(Madeleine Lacsko, publicado no portal O Antagonista em 31 de março de 2025)
Janja ressignificou o papel de primeira-dama. Agora, a função é ser a kriptonita política do marido. Janja faz mais estrago na imagem do Lula do que toda a oposição ao PT já conseguiu fazer. E olha que boa parte da oposição nem foca no Lula, está mais interessada em bater nos liberais, nos isentões, nos moderados. Janja bate direto onde mais dói: na popularidade do marido.
Lula, que já não está bem com os evangélicos e agora vê setores da esquerda perseguindo os católicos, resolveu espezinhar as donas de casa do Brasil. Já tinha mexido com a mulherada quando soltou a frase: “sou amante da democracia”, dizendo que os homens gostam mais das amantes que das esposas. A mulherada entendeu o recado. Agora veio mais uma: “Janja não nasceu pra ser dona de casa”. Falou como se a função fosse algo menor. Que bela homenagem à memória de dona Marisa.
Qual o problema de uma mulher ser dona de casa? Se Janja não nasceu para isso, direito dela. Poderia fazer como todas as mulheres com esse tipo de vocação e ir trabalhar, conseguir as coisas com esforço próprio. Viajar o mundo como chaveirinho do presidente, usando dinheiro público, não é trabalho. E definitivamente não é feminismo.
Se fosse empresa privada, gastando com o dinheiro do dono, já teria funcionário reclamando do ridículo da situação, em que gente preparada é preterida. O problema é que Janja não tem cargo. E mesmo assim, faz viagens oficiais, dá declarações como se representasse o governo e posa como figura de Estado. Isso é ilegal. Ela não foi eleita. Ela não foi nomeada. Ela não tem função. E mesmo assim, quem paga a conta é o contribuinte.
Lula, pra tentar defender essa aberração, humilhou as donas de casa do Brasil. E ainda manchou a memória de Marisa Letícia, que foi companheira dele por quatro décadas e teve orgulho de ser dona de casa. A fala parece saída de um clichê de homem em crise de meia-idade: trocando a mulher que construiu tudo com ele por alguém mais jovem, tentando bancar o vovô garoto enquanto solta frase machista atrás de frase machista.
Janja diz querer ressignificar o papel de primeira-dama. Tudo o que ela propõe já é feito há décadas. Em 1995, Ruth Cardoso já falava desse tema e dessa realidade em programas de televisão populares. Tantas outras primeiras-damas já tiveram papel de destaque político ao longo do século XX. A diferença? Elas entregam resultados. Elas sabiam que estavam ali como esposas de quem foi eleito, não como protagonistas.
Janja fala muito. Diz que vai combater a fome. Mas, por enquanto, a única fome que parece estar matando é a dela e da comitiva que a acompanha nos jantares em Roma e Paris. E Lula, ao invés de resolver a situação, dobra a aposta.
Segundo as pesquisas, a rejeição de Janja só cresce. Ponto curioso é que sua desaprovação entre lulistas é maior do que na direita. Sim: a esquerda rejeita mais a Janja do que a direita. Talvez porque a direita se sinta mais perto da volta à presidência cada vez que Janja resolve abrir a boca.