Caso da janela do avião mostra um Brasil cansado de vitimismo e gente folgada
(Madeleine Lacsko, publicado no portal O Antagonista em 06 de dezembro de 2024)
O episódio da janela no avião e a reação das pessoas ao caso vão muito além de uma simples disputa por um assento. O que vimos foi um grito coletivo contra o comportamento de quem acredita que o mundo deve sempre se curvar aos seus caprichos. A defesa massiva e espontânea da mulher que apenas ocupava o lugar que lhe foi designado no voo é um reflexo de algo maior: a exaustão com a falta de noção, com a insistência de quem acha que tem apenas direitos e nenhum dever.
Uma criança exigia o assento específico de outra passageira e não parava de chorar. Foi filmada para ser jogada à execração pública enquanto se manteve firme e calada. Educar dá trabalho. Explicar a uma criança que ela deve se sentar no lugar indicado, que algumas coisas são inegociáveis, exige esforço. É muito mais fácil transferir essa responsabilidade para a empatia alheia, como se fosse obrigação do mundo lidar com as frustrações de quem não quer educar para a convivência.
A lógica do “eu sou vítima” parece ter se tornado uma regra social. É o que Jonathan Haidt descreve tão bem em The Coddling of the American Mind: uma geração que acredita que qualquer ofensa ou contrariedade é inaceitável.
Essa mentalidade não só incentiva a fragilidade emocional, mas também fomenta comportamentos oportunistas, como o de quem usa o papel de vítima para avançar sobre os direitos dos outros. No caso do avião, isso ficou evidente quando a mãe, convicta de que tinha razão, decidiu filmar a passageira e expô-la publicamente. A reação, no entanto, foi inesperada: a sociedade, cansada de tanto vitimismo, ficou do lado da mulher que apenas ocupava o lugar que lhe pertencia.
Todos nós já passamos por situações assim. Gente que ignora limites, que confunde empatia com subserviência, que exige que o mundo se adapte aos seus desejos enquanto se recusa a cumprir os próprios deveres. Esse comportamento, cada vez mais comum, não só desgasta quem está ao redor como gera uma sensação crescente de cansaço coletivo. Estamos todos exaustos dessa cultura de direitos sem deveres, desse apelo constante ao “ganhar no grito”.
O caso da janela do avião não é isolado. Ele é um símbolo de algo maior: uma sociedade que, aos poucos, perde a paciência com os excessos de uma lógica que prioriza a autopiedade e a falta de responsabilidade. A reação contundente dos brasileiros demonstra que há limites para a vitimização. Talvez seja hora de lembrar que, além de direitos, convivemos também com deveres. E que o respeito às regras, às vezes tão simples quanto sentar no assento indicado, é o primeiro passo para uma convivência mais saudável.