(Ricardo Kertzman, publicado no portal O Antagonista em 13 de fevereiro de 2025)
Tem se tornado cada vez mais constrangedora, e eu diria insustentável, a atuação política de Janja da Silva, a “primeira-blogueira”, atualmente primeira-dama do Brasil, obviamente apoiada e incentivada pelo próprio marido, atualmente presidente da República, Lula da Silva.
A todo-poderosa secretária, ministra ou o cargo que o valha, exercido de maneira informal, ou extraoficial, ainda que o custo milionário seja pra lá de formal e oficial, tem se tornado um verdadeiro estorvo para o governo e o próprio Brasil, e não só por seus gastos e excentricidades, mas por sua atuação desastrada, como no caso do “Fuck you, Elon Musk”.
Mesmo entre apoiadores do presidente, há quem não aceite a interferência de Janja em assuntos oficiais e o poder que exerce sobre ministros e empresas estatais, sem falar, é claro, no controle de parte da agenda presidencial.
Mãos à obra, oposição
Não é à toa, portanto, que parlamentares em todas as esferas (municipal, estadual e federal) estão se movimentando para investigar e pedir providências sobre a atuação de Janja.
O vereador Guilherme Kilter, do Novo, de Curitiba, por exemplo, ajuizou uma ação popular contra os gastos da primeira-dama, pedindo a suspensão imediata das despesas e a demissão da equipe de assessores.
O deputado estadual Gustavo Zacarias, do União Brasil, de São Paulo, de forma bem-humorada, mas assertiva, criou o Janjômetro, e divulga os gastos da primeira-dama com base nas apurações que consegue, através da Lei da Transparência, lembrando que boa parte dos gastos de Janja são colocados sob sigilo.
Escárnio público
Já o deputado federal Luciano Zucco, do PL do Rio Grande do Sul, líder da oposição na Câmara, lançou uma espécie de “Pacote Anti-Janja”, uma iniciativa conjunta com parlamentares da oposição, para apurar as atividades e os gastos da primeira-dama.
No caso da mais nova viagem “oficial”, à Roma, apenas com quatro assessores, a “primeira-blogueira” torrou 24 mil reais dos brasucas. Estamos falando de seis mil reais para cada um. Foram duas diárias e meia para cada “aspone”, algo como R$ 2.400, ou cerca de 415 dólares por dia. Ou seja, cada um levou quatro salários mínimos extras (pois os salários regulares são pagos normalmente), por dois dias e meio de trabalho (diárias).
Dolce Vita
Tais diárias de viagem internacional, é importante lembrar, não incluem passagens aéreas, alimentação em eventos e hospedagem. Ou seja, são cerca de 400 dólares “livres”. Nada mal, não é mesmo?
Para um governo que jura trabalhar pelos pobres, em defesa dos pobres, e avança com fúria incontrolável sobre o bolso dos cidadãos e o caixa das empresas, em busca de receitas extras para custos “sociais” (faz-me rir, pois não aguento mais chorar), pagar quatro salários mínimos – por dois dias de trabalho! – a quem já recebe uma bolada se comparada ao rendimento médio nacional, é no mínimo hipocrisia, que prefiro chamar de picaretagem.
Lula e o PT, historicamente, adoram um 0800, sobretudo se for internacional. Janja da Silva, por óbvio, não poderia ser diferente. Ao contrário. Vem cumprindo com louvor seu papel de “primeira-perdulária”, ou como a apelidaram, “Esbanja”. Paris, Nova York, Roma… Que delícia ser primeira-dama sob um governo petista, desde que, claro, com o dinheiro dos outros.