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‘O acerto pra campanha de Humala foi com o Palocci e Lula’, disse Marcelo Odebrecht

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O Antagonista

 

O empresário Marcelo Odebrecht, ex-presidente da construtora que leva o sobrenome de sua família, atribuiu a Lula e ao ex-ministro de governos petistas Antônio Palocci o “acerto” para o pagamento de US$ 3 milhões à campanha de Ollanta Humala, ex-presidente do Peru condenado pela Justiça peruana junto com sua esposa, Nadine Heredia, na terça-feira, 15 de abril de 2025, por recebimento e lavagem desse dinheiro.

O próprio presidente Lula concedeu asilo político a Nadine, que entrou na Embaixada do Brasil, em Lima, no mesmo dia da condenação, antes da divulgação da sentença, e chegou a Brasília na quarta-feira, 16, em avião da Força Aérea Brasileira (FAB).

“O acerto pra campanha de Humala foi com o Palocci e Lula”, disse Marcelo Odebrecht em 18 de setembro de 2018, em depoimento de colaboração premiada realizado no âmbito da Operação Lava Jato, ao explicar o contexto de um e-mail enviado em 21 de junho de 2011 a Luiz Antônio Mameri, então diretor da construtora para a América Latina.

O que dizia a mensagem original?

O e-mail, identificado no item 1.4 do relatório 100 dos autos do processo, dizia:

“Qd mencionar ao amigo de BJ que o acerto do evento foi com Italiano/amigo de meu pai, e não com PT, importante não mencionar nada sobre minha conta corrente com Italiano pois só ele e amigo de meu pai sabem.”

Na mensagem, Marcelo Odebrecht orientou Mameri a passar a informação sobre o referido “acerto” com Palocci, codinome “Italiano”, e Lula, codinome “amigo de meu pai”, ao publicitário Valdemir Garreta, ex-marqueteiro do PT que, nas palavras do empresário, tinha “coisa no Peru” e “tava apoiando” a campanha de Humala.

Garreta era amigo de Benedicto Barbosa da Silva Júnior, o “BJ”, ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura e comandante do Setor de Operações Estruturadas da empresa, que ficou conhecido como “departamento de propina”. Lá, os créditos das pessoas associadas a cada codinome ficavam registrados em planilhas, das quais eram abatidas as despesas a partir de pedidos de pagamentos.

Como foi a explicação da mensagem?

Eis a explicação completa de Marcelo Odebrecht sobre o e-mail identificado no item 1.4 do relatório 100 dos autos do processo:

“Foi pra MAMERI. Esse foi o assunto de OLLANTA HUMALA. OLLANTA HUMALA, quem tinha coisa no Peru, que tava apoiando a campanha de OLLANTA HUMALA, era o GARRETA. E GARRETA era amigo de JUNIOR. Era da relação de JUNIOR, que não tinha nada a ver com esse assunto. Esse assunto tinha a ver com o PERU que era LUIZ ANTÔNIO MAMERI. Então eu falei ‘quando mencionar ao amigo de JUNIOR…’, que é GARRETA, ‘…que o acerto do evento…’, que [é] o tal do OLLANTA HUMALA, ‘…foi com o ITALIANO/amigo…’, que é o ITALIANO e LULA e meu pai [Emílio Odebrecht, de quem Lula é amigo], ‘…e não com o PT’. Ou seja, eu disse: ‘MAMERI, quando você falar com GARRETA, diga que o acerto pra campanha de HUMALA foi com o PALOCCI e LULA, e não com o PT’.

(…) Agora, eu enfatizo assim: importante que não mencionem nada sobre a conta corrente com o ITALIANO. Não fale pra GARRETA de minha conta corrente com o ITALIANO. Quer dizer, o MAMERI e os outros LEs [líderes empresariais] sabiam da conta corrente, porque até eram responsáveis pelo crédito, mas eles não sabiam pra onde iam os pagamentos, o valor global, entendeu? Cada um sabia da sua parte. ‘…pois só ele e ITALIANO e amigo de meu pai sabem’. Pois só o PALOCCI e o LULA sabem… do valor global…

(…) Muita gente acabou sabendo que tinha uma conta corrente, mas o valor global só quem sabia era eu, meu pai, PALOCCI e LULA. O resto sabia das partes. Do que lhe cabia. Quer dizer, o pessoal…o BERNARDO GRADIN sabia dos 50 milhões da BRASKEM, que foi o dinheiro dele, o MAMERI sabia dos 64, e por aí vai. E os pagamentos né. Alguns sabiam dos pagamentos. O MAMERI sabia que eu tinha dado pro OLLANTA HUMALA… Ele sabia, por exemplo, de EL SALVADOR, mas ele não sabia do valor [R$ 4 milhões] que eu tinha dado pro INSTITUTO LULA. Entendeu?”

Em petição de fevereiro de 2018 encaminhada ao então juiz Sergio Moro, os advogados de Marcelo Odebrecht haviam afirmado que o e-mail de 2011 “reforça o conhecimento de Lula sobre a ‘conta-corrente’ mantida com Antônio Palocci (Italiano)”.

Palocci atribuiu o pedido a Lula?

Já Palocci atribuiu exclusivamente a Lula a origem do pedido feito à Odebrecht pelo repasse de recursos à campanha de Ollanta Humala, codinome “OH”.

O relatório policial do depoimento de colaboração premiada de Palocci diz o seguinte:

“Referente às despesas elencadas na planilha ‘Posição Programa Especial ITALIANO’, especificamente quanto à despesa de 2011 debitada como ‘Programa OH’, a qual era atribuída o valor de R$ 4.800.000,00, esclarece o COLABORADOR que se tratava de pedido de LULA destinado a ALEXANDRINO ALENCAR para a campanha de OLLANTA HUMALA.”

