Gleisi e Lula totalmente “fora da casinha” após Datafolha demolidor
(Ricardo Kertzman, publicado no portal O Antagonista em 15 de fevereiro de 2025)
“Nada está tão ruim que não possa piorar”, segundo um tradicional e corretíssimo ditado popular. Ao contrário do que muitos pensam, não há nada de místico, ou por conta e ordem do acaso, no ensinamento acima. Bem como a intuição nada mais é do que uma espécie de constatação da realidade pouco percebida, ou seja, de inexplicável ou sobrenatural, não há nada. Situações ruins, na ausência de “remédios”, tendem ou irão piorar.
O governo Lula 3 não é ruim; é péssimo! Não apenas não entrega o que prometeu como entrega o oposto do que prometeu. Exemplo: não apenas não entregou a picanha, como retirou o patinho da mesa do trabalhador mais humilde. Além disso, é um governo sem plano, sem planejamento, sem rumo, sem bandeiras, sem marca. Discursos vazios, populistas, ainda ligados a temas de 1980, 1990, 2000, que já não colam mais.
Lula continua guerreando contra o “capitalismo americano”, demonizando publicamente “empresários gananciosos que não gostam de pobre andando de avião”, atacando o mercado financeiro “que não quer preto na universidade”, distribuindo cesta básica, dentadura, fralda, absorvente, gás etc., como se os tempos não tivessem mudado e os anseios – inclusive dos mais pobres – não passassem longe de apenas conquistar coisas básicas.
Choque de realidade
A quebra total do monopólio da informação e a descentralização dos meios de comunicação impedem que as mentiras oficiais não sejam desmentidas, como antes, e que as poucas boas notícias do governo não tomem lugar das inúmeras más notícias. Para cada dado positivo, por exemplo, sobre desemprego (que, sim, está muito baixo), há um Pix ou uma Janja no meio do caminho. Outro dia, alguém disse acertadamente: “O povo não come PIB.”
No caso do PT, notadamente de sua presidente e porta-voz sempre histriônica, a deputada federal Gleisi Hoffmann, tanto pior. Ou escolhem lados errados para apoiar, como o ditador Nicolás Maduro e o grupo terrorista Hamas, ou investem ferozmente – não raro, mentindo sem pudor algum – contra os mensageiros (imprensa, iniciativa privada, Banco Central etc.) das mensagens produzidas pela má administração de seu próprio chefe.
O lulopetismo culpa e acusa todo mundo, o tempo todo, por tudo de ruim no país, reservando a si, apenas os louros (cada vez mais raros). O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, apelidado de Taxadd, diz que o povo não compreende os feitos do governo. Lula culpa o consumidor, que não sabe comprar comida barata, pela inflação. Paulo Pimenta, que caiu e cedeu lugar a Sidônio Palmeira na Comunicação, culpava as fake news (quais?).
Cara de pau olímpica
Após a divulgação da demolidora pesquisa do Datafolha, na sexta-feira (14), reforçando a tendência de queda da aprovação e aumento da rejeição ao governo, já capturada por outros institutos anteriormente, a “bateção de cabeça” no lulopetismo atingiu o ápice, e o descolamento da realidade tomou conta especialmente dos próprios Lula e Gleisi, em discursos e publicações completamente “fora da casinha”.
Em evento na própria sexta-feira, no Pará, Lula disse: “Eu quero construir esse país num país de trabalhador bem-remunerado, de empreendedores bem-sucedidos, um país de classe média. Não pensem que o Lula gosta que as pessoas sejam pobres. Ninguém gosta de comer mal, ninguém gosta de vestir mal, ninguém gosta de morar mal e é esse país que a gente tem de construir, e não fazer promessa eleitoral que a gente não cumpre”.
Sim, eu sei. O leitor amigo, a leitora amiga devem estar se revirando em cólicas, tamanha a hipocrisia e tamanho o cinismo da fala. É tudo o que Lula e o PT sempre pregaram (culto à pobreza e demonização da riqueza) e sempre fizeram (prometeram e não cumpriram). O discurso caminha na mesma direção, agora, do que seus adversários políticos defendem há décadas, ainda que, uma vez no poder, não pratiquem. Não vai colar!
Fala, “Crazy Hoffmann”
Já na campanha eleitoral do ano passado, assistimos a Guilherme Boulos defender o empreendedorismo. Lula falando nisso soa tão falso quanto, e, intuo, fará efeito contrário ao pretendido, já que não irá convencer ninguém. Sobre a classe média, é notório o desprezo do lulopetismo, já apontado em outros textos meus, a partir de declarações dos próprios: “Eu odeio a classe média” (Marilena Chauí, segundo Lula, uma grande intelectual).
Outra declaração insana, mas totalmente condizente com o histórico da autora e do próprio partido, partiu de Gleisi Hoffmann. Ao comentar a pesquisa do Datafolha, em que apenas 24% dos entrevistados aprovam o governo, a “amante” – das planilhas de propinas dos empreiteiros corruptos flagrados pela operação Lava Jato, como recentemente lembrou Deltan Dallagnol – publicou em suas redes sociais:
“A pesquisa Datafolha é o reflexo dos dois meses mais difíceis para este governo. Tivemos a especulação desenfreada com o câmbio, que também afetou os preços dos alimentos, o aumento do imposto estadual sobre a gasolina, as péssimas notícias sobre o aumento dos juros, o terrorismo sobre o resultado fiscal e a maior fake news de todos os tempos, sobre a taxação do Pix”. Sim. É isso mesmo. Vocês entenderam bem.
São incorrigíveis
Em outras palavras, o que a sapiente iluminada petista quis dizer foi mais ou menos o seguinte: fazemos tudo certo, mas vocês, burros que acreditam em fake news, e ingratos que não reconhecem como somos bonzinhos e eficientes, não entendem. Por isso, nos avaliam mal, ainda que estejam morando bem, comendo bem, se locomovendo de forma rápida e segura, tendo segurança e saúde públicas de primeira, etc. etc. etc.
O descontrole das contas públicas (uma realidade), no Dicionário de Língua Gleisiniana é somente “Terrorismo sobre o resultado fiscal”. Os juros de 13.25% ao ano (uma realidade), “Péssimas notícias sobre juros”. A fiscalização, com vias à cobrança de impostos, sobre as transações via Pix (uma realidade, inclusive comprovada pelo O Fator, parceiro de O Antagonista em Minas Gerais), “A maior fake news de todos os tempos”.
A mim não me surpreende nada. Ao contrário. Se tem uma coisa que não falha é o modus operandi petista. É o tal do “não aprendem nada, não esquecem nada”. E atenção: vem mais por aí. Essa gente sempre dobra, redobra e quadruplica suas apostas em más escolhas e más práticas como forma de gestão pública e embate político. O assistencialismo eleitoreiro irá aumentar e os ataques e mentiras, idem. Essa turma, mais uma vez, “fará o diabo” para ganhar as eleições.