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Nota de Barroso à “Economist” é mentira em papel timbrado do STF

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(Paulo Polzonoff Jr., publicado no jornal Gazeta do Povo em 20 de abril de 2025)

 

Mentira, mentira, mentira. Mais mentira. Mentira ao quadrado. Mentira institucionalizada. Mentira com papel timbrado do STF. Mentira assustadora, que revela a mentalidade “paranoia democrática” que prevalece na instância máxima do nossa Judiciário. Assim é a nota que o presidente do Supremo, ministro Luís Roberto Barroso, fez questão de assinar em resposta a uma reportagem da revista The Economist sobre o poder absoluto de Alexandre de Moraes & Cia.

A nota começa mencionando as “ameaças sofridas pela democracia no Brasil”. E cita “a invasão da sede dos três Poderes da República por uma multidão insuflada por extremistas”. Como interrompeu suas miniférias em Trancoso, porém, o ministro praiano devia estar com preguiça de explicar na nota por que essa invasão é mais grave do que as perpetradas pela esquerda em várias ocasiões. É que para o ex-advogado de Cesare Battisti os extremistas são sempre os outros.

Aumenta o drama

Aí o presidente do STF aumenta o drama e fala que uma das ameaças eram os “acampamentos de milhares de pessoas em portas de quartéis pedindo a deposição do presidente eleito”. Sou velho o bastante para ter visto o PT pedir a deposição de todos os presidentes eleitos desde Collor. Mas essas manifestações nunca foram consideradas antidemocráticas nem dignas de prisão. Por quê? Só porque não eram realizadas em frente aos quartéis? E em que democracia não se pode pedir a deposição de um presidente eleito?

Barroso continua elencando as ameaças e fala em “tentativa de atentado terrorista a bomba no aeroporto de Brasília e tentativa de explosão de uma bomba no Supremo Tribunal Federal”. Sobre a primeira, qual o explosivo usado pelos terroristas? Qual o potencial destrutivo do artefato? Onde estão os envolvidos e a quem eles estão ligados? Ao contrário das imagens do imbróglio ocorrido em Roma, não me parece que uma tentativa de atentado a bomba num aeroporto seja algo fácil de se varrer para debaixo do tapete.

Hahahahhahahaha

Sobre o segundo, hahahahhahahaha. Só um STF frágil, ocupado por homens frágeis (é “beta” que se diz?) pode levar a sério o ato tresloucado de um pobre-coitado desequilibrado munido de rojões e que acabou com a própria vida em frente ao tribunal. Aliás, um tribunal digno do nome e presidido por alguém honrado era para se compadecer do destino trágico do sujeito e refletir sobre sua própria culpa no episódio todo. Mas não. Embora envolvido em tudo, o STF nunca tem culpa de nada.

Por fim, Barroso cita o “plano de assassinato do presidente, do vice-presidente e de um ministro do tribunal”. Onde estão esses planos, ninguém sabe. Será que estão escondidos sob a cabeleira vistosa de Fux? Ou estariam pairando no éter? Aqui vale lembrar que Barroso se refere ao plano que não foi adiante porque o sujeito não conseguiu pegar um táxi. Ou coisa assim. Patético.

Confissão em nota oficial

As mentiras não param, mas no meio delas há uma confissão no mínimo interessante. Preste atenção ao que escreve Barroso: “Foi necessário um tribunal independente e atuante para evitar o colapso das instituições (…)”. Independente é mentira. Mais uma. Agora, atuante, ministro? Quer dizer que o STF é mesmo ativo, ativão, ativista, militante? Não que eu não soubesse, mas me surpreende a confissão em nota oficial – com direito a versão em inglês e tudo.

Na mesma frase, chama minha atenção o fato de Barroso comparar o iminente “colapso das instituições” no Brasil ao que “ocorreu em vários países do mundo, do leste Europeu à América Latina”. Ao mencionar o leste europeu, ele se refere ao colapso dos regimes comunistas depois da queda do Muro de Berlim e do fim do Império Soviético? Quanto à América Latina, será que ele está falando da Venezuela? Uau.

Festival de besteiras que assola o Supremo

O festival de besteiras que assola o Supremo não para por aí. Barroso continua a nota citando números do Datafolha que ele não é capaz de interpretar. “A pesquisa DataFolha mais recente revela que, somados os que confiam muito (24%) e os que confiam um pouco (35%) no STF, a maioria confia no Tribunal. Não existe uma crise de confiança”. Pequepê! Esse sujeito é o presidente do Poder Judiciário no Brasil! Um cara que não consegue entender que confiar pouco e não confiar na Justiça dá na mesma.

O texto está ficando longo e eu, cansado. Mas vamos a mais falácias barrosianas. “O X (ex-Twitter) foi suspenso do Brasil por haver retirado [sic] os seus representantes legais do país, e não em razão de qualquer conteúdo publicado”. Mentira. O Twitter foi suspenso por se recusar a ceder à censura imposta por Alexandre de Moraes e os representantes legais da empresa foram retirados do país porque estavam sendo ameaçados de prisão pelo Supremo. Procure se informar, ministro.

Magnum opus

Adiante, Barroso diz que “todas as decisões de remoção de conteúdo foram devidamente motivadas e envolviam crime, instigação à prática de crime ou preparação de golpe de Estado”. Aqui Barroso espera que acreditemos no que ele diz, porque os processos são todos sigilosos e as decisões são tomadas na calada da noite. Dado o histórico de mentiras supremas, contudo, quem confia? Eu não.

E agora a magnum opus da pena barrosiana: “O presidente do Tribunal nunca disse que a corte ‘defeated Bolsonaro’. Foram os eleitores”. Disse, sim. Tem imagens. Tem vídeo. Tem áudio. Tem a figura prepotente do presidente do Tribunal visivelmente emocionado, falando para a plateia de estudantes: “Nós derrotamos o bolsonarismo”. Tem até análise sintática sobre esse “nós” aí, Barroso. Assuma!

Definições diferentes de coragem

Depois disso, o ministro enrola para justificar a restrição das ações penais às turmas, e não ao plenário e diz que “o ministro Alexandre de Moraes cumpre com empenho e coragem o seu papel, com o apoio do tribunal, e não individualmente”. Com empenho é fato. O quanto esse empenho é legítimo já não sei. A respeito da coragem, sou obrigado a mais uma vez discordar de Barroso. É que temos definições diferentes de coragem.

Sobre o apoio do tribunal, sei não, mas me parece que a mera referência a isso na nota à Economist foi uma exigência de Alexandre de Moraes. Uma versão togada do histórico “não me deixem só” de Collor. Além do mais, STF unido não é sinônimo de STF justo. Pelo contrário! É mais uma confissão de que, ali, o espírito corporativista predomina sobre a lei.

Mentira, mentira, mentira

Barroso encerra a nota que retrata esse Supremo contido, imparcial e ético, um Supremo pra inglês ver, dizendo que “o Brasil vive uma democracia plena, com Estado de direito, freios e contrapesos e respeito aos direitos fundamentais”. Mentira. Mentira, mentira, mentira. Mais mentira. Mentira ao quadrado. Mentira institucionalizada. Mentira com papel timbrado do STF.

 

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