Paute a anistia, Hugo Motta!
(Marcel Van Hattem, publicado no jornal Gazeta do Povo em 08 de abril de 2025)
A manifestação em São Paulo do último domingo (6) a favor da anistia demonstrou claramente: há sobejo apoio popular para a proposta. Não apenas em virtude do grande número de brasileiros que lotaram a Avenida Paulista, mas também pela relevância política de quem esteve no caminhão de som. Dezenas de deputados e senadores, o ex-presidente Jair Bolsonaro e nada menos que sete governadores dos mais importantes estados brasileiros estiveram presentes: São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso, Amazonas, Goiás. O governador do Rio de Janeiro só não participou em virtude das fortes chuvas que castigam o território do estado que administra.
Também em comparação com as recentes manifestações de esquerda contra a anistia humanitária, o evento do último domingo foi notável. Enquanto Guilherme Boulos (PSOL) e seus apoiadores mal conseguiram cercar um carro de som na semana anterior, o verde e amarelo cobriu vários quarteirões da mais conhecida avenida da capital paulista pedindo perdão e justiça aos condenados do 8 de Janeiro. O tema, finalmente, parece ter pegado a tração social que merece e precisa.
Lembro-me bem de quando, pela primeira vez, visitei o presídio da Papuda, no Distrito Federal, poucas semanas após o 8 de Janeiro, e como fiquei chocado com o que vi. O sofrimento e a injustiça que presenciei viraram uma coluna na Gazeta do Povo que, até hoje, quando releio, me causa profunda emoção: “Até quando toleraremos tamanha injustiça?”. O batom de Débora Rodrigues e sua condenação estapafúrdia a 14 anos de cadeia parecem ter, finalmente, estabelecido o início do fim desse martírio involuntário de centenas de brasileiros.
Agora, cabe à Câmara dos Deputados pautar o Projeto de Lei 2858/2022 e encerrar esse triste capítulo da história nacional. É preciso pacificar o país. E, acima disso, é preciso fazer cessar o sofrimento de brasileiros que cometeram crimes menores – ou não cometeram crime algum – mas que estão sendo perseguidos e crucificados por suas opiniões, manifestações e ideais políticos. Uma democracia não pode conviver com isso e, nesse regime, é o Parlamento quem dá a palavra final.
É já de conhecimento público que a maioria está formada na Câmara para aprovar uma anistia neste momento. Assim como em tantos outros períodos da nossa história, também agora precisamos dar esse importante passo legislativo. Não obstante os levantamentos publicados pela imprensa, Hugo Motta e líderes partidários relutam. A oposição, em contrapartida, obstrui as votações para insistir em pautar o projeto com urgência.
Hugo Motta, presidente da Câmara dos Deputados: paute o projeto da anistia. Há muitos temas importantes no Brasil, urgentes, com certeza! No entanto, para que possamos, enfim, virar esta página sombria da nossa história – marcada por violações de direitos humanos, abusos e perseguições políticas –, é fundamental que a Câmara delibere sobre o tema. Paute a anistia, Hugo Motta. Não podemos mais tolerar tamanha injustiça, chega!