Lula mente até para defender o que é justo
(Ricardo Kertzman, publicado no portal O Antagonista em 11 de outubro de 2024)
A gente sabe que está ficando velho quando uma premiada campanha publicitária tem mais de 25 anos e continua fresca na memória. Havia uma propaganda de cartão de crédito que dizia que “certas coisas não têm preço”. Para todas as outras, contudo, bastava portar o tal cartão – e de preferência pagar a fatura em dia, do contrário…
Se certas coisas não têm preço, certas coisas não têm conserto. O presidente Lula poderá mudar tudo nesta vida, menos a mania de mentir para defender o que acredita: “Não é um compromisso de campanha só. É um compromisso de justiça. Você não pode fazer com que as pessoas que ganham cinco mil reais paguem imposto de renda enquanto os caras que têm ações da Petrobras recebem 45 bilhões de dividendos, sem pagar imposto de renda”.
E continuou a “alma mais honesta deste país”: “Você não pode cobrar 27 ou 15 por cento de um trabalhador que ganha 4 mil reais e deixar os caras que recebem herança, que não paga”.
Vamos por partes
Em primeiro lugar, “Os cara que ganha 45 bilhões da Petobrais” (em Lulês) é muita gente. A começar pelo principal acionista da companhia e maior beneficiado pelos lucros bilionários da empresa, que é o governo federal. Em segundo lugar, é mentira que os investidores recebam dividendos sem pagar imposto de renda. Qualquer pessoa física que invista na estatal e afira lucro será tributado. Assim como pessoas jurídicas e cotistas de fundos que detêm ações da companhia.
Em terceiro lugar, e talvez o mais importante, investir em uma empresa não significa garantia de lucro ou dividendo. Ao contrário. Há um enorme risco envolvido, sobretudo se o Estado meter o dedo na gestão como historicamente fazem as administrações petistas. Quando Dilma Rousseff foi presidente da República, a Petrobras foi literalmente à bancarrota, tornando-se uma das empresas mais endividadas do planeta.
Outra mentira contada por Lula, na fala acima, à Rádio CBN, nesta sexta-feira, 11, são os tais 27% de imposto de renda cobrados de quem ganha quatro mil reais. A tabela de IR prevê tal tributação apenas a partir de R$ 4.664,68. “Ah, Ricardo, deixe de ser tão detalhista”. De jeito nenhum! O presidente sempre arredonda os números quando e para o que lhe convém. Estamos falando de 15% de diferença entre uma mentira e a realidade.
O passado condena
O presidente também declarou, na mesma entrevista, que, para ele, “Salário não é renda”. Bem, o que seria, então? Propina de empreiteiros, superfaturamento de obras, comissão por leis aprovadas, palestras remuneradas acima do valor de mercado, reformas em sítios? São apenas perguntas genéricas, claro, ainda que amparadas em fatos nacionais recentes.
Desde o início da guerra entre Israel e Hamas, após os ataques bárbaros de 7 de outubro de 2023 contra os israelenses – judeus ou não -, o presidente brasileiro vem mentindo compulsivamente sobre dados, fatos e estatísticas, sempre amparado pelas informações fornecidas pelo “Ministério da Saúde do Hamas”, ou mesmo pela própria fértil imaginação.
Lula já falou em hospital bombardeado por Israel, o que é mentira. Já falou em milhões de mortes de palestinos, o que é mentira. Já falou em assassinato deliberado de crianças e mulheres, o que é mentira. É notória, também, a confissão de que mentia para os estrangeiros sobre a fome no Brasil.
Defender causas justas, como o fim do flagelo palestino imposto pelo Hamas, e não por Israel, isenção tributária para quem ganha pouco e o combate à fome, é legitimo e dever de todos, sobretudo do líder de um pais. Mas há que fazê-lo de forma intelectualmente honesta, e não consubstanciado em mentiras e mistificações como faz o presidente Lula. Porém, parafraseando o conhecido provérbio, é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha que o pai do Ronaldinho dos Negócios parar de mentir.