Da Redação
A estudante que atirou e matou a amiga Isabele Ramos Guimarães, em 2020, foi expulsa do curso de Medicina na Faculdade São Leopoldo Mandic, localizada em Campinas, no interior de São Paulo, após uma mobilização de pais e alunos. Na época, ambas tinham 14 anos. Hoje, aos 18 anos, a assassina cursava medicina.
Reportagem do jornal O Globo, publicada nesta sexta-feira (16), revelou que o desconforto entre os pais começou depois que uma aluna descobriu a identidade da caloura e espalhou pela faculdade que ela havia sido condenada. A partir de então, a jovem passou a ser rejeitada pelas colegas de classe, e a mobilização para que ela fosse expulsa começou.
A faculdade abriu uma sindicância depois de receber uma denúncia sobre a jovem. Em nota, a instituição disse que foi “constatado que a presença da aluna gerou um clima interno de grande instabilidade no ambiente acadêmico”. Por esse motivo, teria preferido desligar a estudante. Ainda cabe a ela entrar com um recurso da decisão.
A instituição também vai restituir os valores pagos da mensalidade, que custa em torno de R$ 13 mil para o curso de Medicina.
Em nota enviada ao jornal O Globo, a universidade se posicionou da seguinte forma:
“Em relação ao caso da aluna ingressante no curso de Medicina, a instituição tomou conhecimento do fato a partir de uma denúncia feita ao comitê de compliance. Foi feita uma apuração e constatado que a presença da aluna gerou um clima interno de grande instabilidade no ambiente acadêmico. Com base no Regimento Interno da Instituição e no Código de Ética do Estudante de Medicina, publicado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), a faculdade São Leopoldo Mandic decidiu pelo desligamento da aluna, assegurando a ela a apresentação de recurso, em atendimento aos princípios do contraditório e ampla defesa. A Faculdade tem como nortes a estabilidade de sua comunidade, a dignidade acadêmica e o respeito aos princípios éticos que regem o ensino superior, para o que se faz necessário afastar riscos à reputação e imagem da Instituição, construída ao longo dos últimos 30 (trinta) anos.”
Relembre o caso
O crime aconteceu no dia 12 de junho de 2020. Era um domingo, e a jovem teria convidado Isabele para fazer uma torta em sua casa. As duas tinham 14 anos e eram vizinhas no residencial Alphaville I, em Cuiabá.
Na mesma tarde, o namorado da jovem, então com 16 anos, chegou à mansão levando uma pistola de fabricação italiana Tanfoglio, calibre 38, cor preta e sem munição. A família da jovem praticava tiros, inclusive ela mesma, que já tinha vencido várias competições do tipo ainda adolescente.
Segundo o processo, a pistola foi levada naquela data porque o pai da jovem, um empresário de sucesso, estaria interessado em comprá-la. Havia ainda mais uma arma na casa: uma pistola Imbel prata calibre 38, também sem balas.
Ainda de acordo com o processo, o empresário pediu para que a filha levasse as duas armas para o segundo pavimento, onde deveriam ser guardadas em um armário. Antes, porém, o namorado teria municiado a pistola Imbel.
Segundo os autos, quando subiu com a arma, a estudante disse ter se deparado com Isabele fumando um cigarro eletrônica escondida. Ela contou ter levado um susto com a presença da amiga na porta do banheiro e acabou disparando a arma “sem querer”.
A estudante foi condenada a três anos de medidas socioeducativas, inicialmente condenada por ato infracional análago a homicídio doloso. Ela passou cerca de 18 meses reclusa em uma unidade para menores infratores. Em junho de 2022, porém, após recurso apresentado pelos pais da jovem, a tipificação foi alterada para ato análogo a homicídio culposo, quando não há o intuito da morte, o que permitiu que ela ganhasse liberdade.