(Ricardo Kertzman, publicado no portal O Antagonista em 26 de fevereiro de 2025)
A casa grande Brasília continua usando e abusando da senzala Brasil. Trocamos a coroa portuguesa pela corte política, com iguais poderes absolutistas sobre os súditos modernos, chamados cinicamente de “contribuintes”.
Lula, o Rei Sol das bananas, jacta-se por prover dentaduras aos desdentados; casas aos desabrigados; absorventes a quem sangra pelo abandono estatal. Bobagem. O dinheiro não é dele. Alguns programas, sim. E olhe lá.
O pai dos pobres vive dizendo: “Nunca antes na história desse país”. Acredita e anuncia, mentindo, ser o dono de todas as (poucas) boas coisas do Brasil, furtando-se sempre de suas responsabilidades pelo que há de pior.
Janjatour
Por exemplo: ele não fala de palácios, charutos cubanos, vinhos raros, sítios e coberturas nas montanhas e no litoral. Muito menos em gastos (recorde) com cartão corporativo e despesas pessoais, disfarçados de trabalho, da primeira-dama Janja da Silva.
A moça passeia que é uma beleza! Sempre acompanhando, ou acompanhada, de um extenso séquito serviçal. As expensas são milionárias, já que o luxo impera (imperadores e imperatrizes, afinal). E suportadas por quem mesmo?
Recentemente, em visita à Roma, na Itália, a “primeira blogueira” (termo do Felipe Moura Brasil) torrou cerca de 300 mil reais ao lado de sua entourage. Apenas sua ‘passagem, de classe executiva, é claro, nos custou 34 mil reais.
Quem pode, pode
Se viajasse de classe econômica, Janja, que nem servidora pública é – muito menos ministra de Estado, o que justificaria o mimo -, gastaria cerca de 5 mil reais. Eis um governo que cuida bem dos ricos com o dinheiro dos pobres.
“Ah, Ricardo, você quer que a primeira-dama voe de econômica”? Eu não. Ela viaja como quiser, desde que não seja eu o financiador compulsório. Mas tão ou pior que o gasto inútil são o conceito e o desprezo pelo dinheiro alheio.
Tal fato não apenas revela a índole pessoal do presidente da República como é a cara deste seu terceiro governo, afundado em desconfiança generalizada: políticos, mercado financeiro, países desenvolvidos, empresários e… povo!
Números não mentem
As últimas pesquisas de opinião reforçam o que muitos já sabiam, poucos – como O Antagonista – já criticavam, e o governo e seus puxa-sacos não apenas não ouviam como nos acusavam de ser mentirosos, fascistas, especuladores etc.
Lula venceu a eleição em 2022 com margem mínima, já tendo a resistência feroz de metade do eleitorado (bolsonaristas e antipetistas) e o desprezo de significativa parcela (votos nulos e brancos). Ou seja: foi escolhido pela minoria dos eleitores.
Ainda que seu governo fosse bom, continuaria rejeitado pela metade do país. Fazendo um governo pífio, tanto pior. A pesquisa Quaest, divulgada nesta quarta-feira (26), mostra que em São Paulo, por exemplo, sua reprovação chega a 69%.
Em franca decadência
No Rio de Janeiro, a rejeição a Lula é de 64%. Em Minas Gerais, 63%. Em Pernambuco, reduto eleitoral do petista, 50% desaprovam seu governo. No geral, mais da metade dos brasileiros rejeita a administração da “alma mais honesta deste país”.
Dias atrás, Lula, de forma incrivelmente indevida, constrangeu uma senhorinha pobre durante um evento, fazendo graça com sua falta de dentes. Messiânico, vociferou: “Nós damos dentaduras para pessoas como a senhora.”
O chefão do PT ainda vive no mundo das cestas básicas e do voto de cabresto. Como foi bem-sucedido antes, com as falácias eleitorais envolvendo o Bolsa Família, acredita que tudo continua igual. Só que o mundo mudou, o Brasil mudou, as pessoas mudaram.
Picanha e ovo também
Não basta mais só um saco de arroz e um litro de leite para “ganhar” o eleitor, ou melhor, a maioria do eleitorado. Lula pode distribuir quantas dentaduras ou absorventes quiser, mas se a população não conseguir se alimentar minimamente bem, já era.
Temos milhões de brasileiros que não vivem; apenas sobrevivem. Moram mal, se locomovem de forma quase medieval, espremidos em ônibus e trens lotados, presos em congestionamentos bizarros. É preciso mais que um simples prato de feijão com arroz, portanto.
As pessoas querem viver melhor, ter acesso a bens materiais e a um mínimo de lazer. Querem progredir, empreender e desejam ver-se livres do Estado, e não continuar escravas e dependentes de governante algum.
Só Lula e o PT ainda não enxergaram. É o que mostram todas as pesquisas. Mas sabem como é, né? Devem pensar: “Que povo mais chato! O que querem de nós? Comer picanha? Desse jeito, daqui a pouco, vão querer comer ovo também. Bora pra Paris, Janja!”