O setor de alimentos 100% vegetal, os chamados plant-based, está em processo de expansão no mundo todo e tem atraído cada vez mais investimentos. Tanto as chamadas foodtechs, quanto as tradicionais indústrias de alimentos apostam no crescimento deste mercado.
Do lado oposto, o consumo de carne bovina vem caindo ano após ano, pelo menos aqui no Brasil. O IBGE anunciou queda de 11% no abate de bovinos no 3º trimestre deste ano, o que ratifica o que os frigoríficos vêm alertando há alguns meses sobre a ociosidade nas indústrias.
Este processo de mudança de hábito tem inúmeros componentes, que vão desde ideologia e religião até renda, uma vez que o custo das proteínas está aumentando, na contramão do orçamento das famílias. Mas o que tem mesmo chamado a atenção é este novo mercado que vem conquistando investidores e consumidores.
Os produtos ganham espaços de destaque nos supermercados, nas redes de fast food e na bolsa de valores. A Fazenda do Futuro, uma dessas foodtech, triplicou seu valor no mercado financeiro este ano e recentemente captou R$ 300 milhões. O fundador da marca, Marcos Leta, justificou o crescimento na qualidade do produto e na expertise brasileira, acreditem se quiser. Segundo ele, se o Brasil é reconhecido por sua produção de carnes de vaca, por que não produzir carne de planta.
O Marfrig, uma das maiores indústrias frigoríficas do mundo, anunciou o aporte de US$ 100 milhões numa joint venture com a norte-americana ADM para ampliar a produção de plant-based.
Na COP26, tentaram crucificar a pecuária brasileira pelas emissões de metano e estão fazendo as contas sobre o quanto cada bife emite de gases de efeito estufa para sensibilizar os consumidores.
Mas, e se ao invés de culpados, a busca fosse por soluções? Primeiramente não é possível ignorar a importância da carne bovina para o desenvolvimento humano. É a principal fonte de ferro e rica em muitos minerais, está presente em todos os municípios brasileiros e tem forte ligação cultural com a nossa população.
É preciso aperfeiçoar os sistemas de produção, incorporar tecnologias para melhorar os índices produtivos, diminuir a utilização de recursos naturais e reduzir emissões de gases de efeito estufa. Ao poder público, mais do que estabelecer metas, cabe viabilizar a adesão a esses pacotes tecnológicos tão bem estruturados e apresentados na COP26.
Os produtores precisam aceitar que as mudanças vão acontecer, como tantas outras já aconteceram no cardápio mundo afora. Isso é natural no processo evolutivo da sociedade. Sendo assim, mudar deixou de ser um problema, é agora uma oportunidade. Melhor aproveitar antes que seja uma necessidade.
Luciano Vacari é gestor de agronegócios e diretor da Neo Agro Consultoria