O sombrio caso de Diddy
(Rodrigo Constantino, publicado no jornal Gazeta do Povo em 27 de setembro de 2024)
O mais recente caso que abalou o mundo do entretenimento foi o de Sean “Diddy” Combs, que eu ainda chamo de Puff Daddy. O procurador dos Estados Unidos para o Distrito Sul de Nova York acusa Diddy de abusar, ameaçar e forçar mulheres e outras pessoas para satisfazer seu desejo sexual, proteger sua reputação e esconder sua conduta.
De acordo com a imprensa americana, a defesa de Diddy ofereceu US$ 50 milhões em fiança para que ele esperasse o julgamento em liberdade. Mas a Justiça decidiu que Diddy ficará preso até o julgamento por considerar seu histórico de comportamento e uso de drogas e o risco de que o rapper pudesse intimidar testemunhas. A decisão da Justiça por manter a prisão preventiva também diz que Diddy é um perigo para a segurança da comunidade.
A acusação afirma que o empresário cometeu abuso verbal, emocional, físico e sexual contra mulheres e outras vítimas. Segundo a acusação, Diddy manipulava mulheres para que elas participassem em atividades sexuais altamente orquestradas da qual participavam trabalhadores sexuais homens. Segundo a acusação, Diddy teria, desde 2009, cometido vários atos de violência física contra mulheres.
Em março de 2024, uma busca realizada nas casas de Diddy em Miami e Los Angeles achou suprimentos que seriam usados nos “freak offs”, as orgias que promovia, incluindo drogas e mais de mil garrafas de óleo de bebê e de lubrificante. Nas mesmas buscas foram encontradas armas e munição, incluindo três fuzis AR-15 com os números de série apagados.
Inúmeras celebridades de Hollywood estão apagando desesperadamente suas postagens antigas ao lado de Diddy. E não faltam nomes importantes que frequentavam suas “festinhas”. Muitos já falam em um novo caso Jeffrey Epstein, na esteira também de Harvey Weinstein. Diddy inclusive estaria paranoico na prisão, com medo de ser envenenado.
A primeira reflexão possível é sobre o grau de indecência e imoralidade no comportamento dessas celebridades hollywoodianas. O segundo aspecto é que se trata da mesma turma que tem enorme poder e influência por meio de suas artes e fama, e que quer dar lições ao mundo, impor seu modus videndi, dizer como cada um deve se comportar. Por fim, não é coincidência que quase todos eles sejam democratas esquerdistas.
Em Dominion, Tom Holland argumenta que a influência cristã no Ocidente é muito maior do que se admite, inclusive em movimentos que supostamente representam uma revolta contra o cristianismo. É o caso do feminismo, do movimento do MeToo, que avançou durante o episódio do Harvey Weinstein. Quando mulheres gritam que o corpo é delas, isso não é tão natural em outras culturas. É um legado cristão.
Assim como a monogamia, o casamento fiel, conceitos que cristãos desde o começo lutaram para defender. “Que os desejos eróticos eram naturais e, portanto, bons, e que o advento do cristianismo fora como uma rajada de sopro cinzento no mundo, era há muito uma convicção popular entre a classe mais aristocrática de livres-pensadores”, escreve o autor.
Na década de 60, os hippies venderam a ideia do sexo livre. Os freios pregados pelos cristãos desde Paulo foram vistos como repressão autoritária. Todos queriam a “liberdade” de transar à vontade como se não houvesse amanhã. “Exceto que a liberdade de transar quando e como quiser tendia a ser, na antiguidade, o privilégio de uma subseção muito exclusiva da sociedade: os homens poderosos. Zeus, Apolo, Dionísio: todos eram estupradores habituais”, argumenta Holland.
Em suma, retire os freios morais cristãos e o resultado será o avanço de uma mentalidade primitiva da lei dos mais fortes. E caso as feministas não tenham notado, os homens são mais fortes em geral. E alguns deles são mais poderosos, ricos, famosos, e se sentem como deuses da antiguidade, que tudo podem fazer. O clima de bajulação em Hollywood ajuda a alimentar essa visão aristocrática. Entre seus desejos e ações, nada pode ficar no caminho. Especialmente o freio cristão.
Em essência, o abuso de homens poderosos é fruto de uma revolta contra o cristianismo. E quem quer condená-los não terá muita alternativa além de utilizar o legado cristão para fazê-lo. Basta ver o que acontece em outras civilizações, onde a mensagem cristã não deu o ar de sua graça…