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Caserna, Executivo e Legislativo já pegaram cana. Menos o Judiciário

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(Mario Sabino, publicado no portal Metrópoles em 15 de dezembro de 2024)

 

Festeja-se que, com a prisão de Braga Netto, um general quatro estrelas tenha sido alcançado pela Judiciário. De fato, desde a redemocratização, é a primeira vez que um militar da mais alta patente vai para a cadeia, no que é ruptura com a cultura de leniência que beneficiava a caserna.

Abro um parêntese. Era necessária a prisão preventiva decretada pela vítima e juiz de Braga Netto, aberração normalizada pelo STF?

Não sou ninguém para discutir direito com magistrados, mas tenho alguma especialidade nos fatos da língua portuguesa — e, assim, causou-me estranheza classificar o general como de “extrema periculosidade”, expressão reservada a criminosos que orbitam a psicopatia.

Será preciso, agora, encontrar outra forma de adjetivar os costumeiros criminosos de extrema periculosidade, como os capos de facções criminosas e serial killers. Talvez eles passem a ser de “extremíssima periculosidade”.

De qualquer jeito, é irônico que um defensor do golpe de 1964 tenha sido definido nos mesmos termos com os quais o regime militar qualificava os esquerdistas da chamada “luta armada”. Todos eram de “extrema periculosidade” — e, desse modo, justificava-se que pudessem ser mortos. Fecho o parêntese.

Temos, então, um general quatro estrelas no xilindró, acusado de golpismo, para demonstrar a força da democracia brasileira. Demonstrar mais uma vez.

Já tivemos dois ex-presidentes da República em cana, Luiz Inácio Lula da Silva e Michel Temer. Em breve, ao que tudo indica, teremos outro: Jair Bolsonaro. A prisão de um quarto, Fernando Collor de Mello, também parece encaminhada. Ou seja, se o roteiro jurídico seguir sem mudanças, dos sete presidentes que o país teve desde a redemocratização, quatro poderão incluir no seu currículo que viram o sol nascer quadrado.

Quanto ao Legislativo, ele deu o seu quinhão prisional com os ex-presidentes da Câmara Eduardo Cunha, João Paulo Cunha, Henrique Eduardo Alves e o ubíquo Michel Temer. O Senado, estranhamente, só teve um ex-presidente na cadeia: Jader Barbalho.

Caserna, Executivo e Legislativo. Faltaria a contribuição do Judiciário. Mas o Judiciário (a sua cúpula, quero dizer) sempre esteve e sempre estará acima de qualquer suspeita. É o único Poder da República composto por verdadeiros democratas.

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