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Pergunta sem resposta do apagão: como uma linha no Ceará foi capaz de derrubar o sistema?

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Gazeta do Povo

 

Uma falha no sistema de proteção da linha de transmissão Quixada II/Fortaleza II, da Eletrobras, no Ceará, foi um dos determinantes do apagão da terça-feira (15), que atingiu quase todas as unidades da federação – a exceção foi Roraima, que não faz parte do Sistema Interligado Nacional (SIN).

O problema teria ocorrido milissegundos antes da ocorrência, às 8h31, que resultou no desligamento do fornecimento de energia, separando as regiões Norte e Nordeste de Sul e Sudeste.

Notas divulgadas pela Eletrobras e pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) apontam que, por si só, o desligamento da linha de transmissão não teria sido suficiente para levar à abrangência do problema. A questão ainda sem resposta é: o que transformou uma pequena ocorrência local num problema de proporções nacionais?

Esse é justamente o o grande desafio da apuração, segundo afirmou à imprensa o diretor-geral do ONS, Luiz Carlos Ciocchi.

“Não é a abertura [desligamento] desta linha [no Ceará] que deveria explicar tudo o que ocorreu. É essa intriga. O que nós devemos avaliar dentro desse relatório. É uma linha pequena”, afirmou. “No começo do ano tivemos várias linhas que foram derrubadas e ninguém percebeu. O sistema é robusto para aguentar. Então, esse que vai ser o grande desafio desse relatório: identificar o porquê de um evento que não deveria ocasionar toda essa queda, toda essa propagação de eventos, aconteceu”, completou, segundo relato do “G1”.

Segundo a Eletrobras, as redes de transmissão do SIN são planejadas de acordo com um critério que, se houver desligamento de qualquer componente, o sistema deve ser capaz de permanecer em operação sem interrupção no fornecimento.

A questão já tinha sido destacada pelo ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, horas depois do apagão, na ocasião em que solicitou também a participação, nas investigações, da Polícia Federal e da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).

“É um ponto que está sendo apurado”, destaca o ONS. Equipes do operador, além do Ministério de Minas e Energia (MME) e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), estão verificando as causas e as consequências da ocorrência. Uma reunião no dia 25 deve avaliar a situação e um relatório final deve ser divulgado em 30 dias.

Sistemas de proteção funcionaram corretamente, diz ONS
No momento do apagão houve interrupção no fornecimento de 18,9 mil MW no SIN, o equivalente a cerca de 26% da carga total. Após a falha na linha, houve “aprofundamento brusco de tensão”, seguido da atuação de mecanismos de proteção no SIN, como a proteção por perda de sincronismo (PPS) e o esquema regional de alívio de carga (Erac).

Este último foi o responsável pelo desligamento proposital da carga de energia no Sul e no Sudeste. Os dois mecanismos, PPS e Erac, têm por objetivo evitar oscilações no sistema após o problema inicial.

Levantamento prévio indica que essas proteções funcionaram de modo correto, diz o ONS. “Além disso, cabe destacar que a atuação do Erac foi uma das razões que permitiu o rápido reestabelecimento de 100% da carga no Sul e no Sudeste/Centro-oeste em aproximadamente uma hora”, afirmou o operador, em nota.

Segundo o diretor-geral do ONS, Luiz Carlos Ciocchi, as ações de segurança adotadas permitiram que subsistemas (no Sul, Sudeste e Centro-oeste) que não estavam no centro do problema tivessem uma retomada mais rápida da carga.

Pico de geração de energias renováveis pode ter causado problema
Uma das hipóteses em análise, segundo o site “Poder360”, é de que tenha havido um pico de geração de energia eólica e solar que injetou nas linhas de transmissão mais energia do que a capacidade da rede, gerando uma sobrecarga no sistema.

Dados do ONS mostram que, por volta das 7 horas de terça-feira, a disponibilidade de carga no Nordeste era de 10,9 mil MW. Ela saltou para 17,6 mil MW às 8h31, caindo para 9 mil MW, às 8h34, no pico do desligamento. A carga na região só seria retomada às 14h45.

A possibilidade ganha força depois de uma decisão do ONS de limitar a exportação de energia do Nordeste para o resto do país: ela passou de 13 mil MW para 8 mil MW na quarta (16). Atualmente há sobra de energia na região, e o excedente é enviado para o Sudeste.

Por outro lado, para atender à demanda do Centro-Oeste e do Sudeste, onde estão os maiores consumidores do país, o ONS foi obrigado a aumentar a geração de energia nessas regiões. Uma das consequências foi a redução no fornecimento a partir das eólicas, que, também na quarta, caiu 16 mil GW para cerca de 12 mil GW.

Isso significa, segundo o “Poder360”, que o operador diminuiu o peso das eólicas e das solares no fornecimento de energia do país, disponibilizando mais geração de energia não intermitente, como a de hidrelétricas e termelétricas.

Rafael Herzberg, consultor independente na área, já tinha levantado à Gazeta do Povo, que um dos gargalos poderia estar no fornecimento de energia intermitente, como a solar e a eólica. Ele exemplificou citando o caso da oferta de energia solar. “Ao anoitecer, há uma transição muito rápida. As fontes convencionais têm de assumir uma grande carga que estava sendo gerada por outra”, disse.

A linha do tempo do apagão ao reestabelecimento da energia, segundo o ONS:

8h31 – Pico de carga no sistema. Falha na linha de transmissão Quixada II/Fortaleza II, no Ceará, ajuda a derrubar o Sistema Interligado Nacional de fornecimento de energia.
8h34 – Pico do desligamento do SIN
8h43 – Iniciado o reestabelecimento do fornecimento na região Sul
8h52 – Iniciado o reestabelecimento do fornecimento nas regiões Sudeste e Centro-oeste
9h05 – Concluído o restabelecimento do fornecimento na região Sul
9h33 – Concluído o reestabelecimento do fornecimento nas regiões Sudeste e Centro-oeste
14h49 – Recomposição total do Sistema Interligado Nacional

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