside na acusação de que interessam ao agronegócio brasileiro. Ora, os agricultores não têm nenhuma responsabilidade por essa desgraça ecológica. As evidências são fartas: face à terrível secura, o fogo se alastra a partir de pequenos focos surgidos na queima de restos da varrição de quintais, pequenas roçadas de limpeza nos sítios, nos brejos, quando não de bitucas de cigarro jogadas nas rodovias e até balões criminosos lançados aos céus por gente ignorante.

Nas regiões canavieiras, como em São Paulo, existe também muito malandro que toca fogo nos canaviais por vendetas trabalhistas. Outros criminosos acendem o pavio para mostrar sua perversidade, ou a de sua quadrilha, contra os poderosos. Um ataque contra a riqueza. O MST é especialista nesse embuste ideológico.

Ora, o agricultor do século 21 não tem motivo para queimar suas fazendas. No passado, poderia ter. Na era tecnológica, queimar significa perda de produtividade e, consequentemente, de rentabilidade. Nem prêmio de seguro o produtor rural recebe por isso, ao contrário daqueles que queimam fábricas ou lojas para tirar vantagem financeira.

Queimadas não têm ideologia, nem admitem preconceitos. Essa é a lição principal.

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