(Deltan Dallagnol, publicado no jornal Gazeta do Povo em 20 de julho de 2023)
Falando sobre o cidadão que supostamente agrediu o ministro Alexandre de Moraes no aeroporto de Roma, Lula, o presidente “do bem e do amor”, da “democracia que venceu”, disse: “Um cidadão desses é um animal selvagem, não é um ser humano. Essa gente que nasceu no neofascismo, colocado em prática no Brasil, tem que ser extirpada”.
A afirmação foi feita ontem, na Bélgica, durante o encontro de líderes do Mercosul e de países da Europa. Não surpreende que a declaração tenha sido feita no exterior, afinal, o presidente passou mais dias de seu mandato viajando pelo exterior do que em cidades brasileiras. O que surpreende é o absurdo do comentário, digno da boca dos piores ditadores que já passaram pela face da Terra.
Primeiro, a fala de Lula desumaniza pessoas. É surpreendente a afirmação, com todas as letras, de que algumas pessoas não são seres humanos. Esse é o primeiro passo para o extermínio, a extirpação, defendida em seguida na mesma fala. Animais selvagens podem ser caçados e mortos. Lula contrariou todas as declarações de direitos humanos e a visão cristã, protegida na Constituição, de que todas as pessoas têm dignidade.
Segundo, a fala de Lula revela a sua hipocrisia. A esquerda de Lula sempre promoveu a bandidolatria. A bandidolatria é a linha de pensamento de que os criminosos são meras vítimas da vida e da sociedade. Por não terem livre-arbítrio, mas serem fruto de um ambiente hostil, não têm responsabilidade pessoal pelos seus atos e não merecem punição. Isso justificou o perdão de dois terços da pena de ladrões e assassinos dado em sucessivos indultos presidenciais nos governos do PT.
Contudo, quando se trata dos supostos agressores de Moraes, por estarem presumidamente no espectro político adversário, do bolsonarismo, eles podem e devem ser punidos com rigor. A esquerda de Lula protege corruptos, ladrões e assassinos, mas desumaniza, cancela, caça e persegue quem vê como seus adversários políticos. Essa é a “democracia” pujante e vibrante de Lula, aquela que protege os seus e persegue os adversários.
Terceiro, Lula presume a culpa das pessoas que supostamente teriam agredido o ministro Alexandre de Moraes, quando esse assunto está longe de estar esclarecido. As supostas agressões são contestadas pelos supostos agressores e as imagens dos fatos sequer foram divulgadas até o momento. O que há até agora é um conflito de versões, muito comum em brigas de vizinhos, de bar e, agora, de aeroporto.
Some-se que a investigação da Polícia Federal ainda não foi concluída. Não houve acusação e muito menos condenação. O caso está a anos de distância do trânsito em julgado. E é justamente Lula, o PT e a turma da esquerda que são contra a prisão em segunda instância e defendem até a morte a presunção de inocência. Então, espere aí, o que está acontecendo? Como explicar o prejulgamento seletivo?
Esse é mais um exemplo da hipocrisia de Lula, do PT e da esquerda. Para eles, as garantias legais da ampla defesa, do devido processo legal e do respeito aos direitos humanos devem ser elevadas à máxima potência quando se trata de seus próprios corruptos. Contudo, quando se trata de cidadãos brasileiros com uma visão política diferente da deles, aí defendem que sejam extirpados. A condenação é sumária, sem defesa ou recurso.
A fala de Lula é, além de absurda, preocupante. As posturas do presidente revelam os sentimentos mais profundos dele e de parte da esquerda brasileira que lidera, abaixo de um verniz democrático. Uma boa parte da turma do “o bem venceu” e do “Faz o L” defende direitos e democracia seletivos, para alguns. Para quem não comunga das mesmas ideias, eles oferecem punitivismo, cancelamento e morte lenta na fogueira, sem qualquer vergonha ou receio de escancararem sua hipocrisia.
Essa fala é mais uma prova – como se ainda precisássemos de mais alguma – do verdadeiro perfil autoritário e perigoso de Lula, amigo dos piores ditadores vivos atualmente e admirador de ditaduras como China, Venezuela e Nicarágua. Não é à toa que Lula, que disse ter orgulho de ser chamado de comunista, quer censurar a imprensa e as redes sociais e, na primeira oportunidade, estende o tapete vermelho para Maduro quando vem ao Brasil.
O mundo já passou pela experiência de ter líderes que negavam a humanidade de certas pessoas ou grupos, comparavam estes a animais e defendiam que fossem exterminados. O resultado dessas experiências nós já conhecemos: o nazismo, o fascismo e o comunismo, que deixaram de herança milhões de mortos e ideologias nefastas que resistem a desaparecer, encontrando adeptos em todos os lugares.