(J.R. Guzzo, publicado no jornal Gazeta do Povo em 15 de dezembro de 2022)
Encontra-se em plena montagem, já na fase do acabamento, o governo Dilma-3. Quem acompanha o noticiário político acha que a partir de 1º de janeiro haverá mais uma administração Lula e, pelo que se anunciou no único compromisso compreensível de sua campanha eleitoral, todos ganharão um “Brasil Feliz”. Mas o que se vai ter na prática, pelas decisões anunciadas no “governo de transição”, é mais uma Dilma — com os resultados que se pode esperar de uma coisa dessas. O Lula de 2003, que assumiu a Presidência da República pela primeira vez, não existe mais. Sua abordagem prudente da economia, e o reconhecimento de que o governo tinha de respeitar os mecanismos básicos do processo de produção, sumiram. O que existe agora é um Lula obcecado em fazer do Brasil um experimento de “socialismo”: como ocorreu com a “nova matriz econômica” de sua sucessora, quer impor aos brasileiros um país igual aos modelos desenhados nas cartilhas do PT. Mais que tudo, o novo presidente e o seu entorno não admitem que possa haver pensamentos e propósitos diferentes dos seus. É um contrato de desastre.
Dilma deixou um Brasil com a pior recessão da sua história econômica, desemprego maciço, inflação a caminho do descontrole, falência geral dos serviços públicos e índices recorde de miséria — além de um curso de pós-graduação em matéria de incompetência pura e simples. Lula, pelo que saiu até agora do “governo de transição”, vai repetir a dose. Escolheu para seu ministro da economia um subalterno pessoal que confessou, publicamente, que não entende nada do assunto — o que esperar de algo assim? Tudo o que ele fez até agora foi declarar guerra a todos e a cada um dos mecanismos que garantem a estabilidade econômica no Brasil de hoje. Lula não gosta de nenhum deles, e o novo ministro está lá para não gostar junto; não foi nomeado pela sua competência técnica, mas simplesmente é quem vai obedecer com mais empenho as ordens do presidente. Já se sabe muito bem que ordens são essas: entregar todos os recursos financeiros do país, dos R$ 2 trilhões de arrecadação federal por ano aos R$ 250 bilhões das empresas estatais em 2022, ao PT, aos amigos do PT e aos amigos dos amigos. Esse é único projeto econômico de Lula. É o seu único projeto político. É isso, o seu “socialismo” — e a razão objetiva do imenso esforço que foi feito nos últimos anos para que fosse declarado vencedor das eleições pelo TSE.
Nada poderia comprovar de forma tão clara a privatização do Estado brasileiro em favor dos interesses representados pelo sistema Lula-PT do que a aprovação pela Câmara, na calada da noite e em cima das coxas, das mudanças na Lei das Estatais. Foi a primeira grande safadeza do governo Lula, ou desse Dilma-3 que se anuncia para o futuro próximo — um favorecimento alucinado aos novos senhores do Brasil. A Câmara, como se sabe, transformou-se num serviço de atendimento às ordens de Lula três minutos depois do TSE anunciar o resultado da eleição; desde lá, vem operando à toda para mostrar que vai ser tão obediente ao novo governo como é obediente ao STF. Seu feito mais notável neste curto espaço de tempo foi rasgar a Lei das Estatais, aprovada no governo Michel Temer e no clamor de moralização levantado pela Operação Lava Jato. A lei estabelece que uma pessoa só pode ser nomeada para cargos de diretoria em empresas estatais 3 anos depois de deixar o exercício de funções políticas; a Câmara, agora, reduziu esse prazo para 30 dias. Qual a razão lógica de uma mudança dessas? Qual o interesse público que ela poderia atender? O que a população ganha com isso? Não ganha absolutamente nada, é óbvio. A redução do prazo serviu unicamente para entregar o BNDES, um dos cofres mais recheados da República, ao dirigente petista Aloizio Mercadante — que compete com o ministro da Economia para ver quem obedece mais ao sistema Lula-PT. Não é só o BNDES, claro. Qualquer estatal, a partir de agora, pode ser entregue ao partido. É essa a democracia que acaba de ser salva pelo heroísmo dos altos tribunais de Justiça deste país. Tem toda a cara da calamidade dilmista.