(Deltan Dallagnol, publicado no jornal Gazeta do Povo em 25 de outubro de 2023)
Na última segunda-feira (23), o Brasil assistiu horrorizado a mais um ataque violento em escolas, desta vez, na Escola Estadual Sapopemba, em São Paulo. O ataque foi perpetrado por um aluno de 17 anos, que matou uma estudante e deixou outras três feridas. Nossos corações e orações vão para as vítimas e suas famílias, mas a cada novo ataque em escolas, a sensação é sempre de que a violência poderia ter sido evitada.
Imediatamente após o ataque, o presidente Lula politizou o caso, associando os motivos da tragédia ao acesso às armas: “Não podemos normalizar armas acessíveis para jovens na nossa sociedade e tragédias como essa”, disse. Lula está certo ao culpar o acesso a armas de fogo pela tragédia? E se está errado, o que pode ser feito?
Lula está errado. Sua fala é uma manipulação emocional mentirosa, que busca colocar a culpa de todas as mazelas sociais que seu governo não consegue resolver nas costas do governo Jair Bolsonaro, em vez de buscar soluções a partir de políticas públicas que tenham base em evidências e nas melhores experiências.
A mentira de Lula fica nítida ao observarmos os números e dados oficiais sobre o fenômeno. Segundo levantamento do Instituto Sou da Paz, os ataques em escolas acontecem no Brasil desde 2002 – muito antes do governo Bolsonaro, portanto.
Desde 2002 ocorreram 27 ataques no total, sendo que 14 deles foram de agosto de 2022 até a data de hoje. Dentre os 27 ataques, 13 foram com armas de fogo e 11 com armas brancas (como facas de cozinha), o que desmente a afirmação do presidente de que a culpa dos ataques recai no acesso às armas.
Se a razão dos ataques fossem as armas de fogo, Lula deveria culpar também o acesso dos alunos às cozinhas. A forma do ataque – tipo de arma usada – pode impactar sua letalidade, mas certamente não é a causa do problema. Qual seria, então, a principal causa dos ataques em escolas?
Estudos e levantamentos realizados ao longo de anos pelo Serviço Secreto americano e o Departamento de Educação dos Estados Unidos apontam que a maior parte dos ataques (45%) se relacionam com mágoas e conflitos entre estudantes, incluindo, aí, o bullying, razão pela qual 51% dos alunos que realizam ataques têm alvos específicos.
O perfil dos alunos que atacam escolas não é homogêneo, mas 94% deles, ao planejar os ataques, comunicam suas intenções para outras pessoas. Esse dado aponta que as pessoas mais bem posicionadas para antecipar ataques e riscos à segurança são os próprios colegas, o que não exclui o papel dos pais, da família, dos professores e da comunidade em identificar riscos.
Se há uma comunicação prévia, isso significa que os ataques são evitáveis. Como método de prevenção de novos ataques, recomenda-se a criação de um ambiente mais saudável entre os alunos, por meio de campanhas de conscientização anti-bullying e de projetos que desenvolvam virtudes essenciais à vida em sociedade, assim como a promoção de políticas que favoreçam a comunicação de suspeitas por alunos para profissionais das escolas.
As pesquisas e medidas levadas a cabo por anos nos Estados Unidos, país mais afetado por ataques em escolas, tiveram resultados concretos: 67 tentativas de ataques foram impedidos de 2006 a 2018, a partir de um conjunto de práticas que envolve a identificação antecipada da ameaça e intervenção precoce junto ao aluno com base em acolhimento e apoio, evitando-se punições disciplinares.
Dentre as 67 ameaças que foram impedidas, 8 ocorreram em razão da comunicação entre familiares, o que mostra quão crucial é o papel dos pais dos alunos e das famílias em identificar riscos. Os próprios pais que possuem armas em casa precisam ter cuidado redobrado para que seus filhos não tenham acesso às armas.
Os estudos ainda recomendam uma atenção especial com alunos que se interessam de repente por assuntos como nazismo, Hitler, supremacia racial ou violência. Após a identificação de potenciais agressores, deve haver o acolhimento do aluno e o acesso a tratamento psicológico, se necessário.
Outro fator importante na prevenção é a presença de agentes de segurança nas escolas, que não precisam ser necessariamente policiais: em 31% dos 67 casos em que ataques foram impedidos, os agentes de segurança presentes tiveram um papel preponderante.
A experiência americana mostra que há, sim, o que fazer para evitar e diminuir a violência em nossas escolas, mas o governo Lula parece estar sempre na contramão de todas as boas práticas internacionais, desde o combate à corrupção até a segurança pública.
Em vez de fazer um trabalho sério de estudo de casos para identificação de causas e medidas preventivas, que incluem guias de análise de riscos a serem realizadas em cada escola, como ocorre nos Estados Unidos, Lula usa politicamente a tragédia para atacar seu opositor.
Enquanto a bandidolatria, a lacração, a polarização e o identitarismo woke forem as bases sob as quais Lula e seus ministros governam, mais preocupados em atacar adversários do que promover políticas saudáveis de segurança pública, não veremos avanço significativo algum nessa área.