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O fascista é o alegado antifascista que trata de fascista quem não é

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(Mario Sabino, publicado no portal Metrópoles em 11 de maio de 2023)

 

Sou neto de um refugiado do fascismo e fico abismado com a facilidade com a qual certos brasileiros chamam adversários políticos de “fascistas”. Mas fazer o quê? Muitos não sabem nem mesmo escrever corretamente a palavra, imagine saber o conceito. Só poderiam ter mais respeito pela memória de quem teve a vida destruída pelo fascismo, porque jamais ocorreu nada no Brasil redemocratizado — nada, absolutamente nada — que se compare ao terror fascista. O 8 de janeiro? Foi um ato vândalo-terrorista grave e abilolado. Não foi, porém, a Marcha sobre Roma.

Outro dia, um político de língua muito solta (há algum que não a tenha neste momento?) vangloriou-se no Twitter de “duas enormes lutas da minha vida política: contra o coronavírus e contra o nazifascismo”. O sujeito nasceu em 1968. Não tem idade nem mesmo para ter lutado contra a ditadura militar, veja você. Pode?

Não pode. Quem combateu o nazifascismo foram os pracinhas da Força Expedicionária Brasileira, na Segunda Guerra Mundial, depois que o ditador Getúlio Vargas, admirador de Benito Mussolini, viu-se obrigado a virar casaca e apoiar os Aliados. O curioso é que Getúlio Vargas se tornaria ícone da esquerda brasileira, espectro ideológico do qual o autor do tuíte faz parte. Ou talvez não seja tão curioso.

Há gradações no autoritarismo, e o fascismo, assim como o nazismo e o comunismo, é um totalitarismo. Em regimes totalitários, nos quais o autoritarismo é elevado à enésima potência, não existem partidos de oposição, não existe Judiciário nem sequer com aparência de independente, não existe nenhuma liberdade de expressão — e há uma polícia política que controla os cidadãos até na sua vida privada. Sob uma ditadura totalitária, não há oposição consentida e sambista cantando que amanhã vai ser outro dia.

Como o fascismo nasceu na Itália, berço desse totalitarismo, achei por bem terminar este artigo citando um grande autor siciliano, Leonardo Sciascia, notável por denunciar as ligações políticas da máfia. Datada de 1979, a sua frase é apropriada para emoldurar esse “fascismo” nosso de cada dia, que sai levianamente da boca de brasileiros que nunca o experimentaram. Quando Leonardo Sciascia a escreveu, a Itália vivia os anos de chumbo do terrorismo de extrema-esquerda, principalmente, e o adjetivo “fascista” era empregado por esses criminosos ideológicos contra os seus alvos, como justificativa para cometer barbaridades. A frase é a seguinte:

“O mais belo exemplar de fascista que se pode encontrar hoje (recomendamos aos peritos o maior cuidado em sua descrição e classificação) é o alegado antifascista que se dedica a tratar de fascistas os que não o são.”

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