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Hoje elas comemoram o aborto. Em breve, terão de usar burca

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(Paulo Polzonoff Jr., publicado no jornal Gazeta do Povo em 06 de março de 2024)

 

A França foi o primeiro país do mundo a tornar o assassinato de bebês no ventre materno, comumente chamado de “aborto”, um direito garantido pela Constituição. E lá, como já havia acontecido na Argentina e Irlanda, mulheres de todas as idades, algumas delas avós e mães, saíram às ruas para comemorar. Sim, as mulheres. Você já parou para se perguntar por quê?

Eu parei. Mas antes queria usar este espaço para explicar o tamanho e a gravidade do simbolismo que é, para um país que já foi chamado de “filha predileta da igreja”, fazer constar em sua Constituição o direito ao extermínio de novas vidas para satisfazer aos desejos egoístas da mãe. Trata-se de uma negação do cristianismo e equivale à escravização da alma nacional pelo Estado.

No caso da França, a garantia constitucional ao aborto significa também uma rendição – no que, aliás, franceses são especialistas. Uma rendição à invasão islâmica. É como se os franceses erguessem as mãos para os altos e se confessassem incapazes de lidar com a liberdade, sobretudo a liberdade para fazer o bem, e pedissem “pelo amor de Deus” para serem conquistados por uma cultura baseada na força e no medo de uma divindade até onde sei pouco afeita à misericórdia.

A consequência mais óbvia disso será a realização da profecia descrita por Michel Houellebecq no romance “Submissão”. Isto é, uma sociedade que, para evitar a autodestruição oriunda de várias escolhas coletivas equivocadas, se submete a uma espécie de sincretismo religioso a fim de ver restaurados valores morais perdidos em sucessivas revoluções. Sai Rousseau, entra Maomé.

Mais satânico do que isso…

Feita essa digressão, voltemos à imagem repugnante das francesas celebrando o aborto como um direito inscrito na bíblia da burocracia: a Constituição. De acordo com o jornal Le Monde, teria havido “uma explosão de alegria” depois do anúncio macabro. As comemorações ocorreram em frente à Torre Eiffel, ao som de Beyoncé e foram acompanhadas por espetáculos de luzes e bombas de fumaça roxa.

Mais satânico do que isso, só mesmo a mentira usada pelas feministas para justificar o aborto – próprio e alheio. Aquela coisa de “ninguém aborta porque quer” ou “toda a mulher considera o aborto repugnante, mas ele acontece mesmo assim”. E, no entanto, lá estão elas, as mulheres francesas, celebrando a possibilidade de aniquilar uma vida para evitar o incômodo ou a inconveniência da maternidade. Percebe a ardilosidade da coisa toda?

O que elas comemoram é o triunfo da morte sobre a esperança. É a vitória da charlatanice iluminista de autossuficiência e do controle. Elas celebram a primazia do instinto sobre a razão. Elas exaltam a “liberdade” de serem escravas de suas vontades. Elas se regozijam diante da possibilidade de viverem a felicidade vazia e meramente teórica que veem estampada na publicidade.

Dá raiva, claro. Mas também dá muita pena ver gerações e gerações de mulheres, não só francesas, contaminadas por um feminismo que, no fundo, faz com as mulheres o mesmo que os cafajestes de bigodinho fino e sapato bicolor de antigamente: seduz com a promessa de felicidade eterna, usa de todas as maneiras possíveis, até destruir a dignidade dela – e por fim a descarta na proverbial rua da amargura.

 

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