(J.R. Guzzo, publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 29 de março de 2023)
O ministro da Fazenda acaba de dizer que o Banco Central (BC) “também tem de ajudar o governo”. Está errado, e essa é mais uma das razões pelas quais nada de relevante deu certo até agora nos primeiros três meses do governo Lula; a ideia geral da coisa está fundamentalmente errada. O BC não está aí para “ajudar o governo”. Sua função é cuidar do valor da moeda nacional, tentando que esse valor seja amanhã mais ou menos o que é hoje; não serve ao governo, e sim ao cidadão, principalmente o mais pobre. Este não costuma ter reservas; vai simplesmente à ruína se o pouco dinheiro que tem no bolso chega ao fim do mês valendo muito menos do que no começo.
Na verdade, para realizar direito o seu trabalho, o BC tem muitas vezes de fazer o contrário do que pede o ministro: tem de opor à desvalorização da moeda que o governo quer provocar o tempo todo, gastando mais do que pode para satisfazer aos seus desejos e ao que chama de necessidades do “Estado”. Isso é inflação. O BC é contra. Lula é a favor.
Todo o governo Lula e o PT estão obcecados com o BC — além de Bolsonaro e do senador Sergio Moro. Percebem, irritadíssimos, que a economia, o governo e o país vão mal — mas é claro que se negam terminantemente a entender que esse desastre em formação é resultado único e exclusivo da má qualidade patológica da equipe de ministros que Lula armou à sua volta, e da militância primitiva de suas posições econômicas. Sem consertar isso, e aí é trabalho de carpintaria pesada, não vão resolver nada, nunca. Mas quem é que diz que Lula quer resolver alguma coisa com racionalidade? Ele acha muito mais fácil, como sempre, fugir do seu fracasso escolhendo um culpado a quem possa atacar com o mínimo de risco e com o máximo de demagogia. No caso, escolheu o BC. Desde o primeiro dia, é culpado por tudo o que está acontecendo de ruim no Brasil por causa da incompetência terminal do presidente da República.
O conto do vigário que o seu governo quer aplicar no público é o que ouve todos os dias: o Brasil não está se desenvolvendo e criando empregos por causa dos juros altos estabelecidos pelo BC.
É falso. O Brasil não cresce, nem vai crescer de verdade, porque o governo Lula é muito ruim. Desde o primeiro minuto, numa erupção combinada de rancor com ímpetos suicidas, lançou-se numa guerra aberta contra a produção, a iniciativa privada e o capitalismo em geral — não porque tenha alguma coisa útil para colocar no lugar, mas porque Lula tem raiva, ouve gente que tem raiva e está numa cadeira onde pode exercer suas raivas privadas. As empresas só investem o que precisam para continuarem em funcionamento — quem quer investir num país em que presidente se acha “socialista”?
Na viagem que cancelou à China, um dos marajás mais gordos da comitiva seria um burocrata decidido a denunciar a soja, o milho e o agronegócio brasileiros como um mal a ser combatido. Iriam também sócios-proprietários do MST. Para que, numa viagem supostamente de “negócios”? Para pedir que o governo da China ajude o MST a invadir terras no Brasil? Socou de novo em cima da população impostos que haviam sido suprimidos; quer tirar da tumba ainda outros, como o imposto sindical e o seguro obrigatório. Pensa só em aumentar a carga fiscal. Diz que “precisa” de dinheiro para os pobres etc, etc.
De novo é falso. O governo Lula quer dinheiro (já levou uma fortuna antes mesmo de tomar posse) porque tem de pagar as viagens do ministro das Comunicações em jatos da FAB para ir à exposições de cavalo; seguem-se mil e uma coisas equivalentes. Os pobres continuam no seu pretexto para o governo forrar o Estado com cada vez mais dinheiro, que vai ser gasto cada vez mais consigo mesmo. A arrecadação total do Brasil, em todos os níveis, vai passar os R$ 3 trilhões — mas Lula acha que isso não chega, e exige que lhe deem mais. Se gasto público tirasse pobre da pobreza, já não haveria, há muito tempo, nenhum pobre neste país. Mas quem quer falar disso à sério? É muito mais proveitoso jogar a culpa no BC.