Em fevereiro de 2016, a Lava Jato apontou, em um dos documentos apreendidos, “menção a ‘Programa OH’, referência ao [então] presidente do Peru, OLLANTA HUMALA, vinculado ao valor de R$ 4.800.000,00 – em verdade USD 3.000.000,00 convertidos para o real através de cotação de R$ 1,60”.

Como resumiu o Ministério Público Federal brasileiro, “pesquisa em fontes abertas demonstrou a realização de diversas obras no país pela ODEBRECHT, muitas das quais financiadas pelo governo brasileiro, havendo contundentes indícios de prática de lobby pela empreiteira junto a agentes políticos peruanos, assim como de financiamento de campanhas eleitorais pela ODEBRECHT”. De acordo com os investigadores, “a anotação 10018 do celular de MARCELO ODEBRECHT traz menção a ‘OH vs humildade’ e valores em espécie (‘cash’) remetidos para o Peru”.

Como foi a ordem de Marcelo Odebrecht?

Segundo o também colaborador Jorge Henrique Simões Barata, ex-diretor da Odebrecht no Peru, a ordem para fazer o pagamento para Ollanta Humala chegou por meio de Marcelo Odebrecht, que atendia a um pedido do PT.

“Em um determinado momento, eu recebi uma ligação do doutor Marcelo Odebrecht dizendo que iríamos apoiar a campanha do senhor Ollanta Humala. (…) Pedindo que a gente contribuísse com US$ 3 milhões na campanha. (…) Veio do Partido dos Trabalhadores. Tudo isso, a gente foi sabendo depois. Ele [Marcelo Odebrecht] falou: ‘É pra fazer’. Rapaz, mas não pode. Por que que nós vamos aportar a um candidato que não é um candidato adequado pro país? Não é um candidato adequado pra empresa. Qual a lógica disso? Ele falou: ‘Barata. Faça, escute e execute.’”

Como Marcelo Odebrecht separava em planilhas diferentes de pagamento os pedidos de origens distintas, ele chegou a fazer em seu depoimento uma distinção entre Lula, Palocci e PT, atribuindo o “acerto” do caso peruano aos dois primeiros; mas o subordinado Jorge Barata, que ouviu e cumpriu a ordem do empresário, referiu-se genericamente ao partido liderado por Lula, em cujo governo Palocci era ministro.

O que disse a juíza peruana?

A juíza peruana Nayko Coronoado Salazar, na leitura da sentença emitida pelo Terceiro Juizado Penal Colegiado Nacional, mencionou a relutância do então diretor local.

“Estes funcionários ou diretores da empresa aludem em diversos âmbitos à contribuição com o partido político liderado pelo senhor Ollanta Humala. Por exemplo, Luiz Antonio Mameri, que representava a empresa em nível latino-americano, ressalta que o senhor [Marcelo] Odebrecht lhe disse que essa contribuição tinha que ser feita. E ele afirma (…) que ele autorizou, mas que sentiu uma certa relutância do senhor Jorge Barata.

Porque disse Barata, e nós também ouvimos, que não era uma questão de apoio a uma candidatura que não tinha o respaldo do empresariado naquele momento. Muito pelo contrário. Que não era sua opinião que esse apoio deveria ser dado àquela campanha de 2011 aqui no Peru para o senhor Ollanta Humala. No entanto, essas pessoas – tanto o senhor Mameri, o senhor Odebrecht e o senhor Barata – referem que foi feito um telefonema, no qual o senhor Odebrecht disse, mais ou menos nesses termos: ‘Isso não é uma consulta, aqui não é para que opinem, isso é uma ordem e ponto.’

A ordem tinha que ser cumprida e, mesmo com a relutância do senhor Barata, ele [Mameri] afirma que teve que cumprir. E o senhor Barata é quem diz que entregaram recursos ao senhor Ollanta Humala, especificamente através da senhora Nadine Heredia.”

Ou seja: o Supremo Tribunal Federal brasileiro varreu provas da Lava Jato para debaixo do tapete, mas não impediu a condenação no Peru, nem vai apagar a história dos fatos.

A eleição de Humala interessava a Lula e PT?

Marcelo Odebrecht, no depoimento de 18 de setembro de 2018, explicou ainda que “todos os pedidos”, viessem eles de Lula ou do PT, “eram pedidos do interesse do partido”, à exceção daquele relativo ao Instituto Lula.

“Aí vai me perguntar o seguinte: sim, o que é que tem a ver o EL SALVADOR e OLLANTA HUMALA no PERU? É interesse do partido. Ou seja, o PT tinha um interesse geopolítico… Quando eu digo assim, se era o PT ou se LULA, mas tudo aqui era para interesses políticos. Todos. Todos. A única exceção, que foi pro INSTITUTO (…).”

Em outras palavras, Lula queria a vitória do aliado Ollanta Humala, de modo que Marcelo Odebrecht, interessado em continuar abocanhando contratos públicos durante os governos do PT, impôs ao diretor da construtora no Peru o pagamento de US$ 3 milhões à campanha, cujo caixa paralelo era administrado por Nadine Heredia.

Como a Odebrecht faturou dezenas de bilhões de reais no capitalismo de compadrio do BNDES e no esquema de corrupção da Petrobras, o Brasil exportou corrupção para o Peru e agora exporta impunidade, com o asilo político à ex-primeira-dama peruana.

Como ficou mais claro do que nunca após a fraude eleitoral cometida pelo ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, Lula sempre blinda os aliados que sabem demais.

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