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Lula, empresários fraternos e bilhões sob conflito de interesses

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(Ricardo Kertzman, publicado no portal O Antagonista em 14 de dezembro de 2024)

 

A reportagem da Crusoé de sexta-feira (13), assinada por Duda Teixeira e intitulada “Os interesses conflitantes expostos pela internação de Lula”, apesar de me causar profunda indignação, não me trouxe qualquer grande surpresa, já que o histórico – passado e recente – do presidente da República, agora em seu terceiro mandato, ilustra muito bem como o mesmo jamais se importou com a excessiva e indevida – não para ele, é claro – proximidade com empresários poderosos Brasil afora.

Aliás, essa mesma Crusoé, em 2019, foi objeto da mais reprovável censura, imposta pelo Supremo Tribunal Federal (STF), apenas por trazer à tona um trecho do depoimento do empresário Marcelo Odebrecht, filho do então todo-poderoso Emílio Odebrecht, no âmbito da operação Lava Jato, que referia-se ao ministro Dias Toffoli como “o amigo do amigo de meu pai”. Marcelo, posteriormente, foi condenado a 19 anos de prisão por corrupção, associação criminosa e lavagem de dinheiro.

Lula tornou-se amigo íntimo do patriarca da família Odebrecht, mas não só deste – à época, um onipresente empreiteiro -, como também de outros como Sérgio Andrade, da Andrade Gutierrez, que, durante décadas, participou de forma generosa na vida pessoal do chefão petista, emprestando imóveis, aportando recursos milionários na empresa do filho do presidente e mesmo por sua irmã, que auxiliou nas despesas de moradia e estudos na Europa da filha Lurian, que Lula teve fora do casamento.

Ampliando mercados

A Andrade Gutierrez foi uma das empresas que confessadamente pagou propina para ser favorecida pelo governo petista e assistiu a uma lei ser alterada para que se tornasse dona da Oi, que, depois, como mencionado acima, aportou mais de 80 milhões de reais na Gamecorp, do Lulinha. Seu presidente, Otávio Marques de Azevedo, foi condenado a 19 anos de prisão por corrupção, associação criminosa e lavagem de dinheiro. A empresa pagou mais de três milhões e meio de reais a Lula e seu instituto (LILS) por palestras.

Ainda na esfera de empreiteiros amigos tivemos Leo Pinheiro, da baiana OAS que, generoso como poucos, custeou obras no sítio de Atibaia e no triplex do Guarujá, que Lula sempre negou serem dele. Anos depois, o empreiteiro afirmou que mentiu e teve suas penas anuladas – adivinhem por quem? – por Dias Toffoli. À época em que era um delator em busca de benefícios judiciais, Leo Pinheiro confessou que pagou mais de um milhão de dólares a Lula por palestras, para ser beneficiado em obras no Brasil e no exterior.

De imóveis para picanha tivemos – ou melhor, temos – os famigerados irmãos Wesley e Joesley Batista, do grupo mundialmente poderoso J&F, cuja esposa do ministro – ai, ai – Dias Toffoli advoga, e o ex-ministro Ricardo Lewandowski prestou serviços. Ah, o também ministro do STF, Edson Fachin, foi pessoalmente ciceroneado por um executivo da companhia, Ricardo Saud, em visitas a senadores quando indicado para o Supremo. Mas é claro que tudo isso foi e é “republicano”, certo?

Sem preconceitos

Os irmãos Batista confessaram que pagaram propina a dois dos mais íntimos companheiros de Lula à época: Guido Mantega e Antonio Palocci. Presos, os empresários tornaram-se uma espécie de símbolos da corrupção petista em torno dos tais “campeões nacionais”, empresas eleitas por Lula para receber aportes bilionários do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Atualmente, ambos os irmãos participam de reuniões no Palácio do Planalto com o próprio presidente.

Lula é um cara plural e sem preconceitos, empresarialmente falando. Orbita setores diversos quando o assunto é amizade com bilionários. Outro ramo de negócios em que mantém estreita amizade com um potentado – José Seripieri Filho, dono da gigante Amil – é o setor de saúde, objeto da matéria citada acima. O empresário, que costuma dar carona ao chefão petista em seu jato particular, pode ser beneficiado com uma decisão da Agência Nacional de Saúde (ANS) após um encontro, fora da agenda, com o presidente.

“Em junho deste ano, a ANS limitou a 6,91% o reajuste dos planos individuais e familiares, o que impactou diretamente nos planos de negócios das operadoras de saúde. Rumores agora dão conta de que a ANS estaria cogitando permitir que as empresas peçam reajustes extraordinários se estiverem com problemas em seus balanços financeiros”, informa a matéria da Crusoé. Terá sido este o tema do encontro “fora da agenda” entre Lula e Seripieri? Bem, os próximos dias ou meses poderão indicar se sim ou não.

Só a educação salva

Educação também é um assunto que interessa a Lula, ainda que confesse e se orgulhe de ser iletrado, não gostar de ler livros e “Filho de uma mãe que nasceu analfabeta”. Nestas horas, imagino como seria nascer já alfabetizado. O presidente é amigo íntimo, há décadas, de um dos maiores empresários do setor, Walfrido dos Mares Guia, dono do grupo Kroton, favorecido com bilhões de reais do Fundo de Financiamento Estudantil (FIES) e do Programa Universidade Para Todos (Prouni).

Ex-ministro do Turismo no primeiro mandato do petista e ex-ministro da Secretaria de Relações Institucionais no segundo mandato, o mega empresário mineiro também costumava emprestar seu avião particular para o amigão presidente. Walfrido foi o maior “doador” pessoa física ao instituto de Lula. Foi acusado pelo Ministério Público Federal no caso do “mensalão tucano”, mas a Justiça, posteriormente, determinou a prescrição de seus supostos crimes – para não variar, não é mesmo?

As relações comprometedoras do presidente com grandes empresários são antigas. Em seu livro “Assassinato de Reputações – Um crime de Estado”, Romeu Tuma Jr., filho do delegado e senador Romeu Tuma, falecido em 2010, escreveu: “Lula era o tipo de agente duplo, ou seja, passava informações privilegiadas ao meu pai sobre movimentações dos sindicalistas e fazia o jogo das montadoras de veículos para conseguir atender às reivindicações tanto dos empresários quanto dos trabalhadores”.

Last but not least

Ter ou manter relações com grandes empresários quando se é um agente público, sobretudo uma grande autoridade, não é crime nem necessariamente indevido, desde que jamais – em tempo algum! – exista o mínimo conflito de interesses. Nestes casos acima, como em tantos outros pelo Brasil, envolvendo, por exemplo, juízes, ministros e réus, obviamente tal conflito resta configurado desde a origem, ou alguém, intelectualmente honesto, pode dizer que o Gilmarpalooza é minimamente decoroso ou 100% republicano?

Sim, é verdade, não é só em Banânia que tal promiscuidade entre público e privado ocorre, mas, convenhamos, somos o suprassumo da matéria, tanto que boa parte dos figurões públicos já nem se preocupa em “esconder o rabo”, haja vista a relativamente recente festa de aniversário de 94 anos de José Sarney, o imortal patriarca do Centrão, onde as mais altas autoridades de Justiça e grandes criminosos condenados se abraçavam e se beijavam em meio a sorrisos e declarações de amor.

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