The news is by your side.

Já começou a operação abafa da militância no caso Silvio Almeida

0

(Madeleine Lacsko, publicado no portal O Antagonista em 11 de setembro de 2024)

 

É sempre assim: a sociedade se organiza para que o assediador saia ganhando, mesmo quando tudo parece indicar o contrário. No caso de Silvio Almeida, muitos vão dizer “mas ele foi demitido!” Calma, vamos entender o que está acontecendo. A história é velha e conhecida: quantos casos você já ouviu de caras que todo mundo sabe que assediam mulheres, mas ninguém faz nada? E quando alguém tenta falar, o barulho é tão grande que preferem deixar para lá. É como se a nossa sociedade tivesse um acordo tácito: proteger os assediadores e desincentivar as vítimas a falarem.

No caso de Silvio Almeida, o maior cancelador do Brasil não foi cancelado por denúncias de assédio. Ele não caiu por isso. Foram quatorze denúncias formais de assédio, e nenhuma delas resultou em consequência. Nada. Absolutamente nada. As instituições falharam. E quando não há punição, a mensagem é clara: denunciar assédio formalmente não adianta nada. Você, que conhece casos de assediadores conhecidos, sabe que eles continuam por aí, com os mesmos conselhos de sempre: não entre no elevador sozinha, não deixe a porta fechar, vá acompanhada. Enquanto não houver um sistema que funcione, esses caras vão continuar.

No caso específico de Silvio Almeida, o que funcionou? Foi o cancelamento. Não foi uma instituição séria, não foi um processo formal. Foi um movimento de cancelamento que o derrubou, e rápido. Dois anos de denúncias formais não deram em nada, mas um dia de cancelamento foi o suficiente. E aqui está o problema: o cancelamento, como um capanga contratado, pode até acertar um culpado, mas também elimina inocentes. Precisamos de um sistema que funcione para punir culpados, não para promover interesses escusos e sair cancelando por conveniência.

É fácil cair na tentação de comemorar a queda de Silvio Almeida, especialmente considerando seu histórico de cancelamentos, como no caso de Antônio Risério. Almeida, que se posicionava como defensor dos direitos humanos, usou do seu poder para cancelar quem ousasse discordar dele, acusando de racismo estrutural e outras coisas. Mas o que estamos vendo agora é uma ironia que revela a desconexão entre o discurso e a prática dos movimentos woke. Quando o identitarismo entra pela porta, os direitos das minorias saem pela janela.

E agora, o que temos? Uma militância woke que não sabe para onde ir. Os maiores canceladores estão confusos: não podem cancelar Silvio Almeida, apesar das denúncias. O movimento woke, com sua santificação de quem faz parte de uma minoria, está desmoronando. A realidade é que movimentos reais por direitos pedem por seres humanos, com todos os seus defeitos, não por uma figura intocável que escapa da crítica por fazer parte de uma minoria. Esse tipo de militância desconectada da realidade tem os dias contados porque simplesmente não funciona.

Enquanto alguns lamentam que o movimento negro regrediu por causa de Silvio Almeida, é importante separar as coisas: o que está em retrocesso é o movimento woke, não o movimento real por direitos. A santificação cega e a intolerância à crítica estão perdendo força, e já era hora. Afinal, defender direitos é lutar por seres humanos, e seres humanos são complexos, falhos, e ainda assim, dignos de direitos e justiça. Não é promovendo cancelamentos seletivos que vamos avançar, mas criando sistemas que realmente punam quem precisa ser punido e protejam quem precisa de proteção. E se isso soa como um choque de realidade, talvez seja o sinal de que estamos finalmente saindo da era das militâncias de fachada.

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumiremos que você está ok com isso, mas você pode cancelar se desejar. Aceitarconsulte Mais informação