Lítio na água potável é identificado como fator de risco potencial para autismo
Os cientistas identificaram uma ligação entre os níveis de lítio no abastecimento de água da Dinamarca e uma chance maior de as crianças receberem posteriormente um diagnóstico de autismo.
Embora o estudo de 52.706 crianças não seja suficiente para provar que o lítio está causando diretamente o autismo, a possibilidade merece uma investigação mais aprofundada.
Um elemento natural e um medicamento comumente usado para tratar transtornos de humor, o lítio já foi associado a abortos espontâneos e malformações cardíacas em recém-nascidos. Esta é a primeira vez que uma associação foi feita com transtorno do espectro autista (TEA).
“Neste estudo de caso-controle baseado na população dinamarquesa em todo o país, a equipe de estudo descobriu que a exposição materna a níveis mais altos de lítio residencial na água potável durante a gravidez foi associada a um aumento moderado no risco de TEA na prole”, disseram os pesquisadores.
“As descobertas permaneceram robustas após o ajuste para vários fatores socioeconômicos da vizinhança materna e exposições à poluição do ar”.
O lítio normalmente chega à água potável através do intemperismo dos minerais subterrâneos. Em comparação com outros países, os níveis do metal na água potável da Dinamarca são moderados a baixos.
Os pesquisadores usaram bancos de dados de pacientes e informações do registro civil para identificar crianças nascidas entre 2000 e 2013 com ou sem diagnóstico de transtorno do espectro do autismo, mapeadas em 151 diferentes sistemas públicos de distribuição de água (representando o abastecimento de água para cerca de metade da população do país).
As concentrações de lítio na água foram divididas em quatro partes iguais, com a exposição pré-natal ao lítio determinada para cada quartil. Os níveis no segundo e terceiro quartis foram associados a um risco 24 a 26% maior de diagnóstico de autismo em comparação com o quartil mais baixo. No quartil mais alto, esse nível de risco foi 46% maior.
Dos 8.842 participantes do estudo com diagnóstico de autismo, 2.850 vieram de áreas onde os níveis de lítio na água potável estavam no quartil mais alto, em comparação com 1.718 do quartil mais baixo.
Uma relação semelhante foi descoberta quando os pesquisadores analisaram subtipos individuais de autismo. A ligação entre lítio e autismo também foi ligeiramente mais forte para pessoas que vivem em áreas urbanas em comparação com áreas rurais e cidades menores. A equipe adicionou controles para alguns fatores socioeconômicos e poluição do ar.
“No futuro, as fontes antropogênicas de lítio na água podem se tornar mais difundidas devido ao uso e descarte de baterias de lítio em aterros sanitários com potencial de contaminação de águas subterrâneas”, diz a neurologista e epidemiologista Beate Ritz, da Universidade da Califórnia, em Los Angeles.
O lítio é conhecido por ser capaz de atravessar a placenta e a barreira hematoencefálica fetal, e já houve pesquisas sobre a possibilidade de afetar certos sinais e vias no cérebro em desenvolvimento.
No entanto, é uma imagem complicada: o lítio também é amplamente usado como um balanceador de humor para tratar pessoas com transtorno bipolar e depressão. Níveis mais altos de lítio na água potável também foram associados a taxas mais baixas de suicídio, gerando argumentos de que o elemento poderia ser adicionado artificialmente ao abastecimento de água.
Mais pesquisas serão necessárias para investigar essa relação ainda mais para superar as limitações do estudo. No futuro, os pesquisadores poderiam incluir o consumo de água, por exemplo, em vez de usar a fonte local de água potável como meio de estimar a exposição.
“Qualquer contaminante da água potável que possa afetar o cérebro humano em desenvolvimento merece um exame minucioso”, diz Ritz. “Os resultados do nosso estudo são baseados em dados dinamarqueses de alta qualidade, mas precisam ser replicados em outras populações e áreas do mundo”.
A pesquisa foi publicada no JAMA Pediatrics.