Da Redação
O ex-policial militar Ronnie Lessa fez um acordo de delação premiada com a Polícia Federal (PF) para fornecer detalhes sobre o caso da vereadora Marielle Franco, morta junto ao motorista Anderson Gomes em 2018. Na colaboração, ele teria citado Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE -RJ), como um dos supostos mandantes do crime. A informação é do portal Intercept Brasil.
Ainda de acordo com o Intercept Brasil, a principal hipótese para que Brazão ordenasse o assassinato de Marielle seria por vigança contra o ex-deputado estadual pelo PSOL Marcelo Freixo, hoje filiado ao PT e atual presidente da Empresa Brasileira de Turismo (Embratur), pois ela trabalhou com o ex-parlamentar durante 10 anos até ser eleita vereadora, em 2016.
Antes de ser conselheiro do TCE-RJ, Brazão foi filiado ao MDB e obteve cargos de vereador e deputado estadual por cinco mandatos consecutivos. Quando atuava na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), entrou em algumas disputas sérias com Marcelo Freixo. Inclusive, Domingos chegou a ser citado, em 2008, no relatório final da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) das milícias, presidida pelo então psolista.
Além disso, Marcelo Freixo teve um papel importante na Operação Cadeia Velha, deflagrada pela PF em novembro de 2017 e que levou à prisão fortes nomes do MDB como os deputados estaduais Paulo Melo, Edson Albertassi e Jorge Picciani (morto em maio de 2021).
O nome de Brazão também foi citado na delação premiada do também ex-policial militar Élcio de Queiroz, que confessou ter sido o responsável por dirigir o carro que perseguiu o veículo da vereadora Marielle Franco pelo bairro de Estácio, no centro do Rio de Janeiro.
Antes das delações, Brazão chegou a ser investigado pela DHC (Delegacia de Homicídios da Capital), pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado) do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) e pela própria PF, mas nada foi efetivamente provado contra ele.
Procurado pelo Intercept, o advogado de Domingos, Márcio Palma, afirmou que não está ciente dessa informação e que tudo o que sabe até então veio pela imprensa. Ele afirma que não tem acesso aos autos porque seu cliente não era investigado.
Domingos Brazão foi preso em 2017, acusado de receber propina de empresários. A operação, batizada de Quinto do Ouro, decorreu da Lava Jato. Por esse motivo, ele passou quatro anos afastado do TCE-RJ. Em 2019, o conselheiro foi acusado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de obstruir as apurações do caso Marielle.
Já o policial Ronnie Lessa está preso desde 2019, tendo sido condenado em 2021 por se livrar de provas sobre o caso. Sua delação ainda precisa passar por homologação do Superior Tribunal de Justiça (STJ), pois Domingos possui foro privilegiado devido ao seu cargo no Tribunal de Contas do Rio de Janeiro.