Falta honestidade no debate sobre aborto
(Rodrigo Constantino, publicado no jornal Gazeta do Povo em 17 de junho de 2024)
É preciso tirar o chapéu: o que falta de honestidade intelectual na esquerda, sobra de estratégia coordenada de marketing. É inegável que eles conseguiram reverter o foco e pintar os defensores do PL do aborto como insensíveis que não ligam para as pobres meninas vítimas de estupro. É tudo absurdo, claro, e quem dedica algum tempo ao assunto logo percebe. Mas muita gente não dedica esse tempo, consome as notícias de forma superficial, e acredita na narrativa esquerdista.
O PL não pretende tratar meninas abusadas que cometem aborto como criminosas piores do que os próprios estupradores. Isso é simplesmente mentira, ou Fake News, como a esquerda gosta de dizer. A esquerda também ignorou por completo em seus discursos o “detalhe” de que estamos falando de gestação após 22 semanas, ou seja, o bebê já teria condições de sobreviver fora do útero materno. Não é aborto, é feticídio mesmo. Assassinato, em linguagem clara.
O estupro é uma tragédia. Mas não precisa ser seguida de outra: o assassinato do bebê. Existe sempre a adoção, por exemplo. E a tentativa da esquerda de fazer os conservadores parecerem monstros que querem punir essas meninas mais do que os seus abusadores é abjeta.
Para começo de conversa, quem poupa estuprador é a própria esquerda, que nunca votou para endurecer as penas em projetos como o de Jair Bolsonaro ou Bia Kicis – este apelidado de Lei Constantino em minha homenagem, após eu ser caluniado como alguém que teria feito apologia ao estupro só por dizer o óbvio: estupro é coisa séria demais para ser banalizado e confundido com sexo consentido que depois gera arrependimento.
Mais de 200 estupradores foram liberados sem tornozeleiras nas tais “saidinhas”, que a esquerda defende. Quem poupa o estuprador, portanto? Quando a esquerda finge que se está criminalizando o aborto em qualquer etapa da gestação, deixando de lado o desenvolvimento de um bebê com mais de vinte semanas, isso prova que seu objetivo é mesmo deturpar o debate, manipular emoções e banalizar a prática do infanticídio. Para a esquerda eugenista, a vida humana não é sagrada.
Chama a atenção também como a esquerda muda de discurso de acordo com a ocasião. Para pregar o aborto em qualquer etapa da gestação, a esquerda trata adolescentes que podem votar como “crianças” incapazes de saber o que se passa. São os mesmos que defendem que uma criança de verdade, com 6 ou 7 anos, pode iniciar um tratamento hormonal ou mesmo mutilar seu corpo se achar que nasceu no sexo errado. É muita incoerência!
Alguns conservadores alegam que foi casca de banana entrar nesse debate, que a esquerda nadou de braçada e retirou o foco das trapalhadas lulistas na economia e outras áreas. Entendo o argumento, mas esta é uma das pautas mais importantes para os conservadores. Afinal, se o assassinato de bebezinhos pode ser banalizado com mentiras e distorções, tudo mais é possível e nada mais é sagrado.
Recomendo que antes de formar opinião sobre o tema, o leitor procure conversar com sobreviventes de abortos e veja vídeos da prática. Depois voltamos a conversar, com mais honestidade intelectual de quem realmente prioriza a vida humana.