(Pedro Henrique Alves, publicado no portal Jovem Pan em 2 de setembro de 2023)
É isso, as imagens do Ministério da Defesa, do fatídico dia 8 de janeiro, convenientemente sumiram. Depois de duas semanas de recusas de Flávio Dino em ceder as imagens à CPMI que apura os acontecimentos daquele dia, o ministro veio a público dizer que, por motivos contratuais com a empresa que administra as imagens do prédio ministerial, os vídeos foram apagados após 30 dias do ocorrido. Tá ok, vamos dar o benefício da dúvida, mas também nos permitam o direito de duvidar do exposto, conjecturar sobre a imensa conveniência ‒ ou sorte ‒ de um sumiço desses; afinal, vamos combinar, se as imagens ajudassem a corroborar a narrativa do governo, dificilmente elas sumiriam…
Após a confirmação da incompetência gutural de General Gonçalves Dias no dia 8 de janeiro, o que para muitos beirou a parcimônia lucrativa ante aquelas invasões criminosas, as imagens do Ministério da Defesa, que poderiam nos mostrar com provas incontestes como agiu Flávio Dino ante os invasores, providencialmente sumiram.
Vamos recapitular alguns fatos já levantados pela CPMI e pela mídia, para compreender o absurdo que é tal sumiço dos vídeos: sabe-se que os serviços de inteligência nacional avisaram com dias de antecedência sobre a iminência da invasão dos prédios republicanos; sabe-se ainda que Flávio Dino e Gonçalves Dias deliberadamente ignoraram tais alertas, praticamente nada fazendo para impedir os atos criminosos que se seguiriam. Unindo agora os depoimentos dos integrantes dos serviços de inteligência e as ações vislumbradas nos vídeos dos atos daquele dia, já esbarramos em fatos suficientes para inferir uma incompetência cooperativa com os criminosos do dia 8. Gonçalves Dias já corre sério risco de ser preso por isso após a oposição pedir a prisão dele na última quinta-feira.
Ou os citados sabiam e nada fizeram ‒ o que já parece soar claro demais ‒, ou sabiam e conscientemente colaboraram em busca ‒ ao que parece ‒ da construção de uma narrativa conveniente à visão ideológica do novo governo. Me parece, cada dia mais, que apostar numa espécie de grande conspiração conservadora-terrorista, financiada pelo grande capital, ou por neonazistas de algum porão profundo de nossa sociedade, soa como um conto fictício. Ou seja, cada vez que nos aprofundamos nesse poço bizarro do dia 8 de janeiro, mais a narrativa oficial do governo encontra dificuldades para se firmar.
E, como diria a minha avó: “se ‘catucar’ sai mais”; a oposição, ao que tudo indica, encontrou o ponto fraco da narrativa governamental com relação àquele dia. Hoje, contra tudo o que indicavam os fatos inicialmente, o governo parece ter mais a esconder sobre o dia 8 de janeiro do que a oposição.
Quando acusados de algo do qual não temos nada a esconder, somos os primeiros a tentar esclarecer os fatos, seja isso sobre uma acusação de traição conjugal ou traição da pátria; por que então o ministro Dino lutou tanto para não dar as imagens do dia 8 à CPMI, tendo que ser coagido pelo STF para isso? Agora surge ele com “os vídeos sumiram… valeus, falous”… Não colou, Dino. Nem mesmo entre meus colegas, jornalistas, abertamente de esquerda, imagine com o senso comum popular. Soa absurdo acreditar que imagens tão imprescindíveis para julgarmos a conivência ou bravura de Dino naquele dia 8 tenham simplesmente sumido “por culpa de ninguém”, restando-nos tão apenas o velho jargão de encerramento dos desenhos da Warner Bros da década de 1990 “isso é tudo, pessoal”.
Não colou, Flávio… não colou! Mas tá ok, mais um episódio onde os acontecimentos aleatórios da política brasileira parecem militar fanaticamente em prol do governo petista.
Temos agora um grande vácuo, quiçá um grande “uffa” para alguns. E não passará disso. A não ser, é claro, que alguém miraculosamente ache as imagens atrás de algum pote de “jujuba” lá no Ministério da Defesa, quem sabe na cueca de algum deputado ‒ não seria lá tão surpresa, convenhamos. Como, agora, nada temos a constatar nas imagens “perdidas”, ficamos apenas com os “e se”… Pois bem, acredita quem quer, não é mesmo?