Gazeta do Povo
As principais revistas femininas brasileiras ignoraram as denúncias de estupros de mulheres pelo Hamas em Israel. Na última semana, além do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e do presidente norte-americano, Joe Biden, ONGs de direitos humanos e veículos de notícias internacionais afirmaram que o grupo terrorista tem usado sequestros, violações e assassinatos de mulheres como armas de guerra. Embora a violência contra a mulher seja um tema de interesse de revistas e portais femininos brasileiros, não houve menção neles aos crimes cometidos nas últimas semanas pelo Hamas.
Conforme nota da Embaixada de Israel no Brasil, reproduzida na última sexta (13) pela CNN, um membro do Hamas capturado pelo exército israelense teria confessado que foi dada a eles a ordem de “capturar o máximo de mulheres possível para serem vítimas de estupros coletivos”.
De acordo com o perfil Israel War Room [Sala de Guerra de Israel, em tradução livre], mantido por uma ONG na plataforma X, até o início desta semana, “os terroristas do Hamas: Assassinaram mais de 1.300 pessoas; Estupraram mulheres; Queimaram crianças vivas; Mutilaram bebês; Fizeram mais de 199 reféns”. No dia 7 de outubro, o perfil denunciava que o Hamas parecia estar sequestrando principalmente mulheres. “Já foi confirmado que os combatentes do Hamas estão usando a violação como arma de guerra”, dizia o post, com fotos de desaparecidos – a maioria mulheres.
Universa
No portal Universa, plataforma feminina do UOL que tem uma seção dedicada aos “direitos da mulher” – onde afirma que “a cobertura jornalística do assunto é um importante instrumento para que as mulheres em situação de violência se reconheçam e saibam os caminhos para reivindicar seus direitos” – a única menção ao conflito no Oriente Médio ocorre em uma matéria de 11 de outubro, intitulada “Quem é a DJ que desapareceu em Israel e que mãe implora por resgate”.
O texto afirma que a vítima “aparece em um vídeo inconsciente e sendo levada na caçamba de uma caminhonete por membros do Hamas”, mas não menciona as denúncias de estupro feitas contra o grupo terrorista. No mesmo dia, o portal UOL noticiava que “Sobrevivente de ataque em rave diz que viu amiga ser estuprada pelo Hamas”.
AzMina
Na Revista AzMina, que defende que o “posicionamento da mídia em relação às mulheres não apenas reflete, mas também reforça, a violência contra a mulher”, também os estupros do Hamas não foram pauta. No site, é possível encontrar diversas matérias sobre aborto (como um “Plano de Abortamento”), inclusive acerca de questões políticas envolvendo outros países, como o Equador, mas não há notícias sobre Israel e o Hamas.
Claudia
No dia 7 de outubro, a revista Claudia publicou o texto “Israel em Guerra: entenda o ataque que deixou mais de 100 mortos no país”, sem menções às violações cometidas pelo Hamas às mulheres. “O grupo Hamas, fundado em 1987 e considerado a maior organização islâmica em regiões palestinas, afirmou que este é apenas o começo de uma grande operação que visa a retomada de territórios”, afirma a publicação. Apesar de dizer que “atualizaremos a nota conforme mais informações acerca das vítimas forem reveladas”, o texto não recebeu modificações desde então. No dia 12, a revista voltou ao tema com o texto “Alok reencontra o pai após ataque do Hamas”, afirmando que 260 pessoas foram mortas no festival Universo Paralello, duas delas brasileiras.
Os estupros são apenas mencionados na crônica “Conflitos prateados”, de Kika Gama Lobo, que “escreve sobre as sensações e barreiras que as mulheres de 50 anos vivenciam”: “A guerra do Hamas contra Israel adicionou um grau de cansaço ainda maior às mulheres. A imagem da senhora demenciada, sequestrada pelos terroristas (isso sem falar nas crianças em jaulas, jovens estupradas e homens degolados), ela sentada na frente do tanque, alheia ao horror do que viria, pensei: estamos exaustas”. Apesar de admitir neste texto que as violações ocorreram, a revista não dedicou um espaço para aprofundar ou debater o assunto de forma mais jornalística.
Vogue
Em seu site, a revista Vogue publicou algumas notas sobre os ataques do Hamas (como “Gal Gadot cria plataforma para encontrar desaparecidos em Israel”, “Gabriela Duarte posta fotos de Praga após viver ataque em Israel: ‘Voltando a respirar’”, “Noah Schnapp opina sobre situação em Israel”), abordando desaparecidos e sequestrados, mas não os casos de estupro.
O tema, no entanto, é de interesse da publicação, que afirmou em 2019 “Precisamos falar sobre a cultura do estupro”. Nos últimos anos, a Vogue trabalhou o assunto em publicações como “Justiça francesa confirma acusação do ator Gérard Depardieu por estupro” e “Ex-modelo diz ter sido perseguida por Russell Brand na rua: ‘Um predador’”.
Elle
Já a Elle não tratou do conflito entre Israel e o Hamas em sua seção de “Novidades”. O tema do estupro, no entanto, aparece em outras situações na publicação, como em uma coluna de Djamila Ribeiro “Cultura do estupro e o caso Robinho”, e nos textos “Advogada Marina Ganzarolli explica o caso de ‘estupro culposo’”, “Em livro, Adriana Negreiros discute a cultura do estupro a partir de sua dor”.
Marie Claire
Com o slogan “Se importa para a mulher, está em Marie Claire”, a revista abordou a “invasão do grupo islâmico Hamas” a Israel apenas em um texto sobre a atriz Gabriela Duarte, que viajava pelo país com seus filhos. A publicação não menciona as vítimas do conflito ou as violações sofridas por mulheres. O tema estupro esteve em pauta na revista na semana passada, na matéria “Thiago Brennand é condenado a 10 anos e 6 meses de prisão em regime fechado pelo crime de estupro”, e nesta terça (17), na reportagem “Mais de 5 mil meninas vítimas de estupro deram à luz no Brasil até junho de 2023”.
Glamour
Os ataques do Hamas estiveram em pauta na Glamour em textos repercutindo celebridades, como “Gal Gadot se pronuncia sobre os ataques do Hamas a Israel: ‘Meu coração está doendo’” e “Bruno Mars deixou Israel em segurança e desembarcou na Grécia, aponta fã clube”. Além disso, a revista publicou um texto com o título “Hamas: Supernova Universo Paralello solta nota oficial nas redes sociais: ‘Nossos pensamentos estão com as vítimas e familiares’”, em que cita “vítimas e familiares”, “dor, tristeza e indignação”, mas não esmiuça os mecanismos da violência cometida pelo grupo terrorista sobretudo contra mulheres.
Em agosto, a mesma Glamour questionava “Com quantas omissões se faz a violência contra a mulher? Especialistas debatem”. Em textos recentes, a publicação trata do tema em situações como “Russell Brand é acusado de violência sexual e estupro; entenda o caso” e “Bijou Phillips pede divórcio após condenação de Danny Masterson por estupro, diz site”.
A Gazeta do Povo tentou contato com as publicações citadas, mas não obteve retorno até o fechamento da reportagem.