Astronautas que ficaram ‘presos’ no espaço por 9 meses voltam à Terra
BBC
Dois astronautas da agência espacial americana Nasa que passaram os últimos nove meses orbitando a Terra na Estação Espacial Internacional (EEI) chegaram com sucesso aos Estados Unidos nesta terça-feira (18/03).
A viagem de Suni Williams e Butch Wilmore para casa durou quase 17 horas.
A cápsula SpaceX Dragon onde eles fizeram a viagem pousou no mar da Flórida, como era previsto.
Um grupo de golfinhos rodeou a cápsula enquanto ela balançava no mar, esperando para ser levada a um navio de resgate.
“A tripulação está ótima”, diz Steve Stich, gerente do Programa de Tripulação Comercial da Nasa em entrevista coletiva.
Ele acrescentou que os astronautas passarão “algum tempo” em recuperação antes de retornarem para Houston.
Assim que forem liberados por médicos, os astronautas poderão se reunir com suas famílias — normalmente depois de cerca de um dia.
Suni e Butch deixaram a Terra em junho de 2024 para uma missão de apenas oito dias para testar uma cápsula espacial desenvolvida pela Boeing, a Starliner.
A cápsula sofreu problemas técnicos, então a Nasa decidiu manter os astronautas na EEI e enviar a Starliner vazia de volta para a Terra — a agência espacial avaliou que seria muito arriscado para a dupla voltar na cápsula da Boeing.
A cápsula SpaceX Dragon que transportou os astronautas nesta terça se desconectou da estação espacial por volta das 5h GMT (2h da manhã em Brasília)
Suni e Butch voltaram para a Terra acompanhados do astronauta da Nasa Nick Hague e do cosmonauta russo Aleksandr Gorbunov. Hague e Gorbunov chegaram à estação espacial em setembro.
A cápsula SpaceX Dragon fez uma reentrada rápida pela atmosfera da Terra, suportando temperaturas de até 1.600 ºC.
Um escudo térmico protegeu Suni e Butch e os outros dois astronautas.
Conforme a nave atingiu a atmosfera, ela começou a desacelerar rapidamente e os astronautas experimentaram forças g significativas — cerca de quatro vezes a gravidade da Terra.
Finalmente, quatro grandes paraquedas se abriram — provavelmente com um solavanco sentido pela tripulação —, mas isso permitiu que a nave desacelerasse o suficiente para um mergulho suave no oceano.
Os obstáculos enfrentados pela Starliner – e pela Boeing
A cápsula Starliner apresentou vazamentos de hélio, que empurra combustível para o sistema de propulsão, e vários de seus propulsores não funcionaram corretamente.
O voo tripulado da Starliner, que foi conduzido por Suni Williams and Butch Wilmore em junho de 2024, já havia sido adiado por vários anos devido a contratempos em seu desenvolvimento e problemas técnicos em dois voos não tripulados anteriores, em 2019 e 2022.
Representantes da Nasa disseram recentemente que estão progredindo no entendimento do que deu errado com o teste e esperam que a Starliner voe novamente no final do ano ou no início de 2026.
Os problemas com a Starliner sem dúvida foram um golpe forte para a Boeing, analisa Rebecca Morelle, editora de ciência da BBC.
A empresa aeroespacial já vinha sofrendo com perdas financeiras enquanto lutava para recuperar sua reputação após incidentes recentes em voos e dois acidentes fatais há cinco anos.
A Boeing se posicionou contra a decisão da Nasa de trazer a cápsula vazia de volta — e, agora, a empresa teve que assistir Butch e Suni retornarem à Terra na nave espacial da empresa rival SpaceX, em vez da sua própria.
Caso atraiu atenção de Trump e Musk
Em fevereiro, a saga de Butch e Suni atraiu a atenção do presidente dos EUA, Donald Trump, e seu aliado próximo, o CEO (diretor-executivo) da SpaceX, Elon Musk.
Em uma entrevista à Fox News, eles alegaram que os astronautas foram deixados no espaço por razões políticas.
Musk também afirmou na sua rede social X que a SpaceX poderia ter trazido Butch e Suni de volta mais cedo, e que o governo anterior, de Joe Biden, teria recusado sua oferta.
Mas representantes da Nasa disseram que suas decisões foram baseadas na programação de missões e nas necessidades da estação espacial.
Garrett Reisman, um ex-astronauta da Nasa e ex-diretor de operações espaciais da SpaceX, disse à BBC que havia boas razões para a Nasa não ter feito uma missão de resgate antes.
“Isso não reduziria muito o tempo que Butch e Suni passaram no espaço. Quero dizer, você economizaria alguns meses, então o benefício não seria tão grande”, disse ele.
E o custo seria alto: missões espaciais com tripulação custam centenas de milhões de dólares.
Em entrevista coletiva nesta terça-feira, após a chegada dos astronautas, Joel Montalbano, administrador associado adjunto da Diretoria de Missões de Operações Espaciais da Nasa, disse que Suni e Butch fizeram 150 experimentos e 900 horas de pesquisa durante sua estadia na estação internacional.