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Contra-manifesto à rede brasileira de “Filósofes Trans”

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(Catarina Rochamonte, publicado no portal O Antagonista em 27 de janeiro de 2025)

 

A ANPOF, Associação Nacional de Pós Graduação em Filosofia, publicou em seu site oficial e em suas redes sociais uma “Carta-manifesto de apresentação da Rede Brasileira de Filósofes Trans”.

Quando me deparo com casos como esse, fico em um dilema: faz sentido confrontar racionalmente, discursivamente, seriamente algo tão estúpido? Chegamos ao cúmulo de ter que contra-argumentar algo que deveria se desfazer pelo seu próprio ridículo?

Infelizmente sim. Isso porque vivemos uma era na qual a estupidez identitária fez cátedra, ganhou departamentos universitários, redações de jornais, secretarias e ministérios, ou seja, ocupou espaço, ganhou poder e agora quer impor a todos a fantasia da qual se nutre.

Não dá pra levar a sério um texto que faz uso da palavra “filósofe”, mas convém refletir quando tal manifesto é recebido com ares de seriedade pela intelligentsia e não com pura chacota, como seria mais natural.

No atual contexto de indigência intelecto moral da filosofia acadêmica brasileira, não podemos nos dar ao luxo de considerar a carta manifesto de “filósofes trans” como algo apenas bizarro. É mais que isso. É um arroubo desvairado da militância identitária que se sabe respaldada por quem detém poder.

Dito isso, vamos ao manifesto.

O texto explica que foi durante o XX Encontro da Anpof (ocorrido em outubro de 2024, no Recife) que eles iniciaram “a mobilização para a construção desta rede, movides pelo desejo coletivo de encontrar as nossas pessoas na comunidade filosófica e, assim, formularmos coletivamente a presença, permanência e intervenção de pessoas trans em todas as áreas e frentes de atuação profissional da formação em filosofia”.

Ou seja, “movides” por seus desejos, os “filósofes” se organizaram em um coletivo a fim de intervir na atuação e na formação profissional em filosofia.

O que intentam é nada menos do que submeter a formação do professor de filosofia à estupidez da ideologia de gênero, subvertendo a própria filosofia, tornando o exercício filosófico cativo de uma ideologia imbecil.

Os insignes filósofes prosseguem: “Por meio desse coletivo, buscamos uma futuridade no fazer filosofia, tanto discutindo políticas afirmativas e de permanência para filósofes trans, travestis e não-bináries, como buscando firmar na comunidade filosófica as práticas, as teorias filosóficas e as epistemologias produzidas por pessoas trans”.

O leitor não atina sobre como seriam tais práticas? Dê um google na performance da travesti Tertuliana Lustosa durante a mesa-redonda “Dissidências de gênero e sexualidades”, promovida pelo Grupo de Pesquisa Epistemologia da Antropologia, Etnologia e Política na UFMA. É dali pra pior.

E o que seriam as tais “epistemologias produzidas por pessoas trans”? Uma miscelânea doida de relativismo permissivo pós-moderno que coloca no liquidificador Foucault, Marcuse, Marquês de Sade, Derrida, Deleuze, Lacan, Judith Butler e bate até dar em algo tão estragado como o ensaio Da filosofia como modo superior de dar o cu, de Paul Beatriz Preciado.

A filosofia acadêmica, aliás, parece ter regredido à fase anal. Nos dias 29, 30 e 31 de janeiro será realizado aqui na Universidade Federal do Ceará (UFC), promovido pelo Centro Acadêmico de Filosofia, o “I colóquio de Gênero e sexualidade: potências éticas e epistêmicas do desconformismo”. A palestra de abertura será realizada pela Prof. Dra. Regiane Collares (UFCA) e Josué Souza (UFC) com o tema “Por um saber anal: epistemologia do cu”.

A rede brasileira de filósofes trans deve ter gozado de satisfação com esse evento da UFC, afinal, é assim que eles buscam “enfrentar pressupostos epistemológicos da ordem cis normativa, europeizada e branca dos ambientes de produção acadêmica e práticas de ensino”.

Vejam que o manifesto dá conta de expor uma realidade: eles realmente já ocuparam amplos espaços na Filosofia acadêmica: “Entendemos que somos muites mais pessoas trans, travestis e não-bináries ocupando espaços em cursos de Graduação, Pós-Graduação, já formadas e atuantes ou não na área”.

Mas eles querem mais. Muito mais. Eles querem cotas, querem fazer cumprir as cotas e querem vigiar e punir quem não pense, não deseje e não fale como eles. Senão vejamos:

“Temos como alguns dos focos iniciais e intermitentes a defesa de cotas trans em cursos de graduação, programas de pós-graduação em Filosofia e concursos de cargos de atuação docente nos ensinos básicos e superiores;[…] além de elaboração de instruções e vigilância sobre o cumprimento das políticas de cotas trans nesses espaços”.

A filosofia acadêmica está sendo engolida pelo identitarismo. E os integrantes da seita identitária são intolerantes, fazem vítimas: excluem, sabotam, cancelam e infernizam a vida de quem não se lhes submete. São autoritários, raivosos, dogmáticos, não admitem contraposição.

Por isso, repito, chega de acharmos tudo isso apenas bizarro. Tornou-se perigoso, prejudicial, nefasto.

A comunidade filosófica precisa reagir. A filosofia sempre foi e ainda haverá de ser a aurora do pensamento, da liberdade, do que há de mais sóbrio e ponderado no espírito humano.

Resgatemos isso enquanto é tempo. Coragem. Sanidade mental e honestidade intelectual valem mais que cargos, títulos e carreira.

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